fbpx

Ensine seu filho a empreender e arque com as consequências!

Escolas têm apostado no empreendedorismo infanto-juvenil, mas como podemos combinar os impulsos naturais do empreendedorismo com o modelo social requerido no processo de aprendizagem?

Olá!

Esta semana estava lendo uma matéria sobre empreendedorismo infanto-juvenil e como as escolas estão apostando nesta nova modalidade de ensino e desenvolvimento de competências para os alunos.

Achei a matéria fantástica, com depoimentos de especialistas em empreendedorismo, psicólogos, coaches e pessoas que entendem muito de sua área de atuação. Contudo, uma pulga do tamanho de uma anta prenhe está atrás da minha não tão grande orelha: Como podemos combinar os impulsos naturais do empreendedorismo com o modelo social requerido no processo de aprendizagem?

Empreendedorismo é uma forma de ver o mundo que requer um conjunto muito singular de competências, e que às vezes são incompatíveis com os comportamentos requeridos de um aprendiz, seja na escola ou na vida. Vamos analisar com um pouco mais de detalhe as competências básicas de um bom empreendedor e, para isso, fiz uma coletânea dos artigos mais publicados em sites e blogs:

Assumir riscos

Concordamos que todo bom empreendedor é uma pessoa capaz de analisar o ambiente, identificar os riscos e decidir quais vai assumir. Isto faz com que às vezes acertamos e outras vezes quebramos a cara feio. Quando lidamos com crianças e jovens, certamente ficamos felizes com o acerto, mas e quando eles quebram a cara feio? São reprovados, batem o carro da família, fazem amizades erradas, tomam decisões erradas?

Estimular a tomada de riscos é fundamental para desenvolver o empreendedorismo e para tanto, pais e responsáveis devem estar prontos para lidar com as consequências quando o risco vira dano. Estimule esta tomada de riscos em doses homeopáticas e vá aumentando a dose.

Identificar oportunidades.

Eis aqui um dos mais difíceis trabalhos de desenvolvimento e equilíbrio. Identificar oportunidades significa em tese, procurar ganhar vantagem em alguma situação. Isto é uma oportunidade. Mas, será que realmente estimulamos nossos jovens a identificar e agarrar as oportunidades “que eles” consideram como tal? Ou estimulamos a ser cordial, pensar nos demais, dar a vez, não levar vantagem e etc.

Quando olhamos para uma turma de escola, amigos do clube ou mesmo um grupo esportivo, do nosso ponto de vista, são amigos e iguais, do ponto de vista de cada um, pode haver rivais. Como estimulamos esta competitividade? Para fechar o quadro, o que fazemos quando a oportunidade é identificada sobre outro membro da família (irmão, irmã ou primo)?

Para desenvolver esta competência é fundamental estabelecer os limites de cada cenário e sim, desenvolver a visão de competitividade dentro dos limites da competição, onde existem adversários, mas nunca inimigos.

Dominar o mercado

Do ponto de vista antropológico, a hierarquia do grupo social está diretamente relacionada com a cronologia de seus membros. Os mais velhos de grupo exercem dominância sobre os mais novos.

Observe que em qualquer família saudável, os mais velhos de idade ou de presença, de maneira geral, possuem mais credibilidade para emitir opiniões ou mesmo definir estratégias e caminhos. Assim, quando um jovem apresenta tendências a dominar seu mercado de atuação (família, escola, clube ou time) ele é imediatamente repreendido, pois todos devem se comportar de acordo com os protocolos sociais estabelecidos.

Para que esta competência seja desenvolvida é fundamental que novos grupos sociais, menores, sejam formados de maneira a permitir que a dominância se estabeleça e até mesmo que ocorra a disputa pelo poder.

Grupos de estudo, jogos de tabuleiro, tarefas domésticas e etc. São bons exemplos.

Agir com independência

Eis aqui outra das armadilhas do desenvolvimento em crianças e jovens. Sabemos que liberdade e responsabilidade andam juntas, certo? Independência é um sentimento pouco apreciado nos ambientes familiares e educacionais. Existe um lado da independência que é realmente apreciado e muito, aquele onde o jovem não precisa de ninguém para executar as tarefas de casa, ou seja, ele não dá trabalho.

Faz a própria cama, cuida de seus pertences, cumpre com suas tarefas, estuda e etc.

O outro lado da independência que envolve coisas como ter seus próprios horários, definir que roupas usar, escolher entre fazer ou não uma atividade, trocar horários (dormir até tarde e estudar de madrugada) estes certamente não são bem vistos.

Perceba que é preciso aprofundar o conceito de independência para que ele exista, mas não fira as regras do sistema social imposto.

Particularmente, apoio movimentos como o escotismo e o voluntariado, pois eles criam condições de independência controladas onde o jovem pode sim definir os caminhos que vai tomar, todavia contido em uma governança social.

Exercer liderança

Crianças são egocêntricas por definição. Seu mundo é restrito e a percepção dos demais é limitada. Isto é um grande problema quando se precisa desenvolver a liderança, um passo em falso e temos um pequeno ditador nas mãos. A partir dos catorze anos, esta visão de mundo passa a ser suavizada e é possível desenvolver esta competência em pequenas doses. Novamente, é preciso definir o cenário social onde esta liderança irá aflorar de maneira a não corromper as regras do sistema social, seja ele a família ou a escola.

O ponto chave da construção da liderança é o exemplo. Sempre, repito sempre, o jovem irá exercer um modelo de liderança copiado de um líder com quem ele convive. Cabe aos pais e professores exercerem lideranças éticas para que sejam influenciadores neste sentido.

Ter tino empresarial

Sempre quando falo deste tema me vem à mente o desenho do Charlie Brown vendendo limonada na barraca do quintal. Neste ponto, acredito que a sociedade brasileira como um todo ainda precisa caminhar muito. Definitivamente, nós não estimulamos nossos filhos a serem comerciantes. Neste país, por décadas ouvimos dizer que os empresários são os vilões e que o povo é explorado e massacrado.

Em minha própria casa ocorreu um fato que ilustra esta dificuldade. Quando meu filho, que hoje tem dezenove anos, tinha pouco mais de dez ele me procurou e fez a seguinte pergunta:

– Pai, por que você explora seus funcionários?

– Como assim, explora? – fiquei pasmo com a pergunta.

– Vejo que a empresa vende milhões por ano e não vejo você pagar milhões em salários.

Entendi que ele havia saído de uma aula de estudos sociais e que o professor tinha nuances vermelhas em suas declarações. Sentei com ele e expliquei o passo a passo do mercado, desde a compra dos bens, o processamento, os impostos os riscos envolvidos e até mesmo, que por vezes não havia lucro, mas os salários eram sagrados, assim como benefícios de educação e saúde. Ao final ele entendeu que o tal tino empresarial é na verdade trabalho duro, ético e que precisa ser remunerado. Pois quando uma empresa quebra, as famílias que dependem dela quebram junto. A partir deste dia, meu filho compreendeu a diferença e hoje, já na universidade, pensa em empreender na área de medicina veterinária.

A melhor forma de desenvolver o tino empresarial é antes de tudo, não demonizar nem o dinheiro e nem o lucro.

Concluindo, é perfeitamente possível estimular crianças e jovens a empreenderem, mas precisamos estar preparados para os reflexos destas competências no ciclo de desenvolvimento deles.

Pense nisso!

Edson Carli Author
Edson Carli é especialista em comportamento humano, com extensa formação em diferentes áreas que abrangem ciências econômicas, marketing, finanças internacionais, antropologia e teologia. Com mais de quarenta anos de vida profissional, atuou como diretor executivo em grandes empresas do Brasil e do mundo, como IBM, KPMG e Grupo Cemex. Desde 2003 está à frente do Grupo Domo Participações onde comanda diferentes negócios nas áreas de consultoria, mídia e educação. Edson ainda atua como conselheiro na gestão de capital humano para diferentes fundos de investimentos em suas investidas. Autor de sete livros, sendo dois deles best sellers internacionais: “Autogestão de Carreira – Você no comando da sua vida”, “Coaching de Carreira – Criando o melhor profissional que se pode ser”, “CARMA – Career And Relationship Management”, “Nut’s Camp – Profissão, caminhos e outras escolhas”, “Inteligência comportamental – A nova fronteira da inteligência emocional”, “Gestão de mudanças aplicada a projetos” (principal literatura sobre o tema nos MBAs do Brasil) e “Shé-Su – Para não esquecer”. Atual CEO da Academia Brasileira de Inteligência comportamental e membro do conselho de administração do Grupo DOMOPAR. No mundo acadêmico coordenou programas de pós-graduação na Universidade Mackenzie, desenvolveu metodologias de behaviorismo junto ao MIT e atuou como professor convidado nas pós-graduações da PUC-RS, FGV, Descomplica e SENAC. Atual patrono do programa de desenvolvimento de carreiras da UNG.
follow me
Neste artigo


Participe da Conversa