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O Treino da Vontade

Um dos maiores desafios ao final de um processo de Coaching é manter vivo no cliente o entusiasmo e a disciplina para executar seu plano de ação. O que fará a diferença nos resultados será a capacidade dele colocar em prática o planejado. E essa capacidade pode ser ampliada. Quer saber como?

Um dos grandes desafios ao final de um processo de Coaching é manter vivo no cliente o entusiasmo e a disciplina para executar seu plano de ação. Obviamente, se o plano de ação estiver pautado em uma dimensão que faz sentido e tem propósito, a motivação surge como um efeito colateral.

Assim, na última sessão do processo, sempre devemos questionar qual o nível de motivação e entusiasmo do cliente para seguir seu plano de ação. Posteriormente, devemos convidar o coachee a escrever sua carta de compromisso. A carta de compromisso nada mais é do que um documento no qual o cliente coloca quais são as ações e atitudes que ele irá adotar para manter seu processo de evolução vivo.

Não é preciso grande força de vontade para fazer coisas prazerosas como divertir-se ou ficar deitado sem fazer nada. Nós temos uma tendência natural para a adaptação hedônica (adaptação natural a acontecimentos considerados positivos e prazerosos). Por isso, a força de vontade pode ser considerada uma virtude porque permite-nos realizar aquilo que naturalmente não é fácil, mas que necessita de grande esforço, dedicação e trabalho da nossa parte.

O que fará a diferença em termos dos resultados finais de um processo de Coaching é a capacidade que o coachee tem de colocar em prática o que desenhou para seu caminho. E essa capacidade pode ser ampliada por meio do treino da vontade. O psiquiatra italiano Roberto Assagioli (fundador da Psicossíntese) nos trouxe grandes contribuições nesse tema.

Um dos pontos importantes da obra de Assagioli foi trazer a “vontade” para a psicologia.  A Psicossíntese avalia o indivíduo como um agente dotado com o poder de escolher, relacionar e gerar mudanças em sua própria personalidade, em outras pessoas, nas circunstâncias. Uma das grandes contribuições de Assagioli foi conceituar os quatro aspectos da vontade.

Muitas vezes avaliamos as pessoas por sua força de vontade, esse é apenas o primeiro aspecto da vontade. Quando a força é dissociada dos demais, ela pode se tornar ineficaz e até mesmo prejudicial à própria pessoa e aos outros. Além da força, precisamos treinar o segundo aspecto da vontade, que é a habilidade para lidar com a nossa vontade. A habilidade consiste na capacidade de obter os resultados desejados com o menor dispêndio possível de energia. É importante lembrar que a vontade é capaz de realizar seus desígnios, contando que não conte somente com a sua força, mas igualmente com a sua habilidade. Isso porque a vontade é uma energia limitada que temos e se não usarmos com habilidade podemos não alcançar o que desejamos.

O terceiro aspecto da vontade é o que Assagioli denominou como “boa vontade”.  Mesmo quando a vontade é dotada de força e habilidade nem sempre é satisfatória. Aprender a escolher o objetivo certo é um aspecto essencial do treinamento da vontade. É necessário, para o bem-estar geral e individual, que a vontade seja boa, ao mesmo tempo, que forte e hábil. É um grande esforço de vontade substituir competição por cooperação. Para o fundador da Psicossíntese, o perigo da vontade desenfreada é a carência de coração, podendo ser fria, severa e mesmo cruel. Por outro lado, o amor destituído de vontade pode tornar a pessoa débil, sentimental, excessivamente emocional, além de ineficaz.

E por último, temos o quarto aspecto da vontade que é a vontade transpessoal. Aqui é onde acontece o campo de relacionamento interno de cada indivíduo, entre a vontade do Self pessoal e a vontade do Self Transpessoal. O anseio pelo transcendente, muitas vezes se manifesta inicialmente como um “vazio existencial” ou crise de sentido.

É aqui que surge a vontade de sentido sinalizada por Viktor Frankl, quando ele dizia que:

O que o ser humano realmente precisa não é um estado livre de tensões, mas antes a busca e a luta por um objetivo que valha a pena, uma tarefa escolhida livremente. O que ele necessita não é a descarga de tensão a qualquer custo, mas antes o desafio de um sentido em potencial à espera de seu cumprimento. O ser humano precisa não de homeostase, mas daquilo que chamo de “noodinâmica”… Ouso dizer que nada no mundo contribui tão efetivamente para a sobrevivência, mesmo nas piores condições, como saber que a vida da gente tem um sentido. Há muita sabedoria nas palavras de Nietzsche: “Quem tem um por que viver pode suportar quase qualquer como”

Assim, quando um processo de Coaching considera esse aspecto da busca de sentido e da vontade transpessoal, a vontade do coachee torna-se muito mais efetiva e duradoura. Devemos sempre ter cuidado com a visão simplista de que a vontade deve ser avaliada apenas por sua força. É preciso questionar se ela é habilidosa, boa e conectada com um propósito.

Taynã Malaspina é graduada em Comunicação Social pela ESPM, com mestrado e doutorado em Psicologia Social pela PUC-SP. No mestrado, estudou a relação entre trabalho, felicidade e sentido para jovens. Atualmente faz parte do núcleo de pesquisa do programa de doutorado em Psicologia Social (PUC-SP) e investiga o tema de projeto de vida. Autora do livro “Geração Y e busca de sentido na modernidade líquida e também do livro “O Trabalho contemporâneo no Brasil: desafios e realidades”. Dentro do mundo organizacional atuou na área de marketing de empresas como: Camargo Corrêa, Amanco e Samsung. Sócia-diretora da Oficina da Estratégia, consultoria especializada em pesquisa de mercado e planejamento estratégico. Coach formada pelo Instituto Ecossocial, com certificação ACC pela International Coach Federation (ICF). Formação em Coaching de Conflitos pelo Instituto Trigon – Entwicklungsberatung. Também participou do workshop de Comunicação Não Violenta no Instituto Ecossocial. Professora no curso de graduação em Administração e Recursos Humanos nas disciplinas de Gestão de Pessoas, Psicologia Aplicada, Ética e Qualidade de Vida. Fundadora do Movimento por um Trabalho com Sentido.
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