“A mais profunda forma de desespero é escolher ser outro que não si mesmo.”
(Soren Kierkegaard)
A busca por sentido é algo inerente do ser humano. Isso é fato, não há muito o que questionar. Contudo, a questão de como encontrar sentido é algo ainda nebuloso. Na visão de Viktor Frankl o sentido nunca pode ser dado, ele deve ser encontrado. Ou seja, não existe receita pronta, é uma jornada para a vida toda.
William Damon, psicólogo e professor da Universidade de Stanford, investigou um dos possíveis caminhos para satisfazer essa nossa sede de sentido. Para Damon, encontramos sentido quando temos um projeto de vida. Para o psicólogo, na maior parte das vezes o que falta à maioria dos jovens é uma dedicação séria a uma atividade ou o interesse em um projeto vital sincero, que pode dar significado à vida. Erik Erikson, com sua teoria psicanalítica, identificou o projeto de vida como força vital individual durante a vida adulta. E Martin Seligman, com a psicologia positiva, nos mostra que o que importa para a felicidade é o comprometimento com algo que a pessoa considera envolvente, desafiador e atraente, especialmente se ela consegue fazer diferença no mundo.
Mas afinal, o que é um projeto de vida?
Na definição de Damon é uma intenção estável e generalizada de alcançar algo que é ao mesmo tempo significativo para o eu e gera consequências no mundo além do eu.
Com intenção estável, o autor se refere a uma meta de longo prazo que vai além de objetivos simples como “passar numa prova” ou “comprar um carro”. E além do eu, envolve a dimensão de fazer alguma diferença no mundo.
E porque isso tudo é importante no processo de Coaching?
Se pensarmos em Coaching, muitas vezes, o que o processo busca é a construção de projetos de vida. Cada individuo é convidado por meio de um processo de reflexão-ação a identificar seu “porquê”. E com isso, desenhar metas de longo prazo com as quais se sente motivado a se comprometer.
Uma das formas mais comuns de nos conectarmos com projetos vitais é por meio do nosso trabalho. Quando o trabalho assume a dimensão de vocação, ele se torna um projeto vital. Para Damon, a vocação requer:
- Uma consciência realista das próprias habilidades;
- Interesse em saber como essas habilidades podem ir ao encontro de alguma das necessidades do mundo;
- Um sentimento de alegria ao utilizar as próprias habilidades dentro das necessidades do mundo.
Assim, a maior parte dos processos de Coaching envolve um mapeamento das habilidades e competências individuais e uma exploração das oportunidades que estão no mundo.
Um outro ponto interessante é que Damon identificou 4 perfis de jovens: os desengajados, os sonhadores, os superficiais e os que têm projetos de vida. Os desengajados são aqueles que não manifestam nenhum interesse e comprometimento por um objetivo de longo prazo. Os sonhadores são aqueles com ideias idealistas, mas que fizeram pouco ou nada em prática para colocá-las no mundo. O superficiais se engajam em atividades com um mínimo de propósito e mudam constantemente de objetivo ao longo do tempo. Os que têm projetos vitais são aqueles que encontraram algo significativo para se dedicar.
É muito difícil um perfil desengajado buscar um processo de Coaching. Mas é comum encontrarmos sonhadores e superficiais buscando Coaching. E cabe ao coach, de uma forma não diretiva, estimular a prática e o movimento para os sonhadores. Questionar: o que te impede de colocar esse sonho no mundo? Qual o primeiro passo que você pode dar? Para os superficiais cabe ao coach, tentar levá-los a um entendimento mais profundo das suas ações e escolhas. Questionar: qual o significado disso?
Nessa busca humana por sentido, a construção de projetos vitais certamente é um aliado. E ai, você já parou para se perguntar se tem um projeto de vida para chamar de “seu”? Ou segue um projeto que te deram? Você é autor ou ator da sua própria vida? Sem dúvida, uma das tarefas mais importantes ao longo da nossa história é identificarmos e nos dedicarmos a um projeto de vida. Caso contrário, corremos o risco de viver com uma sensação constante de vazio, pois como dizia Kierkegaard: “A mais profunda forma de desespero é escolher ser outro que não si mesmo.”
Qual a sua escolha?
Participe da Conversa