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Analfabetismo funcional

A gênese de nossos problemas reside no ensino fundamental, orçamento que pouco chega às salas de aulas, falta remuneração adequada aos professores, incentivo à reciclagem profissional e rigor no ensino.

 “Só a educação liberta.”
(Epicteto)

O índice de reprovação no exame anual da Ordem dos Advogados do Brasil, em São Paulo, tem atingido impressionantes marcas superiores a 80%. Realizado em duas etapas, sendo a primeira composta por oitenta testes de múltipla escolha, na qual apenas dois em cada dez candidatos supera a medíocre nota de corte de 40 acertos, e a segunda, formada por questões discursivas, nas quais erros crassos de conjugação verbal, ortografia, coesão e coerência textuais, entre outros, são identificados, tais resultados ilustram com louvor a decadência do ensino em nosso país.

O crescimento do ensino superior na década de 1990 é inegável. Foram ampliados a abrangência dos cursos, a oferta de vagas e o número de alunos matriculados. Porém, muita quantidade para pouca qualidade. Estamos formando advogados que desconhecem leis, economistas que não sabem matemática financeira, engenheiros com dificuldades em cálculos estruturais. Pseudoprofissionais que irão cercear a liberdade de um cliente, condenar uma empresa à falência, levar um edifício ao chão.

No anseio de se apresentar estatísticas que denotem evolução no sistema educacional, mediante elevação do número de graduados e redução do número de analfabetos, os indicadores mascaram a realidade dos fatos. Assim, basta escrever o nome para ser incluído na categoria dos alfabetizados, ainda que se tenha um vocabulário restrito a umas poucas palavras. Basta um diploma conquistado mais com o suor do trabalho para se pagar as mensalidades ao longo de alguns anos do que pelo conhecimento adquirido, para ser alçado ao time dos “doutores”.

A gênese de nossos problemas reside no ensino fundamental, para o qual há dotação orçamentária prevista constitucionalmente, embora os recursos cheguem minguados às salas de aulas, pois se perdem no decorrer dos descaminhos políticos e burocráticos. Falta remuneração adequada aos professores, falta-lhes incentivo à reciclagem profissional, falta rigor no ensino.

A língua portuguesa é violentada a cada frase pronunciada, a cada expressão escrita. Falamos e escrevemos mal porque lemos pouco. Matemática é rotulada como disciplina difícil, produzindo um exército de cidadãos vilipendiados pela indústria dos juros. História é tida como dispensável, cultivando a brevidade da memória política que nos assola, consequência da incapacidade de se associar fatos. Inglês é introduzido na grade curricular cada vez mais precocemente, porém a iniciativa é inútil haja vista que a metodologia forma mestres no verbo “to be”, após muitos anos de estudo, quando seria desejável o domínio de um vocabulário mínimo e de capacidade de comunicação.

Nossos atuais conflitos éticos e morais, os eventos políticos, a fragilidade econômica, as desigualdades sociais, a subserviência institucional, a crise de identidade cívica, são filhos bastardos de nossa inépcia em reconhecer a relevância da Educação na construção de um projeto de nação. Pena que dá trabalho pensar, elaborar, construir e esperar 20 anos para ver florescerem as sementes.

Tom Coelho Author
Tom Coelho, com formação em Publicidade pela ESPM e Economia pela USP, tem especialização em Marketing e em Qualidade de Vida no Trabalho, além de mestrado em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente. Foi executivo, empresário, secretário geral do IQB/ INMETRO, diretor do Simb/Abrinq e VP da AAPSA. Atualmente é professor em cursos de pós-graduação, conferencista, escritor com artigos publicados em 17 países, diretor da Lyrix Desenvolvimento Humano, da Editora Flor de Liz e do NJE/CIESP, além de Conselheiro do Consocial/FIESP. autor dos livros “Somos Maus Amantes – Reflexões sobre carreira, liderança e comportamento”, “Sete Vidas – Lições para construir seu equilíbrio pessoal e profissional” e coautor de outras cinco obras.
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