Férias é um tempo necessário e maravilhoso, que cada pessoa deve requerer, planejar e usufruir intensamente, da melhor forma possível. Esse é um tempo passível de se sair da rotina e realizar coisas que normalmente não se encaixam no rol de obrigações, responsabilidades, pressões do mercado e das atribuições da profissão. Inviável para o executivo de uma empresa ou mesmo um funcionário comum de uma organização usufruir de uma caminhada à beira mar, numa tarde de sol, no meio da semana, exceto em um período de férias ou feriado prolongado. E desejar esse tipo de vivência é saudável, natural e necessário. O ponto nevrálgico nessa questão é quando, ao final de um período de ócio, o retorno à rotina torna-se um peso que se converge à síndrome pós-férias.
Muitos estudos internacionais têm revelado o motivo da depressão pós-férias e apontam condições alarmantes. Embora existam diferenças culturais entre o Brasil e a Europa, os índices apontados em um trabalho conduzido pela International Stress Management Association (Isma), organização internacional especializada no estudo do estresse, mostraram que 23% dos brasileiros têm a chamada depressão pós-férias, também conhecida como síndrome pós-férias. Colocar este índice de trabalhadores que hoje sofrem desse tipo de “distúrbio” em números absolutos ajuda a entender a abrangência desse mal. Segundo dados do Ministério do Trabalho Social (MTPS), o Brasil fechou 2015 com 22,5 milhões de pessoas empregadas formalmente. Isso cria um exército de funcionários que sofre de depressão pós-férias com mais de 9 milhões de pessoas. Com uma relativa diferença para mais ou para menos, creio que não é muito diferente do que acontece na Europa, já que tenho observado que as necessidades dos meus clientes corporativos europeus e brasileiros são semelhantes… E as angústias, dores e pressões sofridas por gestores, líderes e colaboradores, idem.
Como pesquisadora comportamental, observo que a síndrome pós-férias está intimamente relacionada à falta de satisfação profissional e à falta de um propósito. É comum notar pessoas que recorrem às férias quando a vida profissional não caminha bem, porém, com o descanso, a percepção do problema em geral se acentua e pode gerar entraves sérios. Mudar e empreender novos caminhos tem sido a alternativa mais madura para aqueles que vencem a barreira do medo e assumem novos posicionamentos. Outro requisito é a definição de metas claras e relevantes em plena turbulência. Esse é um princípio básico da resiliência. Os estudos no campo da psicologia mostram que é muito mais fácil evitar ou sair de uma crise quando se tem algo pelo que valha a pena resistir.
Essa é a principal teoria do psiquiatra austríaco Vitor Frankl, considerado o pai dos estudos sobre resiliência. Sua tese foi quase toda elaborada durante o tempo em que esteve preso em Auschwitz, o sinistro campo de concentração construído pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Para se manter sob controle ante assassinatos em massa, torturas e outras cenas horrendas, Frankl concentrava seus pensamentos em um único e maior desejo: reencontrar a mulher e seus pais. No seu livro A Busca do Sentido da Vida, o médico argumenta que a chave interpretativa do ser humano é a busca de um sentido – algo que está fora de si mesmo, como um amor, um projeto.
Quando trago o conceito do bem-estar e da felicidade à realidade das organizações observo que, de alguma forma, esse método de gerenciamento já faz parte do universo dos profissionais e negócios bem-sucedidos. Quando os profissionais têm seus talentos e esforços reconhecidos, eles se empenham em fazer ainda melhor. A tendência mundial é unir trabalho e satisfação, porque é fato comprovado que a produtividade aumenta em proporção direta à satisfação das pessoas envolvidas, uma condição que está associada a uma pessoa feliz e só traz benefícios: lucro, reconhecimento, realização, tranquilidade, alegria e bem-estar. O período de férias é necessário, porém, a volta ao trabalho para quem tem um propósito maior que as “simples” tarefas do dia a dia, embora tenhamos que considerar a alteração do ritmo, é sempre uma continuidade do que se tem em vista para a vida. Saber o que é importante para seu propósito de vida direciona as escolhas que uma pessoa faz em todas as áreas de sua vida.
É por esse motivo que nas minhas palestras a principal orientação é que as organizações de todos os portes e setores econômicos é que invistam em seus colaboradores para que eles aprendam a ser felizes. Ainda mais em tempos de crise e ajustes econômicos, manter uma equipe de colaboradores feliz, comprometida e saudável é o investimento mais inteligente e ponderado estratégica e economicamente falando.
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