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Desafios dos jovens empreendedores

Discussões sobre desenvolvimento vocacional e decisões que levam à uma profissão entram tardiamente na vida dos jovens. As motivações e caminhos de jovens até uma carreira são tão vastos quanto às opções de carreira disponíveis.

Discussões sobre desenvolvimento vocacional e decisões que levam à uma profissão entram tardiamente na vida dos jovens. Embora diversos modelos que analisam e facilitam escolhas de carreira existam há décadas, eles estão restritos a poucos especialistas do setor de aconselhamento profissional e ao nicho que atendem.

As motivações e caminhos de jovens até uma carreira são tão vastos quanto às opções de carreira disponíveis. Entretanto, exemplos familiares – pais exigindo que filhos sigam sua profissão –, preconceito de gênero – engenharia é coisa de homem –, ou o simples desconhecimento de alternativas, prejudicam a escolha proativa e consciente por uma profissão.

Duas das mais importantes fases do desenvolvimento vocacional estão ligadas ao ensino superior e ao que o ensino superior representa. Uma delas antecede a escolha por um curso. Nessa, jovens tentam responder à pergunta “vou estudar o quê?” A outra fase aparece especialmente durante o último ano de estudos, onde eles e elas tentam responder à questão “o que faço depois de me formar?”

Egressos de um sistema comum

É possível identificar um sistema de ensino superior genérico quando classificamos cursos de acordo com o tipo de estudante que se propõem formar. Alguns poucos programas buscam desenvolver ativistas sociais. Outros investem na formação de pensadores. Raros são aqueles que desenvolvem profissionais com o objetivo de transformar o campo em que atuam. Na prática, portanto, o grande objetivo dos cursos superiores é o desenvolvimento de “substitutos” profissionais.

Observamos esse posicionamento nas campanhas de atração de alunos e em outros materiais de comunicação, que destacam a “colocação no mercado de trabalho.” Em outras palavras, nas fases pré, pós e durante a vida universitária, o objetivo principal dos cursos superiores está ligado à rudimentar inserção no mercado de trabalho. Nesse modelo impera a substituição de profissionais, e ganha a universidade que oferece mais vagas de estágio e emprego. Nele, existe pouca reflexão, ação ou busca por transformação de um campo do conhecimento.

Empreendedorismo de empolgação

Uma minoria que não se contenta em ser apenas substitutos profissionais está perseguindo uma alternativa. No entanto, mesmo considerando avanços recentes, o empreendedorismo como opção de carreira ainda é um modelo extremamente frágil. O processo é custoso, a estrutura de apoio fraca e a recompensa incerta.

Enquanto alguns jovens têm exemplos de empreendedores de sucesso na família, outros desenvolvem a intenção empreendedora baseados em informações incompletas. Afinal, um sistema educacional estruturado para a promoção de vagas de estágio e emprego não apoia com qualidade aqueles que buscam desenvolver uma companhia. Quando isso ocorre, com frequência são utilizadas tecnologias, técnicas e modelos diferentes daqueles apresentados na graduação.

Isso significa que após a tomada de decisão por empreender um negócio próprio, os jovens não têm apoio de redes formais de ensino. Não há cursos com duração de dois ou quatro anos com foco em desenvolvimento de novos negócios. A decisão por aprender a empreender é perseguida geralmente com pouca substância, numa ordem errática e por meio de uma rede desestruturada.

Enquanto existem áreas do conhecimento extremamente organizadas, como cursinhos pré-vestibulares, concursos públicos e exames de idiomas, o empreendedorismo ainda é uma incógnita educacional. Formadores de opinião, decisores e especialistas não encontraram ainda modelos estuturados de ensino de novos negócios que vençam o empreendedorismo de empolgação, sob o risco deste dominar o ecossistema.

É necessário elaborar alternativas estruturadas e validadas que complementem opções de desenvolvimento vocacional dos jovens, com foco no empreendedorismo. Isso deve ir além da apresentação de casos de sucesso que os inspirem e motivem a perseguir um negócio próprio. O objetivo deve ser o desenvolvimento de um modelo que complemente o que a universidade ainda não oferece: um caminho ágil e rápido de entrada no processo empreendedor, e que ofereça caminhos para reflexão e formação de modelos mentais.

Áreas do conhecimento hoje consideradas tradicionais um dia também foram desestruturadas e colocadas em xeque. Atualmente, formam milhões de pessoas em cursos superiores. O caminho para desenvolvimento de programas formais ligados a novos negócios está em andamento. Assim como os demais campos profissionais, um dos principais desafios é estruturar um sistema formal de ensino ao redor de uma rede constituida especialmente por atividades informais e independentes.

Thiago de Carvalho é Mestre em Educação e Ensino de Negócios pela New York University, professor do Insper e da Fundação Getúlio Vargas, Associado Acadêmico no Brasil da Higher Education Academy – agência oficial de capacitação e certificação de docentes do Reino Unido e Country Manager da Clinton Education, onde é pesquisador-líder da metodologia QEMP. Possui experiência nas multinacionais Directv, Telefónica e Santander, onde dirigiu e treinou diretamente equipes de 2 a 350 pessoas. Somada à experiência executiva, empreendeu no ramo varejista de moda, e-commerce e EdTech. Entre reconhecimentos do mercado, foi eleito pela Universität St. Gallen, Suíça, como um dos 100 agentes de mudança empreendedora no mundo. No Insper, foi reconhecido como alumnus destaque. Como mentor, recebeu o prêmio de melhor Plano de Negócios Escrito na edição latino-americana da competição promovida pela University of Texas at Austin. Em Nova Iorque, seu projeto no Startup Weekend Education ganhou o primeiro lugar na divisão impacto social.
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