Há muita gente que não acredita em pesquisas, principalmente quando elas apontam tendências de comportamento ou mesmo perspectivas de mobilização social. Muitos são os estudos que buscam orientar as pessoas em várias linhas de tomada de decisão, como por exemplo, investimentos, desenvolvimento de produtos e serviços, campanhas publicitárias ou de marketing, e vai daí em frente. Pessoalmente, e os leitores são minhas testemunhas, eu não só respeito como divulgo muitas informações lastreadas na ciência.
De vez em quando, até como interesse pessoal, eu guardo resultados divulgados em um momento para, em momento seguinte, avaliar como foi o comportamento real comparado ao esperado pelo pesquisador. E hoje faço isso aqui a partir de uma pesquisa da SBC – Sociedade Brasileira de Coaching, desenvolvida no final do ano passado e liderada pela Flora Victória, que perguntava: A sua empresa está preparada para uma crise?
Antes de comentar o resultado e provocar um debate, quero lembrar que, no final do ano passado, já havia uma discussão ampla e aberta sobre uma crise que impactava a economia nacional, a par da crise política com a perspectiva de impeachment presidencial. Juntando essas duas crises, com as empresas reclamando dos resultados e da frequente oscilação em indicadores do mercado de capitais e câmbio, entre outros, vê-se que a pergunta fazia sentido.
Pois bem, 30% dos respondentes afirmavam que a sua empresa não estava despreparada (em vários níveis) para enfrentar uma crise. Por outro lado, 38% afirmavam que a sua empresa estava preparada (também em vários níveis). No meio-termo, em cima do muro da dúvida, 32% acreditavam que “mais ou menos” ficava sendo a melhor resposta. Na média, em uma escala de 1 a 5, o nível 3 acabou sendo a métrica determinante como resumo do que as pessoas consideraram a respeito da pergunta apresentada.
Como uma estatística pode ser avaliada sob várias perspectivas, vou aqui trazer as minhas. O ambiente empresarial requer lideranças que transmitam aos seus quadros de colaboradores a imagem de segurança, direção e visão clara sobre caminhos e futuro. Uma empresa em que os colaboradores se sentem frágeis perante qualquer situação de contexto está fadada ao fracasso. Por despreparo, falta de confiança e falta de informação, a sustentabilidade de uma empresa pode ser destruída pelas inconstâncias e a falta de determinação de suas lideranças.
Se tomarmos os números pela perspectiva de que 62% dos entrevistados não tinham, ao final de 2015, visão positiva sobre a capacidade de a empresa em que trabalham enfrentar uma crise que já se mostrava viva, a tendência é um esmorecimento na maneira de encarar o dia a dia e de lutar as batalhas diárias que o negócio tem com concorrentes. Dos pesquisados, só 2% tinham absoluta e firme convicção de que a empresa estava preparada para uma crise.
Um ambiente de dúvida é onde se cria condições para a perda de valores, crenças e motivação por conta de lideranças inócuas. Como um profissional em relacionamento direto com o mercado de negócios, percebo uma dicotomia preocupante nas empresas: de um lado há lideranças despreparadas e que simulam controle sobre as atividades; de outro há colaboradores que querem salvar a pele por verem os líderes como fracos e incompetentes.
Estou sendo duro nas palavras? Pode ser, mas antes isso do que esconder uma realidade que muita gente comenta nas sombras e cantos das empresas, pelas costas dos líderes.
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