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Você considera o sarcasmo positivo?

Como tudo na vida não se resume a um único e definitivo olhar, podem existir alguns benefícios relacionados ao sarcasmo e o mais comum está ligado à “criatividade”. Como então relacionar o sarcasmo com a criatividade?

Como sempre, a minha motivação é trazer assuntos que estimulem a reflexão dos leitores e, mais ainda, tenham a componente de provocação. Hoje, mantendo esse princípio, quero abordar a questão do sarcasmo. Afinal, mesmo passados dez dias da decisão da Copa do Brasil, ainda há muita especulação sobre a eventual provocação que o artilheiro do Santos (Ricardo Oliveira) fez para com os jogadores do Palmeiras, o que teria irritado além da conta os atletas alviverdes que, depois do título, devolveram a provocação em forma de um sarcasmo similar. Isso é positivo? Ou é negativo?

Como definir o sarcasmo? A palavra vem do grego sarkasmós e significa zombaria, escárnio, um tipo de ironia amarga e provocatória, transformando-se quase num insulto. Há quem veja no sarcasmo uma forma elevada de inteligência que, para muitos especialistas em comunicação, deve ser evitada, pois representa um tipo de desprezo que leva, classicamente, a um conflito. O sarcasmo tipicamente é usado para transmitir, humoristicamente, uma reprovação ou desprezo. Há pesquisas sobre sarcasmo que reforçam haver essa interpretação normalmente crítica e absolutamente negativa.

Porém, como tudo na vida não se resume a uma único e definitivo olhar, também podem existir alguns benefícios relacionados ao sarcasmo sendo que, normalmente, o mais comum está na questão da “criatividade”. O uso de sarcasmo promove o pensamento criativo em ambos os lados envolvidos, ou seja, há um verdadeiro “intercâmbio sarcástico” entre as partes. Em um estudo comentado na revista Scientific American, a pesquisadora Francesca Gino identificou que há grande possibilidade de a menção sarcástica ser mal-interpretada. Participantes precisavam comunicar mensagens sarcásticas ou sérias, alguns por voz e outros por email. Os que receberam as mensagens de voz conseguiram ter melhor interpretação do que aqueles que apenas leram as mesmas palavras escritas.

Em outra pesquisa, Francesca e seus colegas encontraram o lado positivo para a imagem sombria do sarcasmo. Alguns participantes deveriam se envolver em diálogos sarcásticos, sinceros ou neutros, conforme respostas pré-escritas que receberam. Outros eram os destinatários desses diferentes tipos de mensagens e, nada surpreendente, foi possível constatar que os participantes expostos ao sarcasmo relataram muito mais conflito interpessoal do que os demais. Porém, aqueles que estiveram envolvidos nessa conversa sarcástica se saíram melhor para tarefas que exigiam maior criatividade.

Como então relacionar o sarcasmo com a criatividade? O cérebro precisa estruturar o pensamento de forma criativa para entender ou transmitir um comentário sarcástico, algo que pode levar a um novo pensamento ainda mais claro e mais criativo. Para criar ou entender o sarcasmo, deve-se superar a contradição entre os significados literais e reais das expressões sarcásticas. Francesca usa o exemplo de um colega, Adam Galinsky, para melhor explicar o fenômeno. Semanas antes de ele se casar, sua noiva acordou-o à noite, quando ele dormia profundamente, para contar sobre algumas novas ideias que ela teve para a cerimônia. Adam respondeu: “Por que não chamamos Paul McCartney para cantar e Barack Obama para dar uma bênção?”. Certamente, essa noiva precisou fazer uma clara distinção entre o sentido literal do que foi dito pelo futuro marido e o significado sarcástico que ele pretendia.

Enfim, a pesquisa concluiu que o sarcasmo pode ser interpretado de forma negativa e trazer danos aos relacionamentos. Mas também pode gerar benefícios criativos sem criar conflitos, dependendo do grau de confiança que uma pessoa tenha na outro. Dado um mesmo conteúdo e tom, o sarcasmo pode ou não estimular conflitos e tudo dependerá de o quanto o recebedor da mensagem confia (ou não) no emissor. Tendo em conta os riscos e benefícios do sarcasmo, a melhor aposta é manter esse tipo de conversa com que se conhece bem, evitando mexer com os brios dos outros, ainda que se possa estar, potencialmente, ajudando a que eles sejam mais criativos, em algum momento.

Pelo visto, a polêmica entre os jogadores do Santos e do Palmeiras ainda vai durar um bom tempo e, a se acreditar na pesquisa, tudo começa pela falta de confiança que existe entre eles. A torcida curte a polêmica, a mídia idem e, no fim, espera-se que tudo seja visto como criativa e inocente brincadeira!

Mario Divo Author
Mario Divo possui mais de meio século de atividade profissional ininterrupta. Tem grande experiência em ambientes acadêmicos, empresariais e até mesmo na área pública, seja no Brasil ou no exterior, estando agora dedicado à gestão avançada de negócios e de pessoas. Tem Doutorado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) com foco em Gestão de Marcas Globais e tem Mestrado, também pela FGV, com foco nas Dimensões do Sucesso em Coaching (contexto brasileiro). Formação como Master Coach, Mentor e Adviser pelo Instituto Holos. Formação em Coach Executivo e de Negócios pela SBCoaching. Consultor credenciado no diagnóstico meet® (Modular Entreprise Evaluation Tool). Credenciado pela Spectrum Assessments para avaliações de perfil em inteligência emocional e axiologia de competências. Sócio-Diretor e CEO da MDM Assessoria em Negócios, desde 2001. Mentor e colaborador da plataforma Cloud Coaching, desde seu início. Ex-Presidente da Associação Brasileira de Marketing & Negócios, ex-Diretor da Associação Brasileira de Anunciantes e ex-Conselheiro da Câmara Brasileira do Livro. Primeiro brasileiro a ingressar no Global Hall of Fame da Aiesec International, entidade presente em 2400 instituições de ensino superior, voltada ao desenvolvimento de jovens lideranças em todo o mundo.
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