“Política: arte de conciliar os interesses próprios, fingindo conciliar os alheios.”
(Menotti del Picchia)
Nosso país está enfermo. Infelizmente não se trata de uma gripe ou de uma doença passageira. Fomos acometidos por um câncer, o qual não se encontra em estágio inicial, pois está em fase de metástase. Este câncer é nosso sistema político.
Há anos somos vilipendiados por estes seres eleitos por um povo carente de consciência e educação. Salvo raríssimas exceções, o que vemos é uma legião de algozes desprovidos de caráter, voltados exclusivamente a interesses pessoais contrariando os princípios básicos que deveriam norteá-los.
Em mais um ano de eleições, seria desejável que os cidadãos desenvolvessem um mínimo de percepção sobre os fatos. Temos 5.570 municípios no Brasil. Isso significa 5.570 prefeitos que serão eleitos no final deste ano, alguns deles em municípios com menos de mil habitantes! Como se não bastasse, estamos falando também em 5.570 câmaras municipais compostas por nove a 55 vereadores, de acordo com a população local.
Agora, acrescente a estes dados os inúmeros assessores parlamentares (grande parte com vinculação política, nomeados como contrapartida pelo apoio oferecido durante a campanha) e as diversas secretarias criadas para igualmente atender aos jogos de interesses formatados durante a pré-eleição – não é à toa que muitos são denominados “cargos comissionados”. Como se não bastasse, some os variados benefícios tais como veículos, combustível e reembolso de despesas diversas e tente imaginar o custo de manutenção desta estrutura.
Evidentemente, esta mesma análise estende-se a deputados e senadores – em proporção ainda mais elevada. Em qualquer uma destas instâncias, a pergunta que devemos nos fazer é a mesma: qual a contrapartida oferecida por esta classe política?
Para entender como este câncer se propaga, observe o que estamos assistindo em relação ao governo provisório recém empossado. Mais do que a queda de ministros, atente para o fato de que a grande maioria dos nomeados apresentam algum tipo de vinculação política, quando deveriam ter competência técnica para o exercício de suas respectivas funções. Para exemplificar, o que justifica a nomeação de Ricardo Barros para o Ministério da Saúde em lugar do médico Raul Cutait, que fora cogitado para assumir a pasta e que seguramente exerceria com dignidade e competência a função em virtude de sua experiência e atuação?
Para completar, somos um povo sem memória. O Renan Calheiros de hoje é o mesmo que quase foi cassado em 2007. É difícil acreditar, compreender e aceitar que Fernando Collor seja senador, Paulo Maluf seja deputado federal, Eduardo Cunha tenha a possibilidade de ser reconduzido.
É necessária e urgente uma ampla reforma política. O postulante a atuar no setor público, seja no legislativo ou no executivo, deveria ser alguém vocacionado a trabalhar pelo desenvolvimento do país e pela redução das desigualdades. Deveria ser alguém disposto a receber um salário digno, porém desprovido de benefícios que apenas maculam e distorcem a função. Contudo, é doloroso imaginar que tal reforma depende exatamente daqueles que hoje conduzem o processo político neste país.
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