Boas práticas do design instrucional são incorporadas ao desenvolvimento de empreendedores de forma lenta.
Enquanto a área da saúde e as ciências exatas contam com sistemas complexos de avaliação, a área do empreendedorismo ainda dá seus primeiros passos.
Em texto do ano passado, falamos de modo geral sobre o que são assessments (“avaliação”, em inglês). Em resumo, assessments são a “porta de entrada” para programas de ensino, a fase que identifica o estágio inicial de um programa de desenvolvimento.
Nesse artigo, listamos e detalhamos 8 práticas de assessment que podem ser utilizadas por profissionais de consultoria, coaching, T amp;D, gerentes e mentores.
Enquanto você lê o artigo, tente lembrar se você já utilizou algum desses tipos de avaliação.
1) Entrevistas estruturadas
Como o nome diz, são formas rigorosas de avaliação. Essas entrevistas contam com perguntas criadas antecipadamente e avaliadores seguem exatamente as mesmas questões em cada entrevista.
Geralmente são utilizadas por pesquisadores acadêmicos (mestrado ou doutorado), para garantir homogeneidade no levantamento de informação.
Entretanto, é possível criar um questionário padrão para uso em ambiente profissional, como esse formulário estruturado, criado para pré-selecionar empresas que participam da competição de negócios do Insper.
2) Entrevistas semiestruturadas
Do mesmo modo que entrevistas estruturadas, elas partem de uma lista de perguntas. Por outro lado, avaliadores têm liberdade para detalhar pontos que lhe interessam mais e ignorar os que interessam menos.
Esse questionário é um exemplo. Com base nele, investidores podem seguir a estrutura do questionário, mas têm a liberdade de fazer outras perguntas aos empreendedores, conforme os pontos ficam mais ou menos claros.
3) Entrevistas não estruturadas
Esse tipo de avaliação é o mais utilizado por profissionais de aconselhamento profissional (consultores, coaches, mentores e profissionais de T amp;D). Nele, o entrevistador faz perguntas livres ao entrevistado.
Embora o nome seja “não estruturado,” espera-se que o entrevistador tenha repertório e experiência que permitam seguir uma linha mestra ao longo da avaliação.
Enquanto o entrevistador não tem segurança (ou experiência) suficiente, recomenda-se fazer uso das entrevistas semiestruturadas ou de instrumentos (itens 4 e 5, a seguir).
4) Instrumentos baseados em preferências de comportamento
Instrumentos são questionários validados estatisticamente e que apoiam o trabalho de consultores, coaches, mentores, profissionais de T amp;D e gerentes.
Por não apresentarem respostas “certas” ou “erradas,” são diferentes de “testes” (leia mais sobre a diferença entre instrumentos e testes).
Geralmente, instrumentos baseados em preferências de comportamento são utilizados para desenvolvimento pessoal. Entre eles, destaca-se o MBTI e DISC.
5) Instrumentos baseados em competências
Essa é uma categoria de assessment relativamente nova. Diferentemente das avaliações de comportamento (item 4, acima), um assessment baseado em competências contextualiza o que é avaliado.
Ou seja, ao invés de avaliar como uma pessoa se comporta de “maneira geral,” um instrumento baseado em competências utiliza um contexto específico para entender como uma pessoa se comporta.
Enquanto um instrumento com foco em comportamento avalia o quanto alguém é “proativo em sua vida”, um instrumento baseado em competência avalia se uma pessoa é proativa na sua profissão atual ou com seus funcionários, por exemplo.
O assessment QEMP é um dos instrumentos que inaugura essa categoria. Ele apresenta 99 afirmações que avaliam 6 pilares do empreendedorismo, entre eles a prototipação, conhecimento do mercado e perfil empreendedor. Além disso, o QEMP também avalia 4 dimensões pessoais de modo contextual (com foco em um negócio ou novo negócio).
6) Observações formais
Assim como entrevistas, as observações podem ser mais ou menos estruturadas. No caso das observações formais (estruturadas), elas são preparadas com antecedência.
Ou seja, ao monitorar profissionais, avaliadores utilizam formas sofisticadas para capturar e analisar dados, como gravações, softwares para análises quantitativas e qualitativas.
Esse tipo de observação é relativamente raro, pois faz parte do ferramental de pesquisadores acadêmicos, especialmente. Sua variante “observação informal” (item 7) é mais frequente.
7) Observações informais
Quando uma investidora observa um empreendedor apresentando seu negócio, ela o está observando “vender seu projeto ou ideia.”
Embora o tempo todo estejamos observando pessoas e situações, avaliações do tipo “observações informais” precisam ter um objetivo específico, de acordo com a experiência do observador. Caso contrário, não têm função.
É possível utilizar questionários para apoiar observações, tanto formais, quanto informais.
8) Fontes colaterais de avaliação
Geralmente, o “objeto” a ser avaliado é um empreendedor ou uma empreendedora. No entanto, considere coletar informações de pessoas próximas aos empreendedores. Procure também fazer uso de avaliações já realizadas.
Isso inclui avaliar (com entrevistas, questionários e observações) sócios, funcionárias, amigos, chefes, parentes, etc.
Entre avaliações já realizadas, considere histórico escolar, instrumentos já realizados, currículo e até posts em redes sociais.
Conclusão
De modo geral, empreendedores ainda são avaliados informalmente, o que prejudica o desenvolvimento das etapas seguintes do Design Instrucional.
Quanto mais experiente uma consultora, coach, mentor ou profissional de T amp;D, mais ela irá utilizar processos estruturados de avaliação, como instrumentos ou questionários validados.
Os 8 tipos de assessment descritos nesse artigo servem para você identificar os que você utiliza. Eles também servem para apresentar exemplos de formatos que você ainda não utiliza.
A área de aconselhamento de carreiras (career counseling) é pioneira no uso dessas ferramentas. Esperamos que profissionais interessados no desenvolvimento de empreendedores passem a utilizá-las conforme o campo amadurece.
Fonte: Assessment Procedures for Counselors and Helping Professionals, Robert J. Drummond, Carl J. Sheperis, Karyn D. Jones; Capítulo 2: Methods and Sources of Assessment Information
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