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Por que o homem tem sucesso e a mulher, não?

Estudos da Neurociência têm provado que há muito pouca ou quase nenhuma diferença entre o cérebro de uma mulher e de um homem, ou seja, quanto à cognição não há o que se falar sobre homens mais inteligentes ou mais racionais que mulheres. Então por que essa desigualdade?

Se o que entendemos como sucesso está ligado à prosperidade financeira e à ascensão profissional, esta ainda é uma realidade mundial. Na lista das 30 pessoas mais ricas do mundo, segundo a Bloomberg de setembro de 2016, encabeçada por Bill Gates com um patrimônio de U$72.9 bilhões, apenas 3 mulheres aparecem. Em 9º lugar, está a herdeira do grupo WalMart, Christy Walton com uma fortuna de U$36.5 bilhões, seguida de Liliane Bettencourt da L’Oreal com U$31,9 bilhões e em 29º, Jacqueline Mars, herdeira do grupo Mars. No Brasil, a primeira mulher a aparecer na lista dos 30 mais ricos do Brasil ocupa o 17º lugar e é Maria Helena de Moraes Scripilliti, herdeira de Antonio Pereira Ignacio, fundador do grupo Votorantin. Assim como acontece com todas as “minorias” das sociedades mundo a fora, muitas das oportunidades que foram concedidas aos homens e brancos, chegaram tardiamente para as mulheres e negros/as. E só foram conquistadas com movimentos de luta que hoje colhem alguns frutos e caminham para maior igualdade de direitos humanos, principalmente em países ocidentais.

No Brasil, as mulheres só tiveram direito de frequentarem uma escola nos anos de 1827 e só entrarem para uma universidade em 1879. Atá então, lugar de mulher era literalmente na cozinha e no lar. A imagem da mulher bela, recatada e do lar era o que se valorizava e a mulher era excluída até das conversas onde os homens estavam. A mulher era educada para ser “prendada” do lar e servir ao homem sempre com discrição. Apesar de ter travado uma luta que se arrasta por décadas e ter conquistado direitos como o de votar, participar de olimpíadas e até de se alistar ou fazer concursos para funções historicamente ocupadas apenas por homens como juízes e delegados, o Brasil (e o mundo) ouviu o discurso do presidente Michel Temer em que ele diz: “Tenho absoluta convicção, até por formação familiar e por estar ao lado da Marcela, do quanto a mulher faz pela casa, pelo lar. Do que faz pelos filhos. E, se a sociedade de alguma maneira vai bem e os filhos crescem, é porque tiveram uma adequada formação em suas casas e, seguramente, isso quem faz não é o homem, é a mulher […] ela é capaz de indicar os desajustes de preços em supermercados e identificar flutuações econômicas no orçamento doméstico”. A fala do presidente foi criticada não só nas nossas terras, mas também pela imprensa internacional como CNN, El Pais, The New York Times, The Telegraph, The Independent entre outros que ressaltaram o quanto o presidente foi infeliz em sequer reconhecer a importância da data que celebra a luta histórica por igualdade de direitos em todo o planeta.

Um posicionamento machista como do presidente, o comportamento preconceituoso e desrespeitoso com as mulheres estão impregnados na nossa sociedade. Maior que a luta pelos direitos, muitos dos quais ja estão garantidos pela constituição, que foi um grande avanço no que diz respeito à igualdade de direitos humanos, descrita na carta magna de 1988 e que foi uma conquista da luta de movimentos feministas, é a luta cultural. Dia a dia, nos deparamos com ataques e violência contra a mulher das mais variadas formas. Não bastasse a violência fisica, moral, psicológica, patrimonial que muitas mulheres enfrentam dentro de suas próprias casas e de todos os tipos de assédio nos ambientes de trabalho, independentemente de classe social, cultural ou financeira, a mulher é violentada cotidianamente com musicas que fazem dela um objeto de prazer, descartável e disponível que não tem o menor valor, piadas de extremo mal gosto e cunho altamente machistas, propagandas de produtos dos mais variados, e por aí vai…

Mais estarrecedor ainda é o fato de que o machismo não é um “privilégio” dos homens, mas sim de muitas mulheres que replicam as crenças e comportamentos de que a mulher é inferior ao homem e, por isso, deve aceitar ser subjugada, desvalorizada e mal tratada. O machismo que começa na infância quando o menino não pode brincar de casinha nem de boneca e, portanto, reforça o modelo de que homem não pode participar dos afazeres domésticos nem dos cuidados na criação do filho, também proíbe a menina de ganhar um carrinho ou caminhão e reforça a sua impossibilidade de poder atuar em profissões ou tarefas ditas masculinas.

Obviamente que muitos destes paradigmas foram quebrados e muitos pais e mães têm lutado para criar seus filhos com a maior igualdade possível. Obviamente também que muito do comportamento mais culturalmente sem preconceitos de mulheres e homens e da ascensão da mulher em inúmeros segmentos da sociedade se deve às lutas que foram travadas mais fortemente nos anos de 1920, 1960, 1970 quando as mulheres precisavam queimar sutiãs em praça publica ou se fazerem passar por homens para poderem participar como atletas dos jogos olímpicos ou conseguirem algum emprego. Se hoje, podemos frequentar uma faculdade, atuarmos em varias frentes profissionais e até ter o direito de ir e vir é graças aos movimentos feministas, muitos dos quais contavam com a participação e apoio dos homens.

O tempo dos movimentos feministas onde a força física era predominante e impulsionadora da economia ficou para trás com a revolução pós industrial. A maior força de trabalho desde então, e cada vez mais, é a intelectual. Não precisamos mais nos masculinizar porque a economia se move com as cabeças pensantes de pessoas que inovam, que arriscam, que estudam, que se qualificam, que prezam e valorizam a estética, o conforto, o belo, com líderes que reconhecem o valor do ser humano como seu maior ativo e entendem que o cuidado com os seus colaboradores e com o bem- estar físico, emocional e psicológicos destes é o que dá mais retorno e lucro para as empresas.

Estudos da Neurociência têm provado que muito pouca ou quase nenhuma diferença há entre o cérebro de uma mulher ou um homem, ou seja, no que diz respeito à cognição não há que se falar que homens são mais inteligentes ou muito mais racionais que as mulheres, o que justificaria uma maior ascensão financeira, econômica e profissional do homem e de sociedades mais masculinas. Está comprovado que o cérebro humano de homens e mulheres possuem ambos os dois hemisférios, esquerdo e direito. Portanto, se ambos temos o lado racional e o lado emocional do cérebro, usar ou desenvolver mais um lado do que o outro é uma questão muito mais cultural e ambiental do que biológica. Meninos criados por educadores, sejam eles pais, professores ou até lideres, que lhes permitam expressar suas emoções, por exemplo, para os quais nunca se diz que homem não chora ou que chorar é coisa de “mulherzinha” se tornam homens muito mais sensíveis e empáticos. Meninas que são criadas por educadores que lhes dizem que elas podem aprender qualquer coisa, que são permitidas brincar com caminhão ou ajudam o pai a trocar um pneu ou colocar os tijolos do muro da casa, são capazes de desempenhar qualquer função e fazer cálculos muito bem feitos.

O país com maior índice de igualdade no mundo, a Islândia, começou o movimento feminista e foi marcado por enorme protesto no dia 24 de outubro de 1975 quando mais de 25.000 mulheres foram às ruas pelos seus direitos e 90% das mulheres de todo o pais parou numa greve nacional não só nas empresas, mas também dentro de casa quando as mulheres deixaram de cuidar dos afazeres domésticos. Neste dia, não houve sequer comida para os maridos e o país inteiro foi obrigado a reconhecer a importância do trabalho da mulher em que ambiente fosse. O protesto também foi marcado pela luta das mulheres para maior participação na política. Em 1999, mais de um terço do parlamento é representado por mulheres. Hoje, mais de 80% das mulheres da Islândia trabalham fora graças a um programa de cotas, 65% dos universitários são mulheres, mas ainda têm desigualdades para lutar. Apenas, 22% dos gerentes de empresas são mulheres e elas ganham em média 14% menos que os homens.

No Brasil, muito já avançamos. Já somos também em maior número de universitárias, já ascendemos em profissões predominantemente masculinas, já há, embora em números modestos, muito homens que participam ativamente e igualmente nos afazeres domésticos e na criação e cuidados com os filhos. Porém, em recente estudo realizado em 145 países, o Brasil ocupa o vergonhoso 85º lugar no ranking de desigualdade de gênero. Estamos atrás dos nossos vizinhos, Chile, Argentina, Panamá, Uruguai, México e, pelo menos, outros 84 países. A mulher brasileira faz de 2 a 3 jornadas de trabalho diário, incluindo a jornada domestica. Os salários são ainda em média 30% menores do que de homem que exerce a mesma função. Dos assassinatos contra a mulher 33% são categorizados como feminicídio, e mais da metade praticados pelos cônjuges, companheiros ou pais.

O que o Coaching e empreendedorismo têm a ver com isso? Como podemos avançar para ocuparmos os primeiros lugares da igualdade? Acredito que não há outro caminho que não seja o EMPODERAMENTO das mulheres, começando com o empoderamento das meninas com pais que criem seus filhos e filhas com mais igualdade, com escolas que lhes eduquem nas ciências exatas, assim como educa os meninos e os eduquem nas ciências humanas, assim como educam as meninas. Mas, para você mulher que já é adulta, que tem crenças que te limitam e te fazem acreditar que não é capaz, que está com autoestima muito baixa porque tentou uma vida inteira se enquadrar num modelo que não lhe cabe, que ainda não sabe fazer a gestão do tempo compartilhada com seu companheiro ou o pai dos seus filhos, que não sabe negociar seu salário e seu valor porque não reconhece seu valor e não é autoconfiante o suficiente, o Coaching pode te ajudar muito e juntas podemos multiplicar uma nova cultura e novos comportamentos.

E o empreendedorismo? Este deveria estar na grade do ensino fundamental. Meninos e meninas que deveriam estar aprendendo a fazer gestão desde a gestão financeira das suas mesadas. A mentalidade e o comportamento empreendedor não so é uma porta de libertação e independência para muitas mulheres que não têm condições de conseguir um trabalho, seja por nenhuma ou pouca qualificação, seja por falta de estruturas como ter com quem deixar seus filhos. O empreendedorismo é também a formação de uma mentalidade de pessoas que pensam fora da caixa, de pensam e inovam, que não tem medo de arriscar, que são determinadas e obstinadas. Empreendedoras que podem fazer uma grande transformação nas suas vidas e de seus dependentes abrindo seus próprios negócios, mas intra-empreendedoras também que podem contribuir com novos negócios ou produtos nas empresas que trabalham.

Mulher, agradeça às e aos feministas do mundo inteiro e reverencie àquelas e àqueles que chegaram a perder suas vidas para nos deixar um legado. Os movimentos feministas tiveram e ainda têm um papel importantíssimo na evolução da humanidade e de muitos países. Ao contrário do machismo que é o pai de todos os preconceitos, o feminismo é a mâe de todos os movimentos de libertação desde os movimentos trabalhistas contra trabalhos escravos ate os movimentos LGBTQ. Que possamos ainda deixar um legado para que as próximas gerações não precisem mais discutir questões de gênero porque as diferenças não mais existirão e o que prevalecerá serão os direitos iguais para todos os Seres Humanos. Enquanto não chegamos lá, ainda precisamos parar no dia 08 de março em homenagem ao Dia Internacional das Mulheres. Para você, mulher, meu respeito e meu forte abraço.

Cristiane Ferreira é Coach formada pelo IBC – Instituto Brasileiro de Coaching, Professora da Fundação Getúlio Vargas com cadeiras em Liderança, Coaching, Inteligência Emocional, Técnicas de Comunicação e Empreendedorismo, Palestrante, Empresária do setor de Educação desde 1991, Graduada em Letras pela UFMG e Pós-graduada em Linguística Aplicada pela UFMG, MBA em Gestão de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas, Formada em Inglês pela University of New Mexico, EUA, Apresentadora do Programa Sou Múltipla, Fundadora da Associação das Mulheres Empreendedoras de Betim, Ex-Presidente da Câmara Estadual da Mulher Empreendedora da Federaminas (2014/2016), Destaque no Empreendedorismo feminino, recebeu vários prêmios entre eles o “Mulheres Notáveis – Troféu Maria Elvira Salles Ferreira” da ACMinas, troféu Mulher Líder, “Medalha Josefina Bento” da Câmara Municipal de Betim, “Mulher Influente” do MG Turismo e o “Mérito Legislativo do Estado de Minas Gerais”, Comenda Amiga da Cultura da Prefeitura Municipal de Betim.
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