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Com o olhar ao Coaching Acadêmico: Como construir aulas que façam sentido?

O professor eficiente é sempre um bom contador de histórias. Não são quaisquer histórias, mas sim, aquelas que trazem a semente de algum ensinamento. São como fábulas: Têm uma moral!

Vamos iniciar a resposta à pergunta título? Trago trechos de um texto que recomendo a leitura completa: “Imagens do conhecimento e ação docente no ensino superior” – publicado no “Caderno de Pedagogia Universitária – USP. n. 5, jun. 2008”. Ele foi escrito pelo professor Nilson José Machado1.

Ele traz a caracterização de quatro ações docentes que são apresentadas por meio dos pares: Tecer significações e mediar relações de significação; mapear relevâncias e construir narrativas fabulosas. Acredito que elas são aplicáveis em toda a formação escolar.

Sobre tecer significações:

[…] a ação de ampliar, estender, refinar, atualizar, reconfigurar – entre outros verbos pertinentes que poderíamos recordar – a rede de significados que os alunos já trazem, valorizando as relações que são percebidas, que estão enraizadas no contexto cultural que vivenciam.

Sobre mediar relações de significado:

[…] não pode haver qualquer receio, por parte do professor, em sugerir ou apresentar vivamente, com todo o entusiasmo novas relações de significado. Não se pode temer o risco de parecer uma invasão ou algum tipo de autoritarismo, é necessário evitar que efetivamente existam resquícios de tais intenções, e para tanto, as palavras-chave são mediação e negociação. Na construção dos significados, portanto, é perfeitamente natural que algumas das relações constitutivas dos nós/feixes sejam apresentadas aos alunos pelo professor. É fundamental, no entanto, que o professor, como um mediador, negocie com os alunos, convencendo-os da relevância das mesmas. Não se pode pretender impor a percepção: É preciso negociar a abertura dos sentidos por parte dos alunos. Na escola, a preocupação dominante tem sido a de ensinar a ler, escrever e contar: Na verdade, é preciso ensinar a observar, a ver, a experimentar, a projetar, como há tanto tempo já registrou Leonardo Da Vinci. O processo de sensibilização para o que se considera relevante, embora ainda não vivenciado ou mesmo percebido, a negociação da abertura, o exercício de tolerância em busca do convencimento, a mediação na construção de um consenso constituem, enfim, uma das competências mais importantes a serem desenvolvidas pelos professores em sua formação.

Sobre mapear relevâncias:

[…] em primeiro lugar, o mapa representa o território, mas não pode ser confundido ou identificado com ele. Não pode ser uma cópia perfeita, com todos os elementos do território, assim como não pode dispensar a presença de qualquer de seus elementos. Entre dois extremos – nada representar ou tudo representar – situa-se a responsabilidade e a competência de quem mapeia. É necessário distinguir o que precisa ser representado daquilo que não se justifica registrar. O exercício dessa competência pode ser instrumentado por algumas medidas concretas. Considera-se, por exemplo, a ideia de escala. Todo mapa é construído segundo alguma escala, que estabelece a relação entre as distâncias representadas no papel e as correspondentes no território. A escolha da escala é decisiva para o discernimento do que vai aparecer ou não na representação: Uma vez convencionada, define-se o limiar do que é ou não perceptível e certos elementos simplesmente deixam de existir. A escala determina, pois, um “esquecimento coerente”.

Sobre construir narrativas fabulosas:

[…] o professor eficiente é sempre um bom contador de histórias. Não são quaisquer histórias, mas sim, aquelas que trazem a semente de algum recado e de algum ensinamento. Em outras palavras, as histórias que o professor conta são como fábulas: Têm uma moral. Trata-se, naturalmente, de uma moral flexível, que pode configurar-se de múltiplas formas, em sintonia com as circunstâncias dos alunos, mas trata-se, sobretudo, de uma moral essencialmente tácita. Não se pode pretender desvelá-la abruptamente, muito menos a priori, quanto mais tacitamente for apreendida, mais facilmente impregnará a rede de significações dos alunos. É preciso contar uma boa história para lograr semear a moral da história. E, decididamente, não funciona dedicar-se apenas à moral, deixando a história em segundo plano, ou dispensando-a como invólucro desnecessário, ou perda de tempo: Como seres humanos, nós não funcionamos assim. Não é possível ensinar-se apenas a moral da história, desprezando-se a história. Um bom professor deverá necessariamente ser um bom contador de histórias: Preparar uma aula é construir uma narrativa pertinente. Em geral, a narrativa funciona como suporte à construção dos significados envolvidos, que constituem a verdadeira moral da história. Há casos, inclusive, em que a história efetivamente ocorrida pode ser muito poluída por elementos fortuitos, por circunstâncias irrelevantes para a questão em foco; ao professor compete, então, depurar a narrativa, construindo uma fábula que sirva a seus propósitos.

Deixo algumas perguntas para refletirmos e também como sugestões aos próximos passos junto à nossa pergunta título:

  1. Em que momento do planejamento escolar essas ações podem ser incorporadas?
  2. Considere a taxonomia de Bloom. Como as ações podem ser utilizadas junto às categorias do domínio cognitivo?
  3. As ações ampliam as possibilidades para que ensino personalizado e por meio das tecnologias da informação e comunicação ocorram. Vamos investigá-las?

1 Fui seu orientando no doutorado, entre 2004 e 2009, período em que convivemos na Faculdade de Educação da USP. No site “http://www.nilsonjosemachado.net/” há informações sobre a extensa produção acadêmica que ele desenvolve.

Leandro Alves da Silva é Gerente de Desenvolvimento Humano Organizacional na First Peopleware e atua desde 2011 em Coaching-Mentoring-Counseling, palestras e treinamentos customizados. Doutor em Educação pela FEUSP e Master Coach pelo BCI.
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