O médico canadense Gabor Maté é um especialista em doenças terminais, especialmente drogadição e HIV, e autor de livros que tratam de deficit de atenção, estresse, desordem e doenças crônicas. Em sua palestra para o TED Talk, intitulada “O poder do vício e vício pelo poder”, ele tratou de um tema que tanto me interessa e sobre o qual tenho escrito, estudado, palestrado e dado cursos: o empoderamento.
Empoderamento é uma palavra que ainda não encontramos nos dicionários brasileiros, vem de Empowerment do inglês, e não raras são as vezes que percebo as pessoas virarem a cara ou não entenderem exatamente do que isso se trata. Pior fica a cara quando falamos de empoderamento feminino e os comentários passam sempre para uma certa ridicularização do feminismo. “La vem essa conversa de feminismo”, dizem homens e mulheres que ainda acham que feministas são mulheres que querem se vestir e se comportar como homens. Mais assustador ainda é quando os comentários são do tipo, “lugar de mulher é na cozinha”, ou mais sério e preocupante, quando mesmo diante de um caso de estupro coletivo, várias pessoas tentam justificar o ato no comportamento da mulher estuprada que é julgada pelas roupas que veste ou pela liberdade que tem. Neste sentido, entendo que o empoderamento feminino deve ser a palavra de honra do momento e um coletivo entendimento de que nos empoderaremos quando potencializarmos as competências das mulheres, reconhecendo as nossas diferenças e não repetindo um modelo masculino que não nos cabe.
Na sua fala, o Dr. Maté, diz que “Buda e Jesus foram, ambos, tentados e lhes oferecido o poder. Ambos disseram NÃO porque ambos tinham o poder dentro deles.” Definitivamente, a melhor definição de poder com a qual me deparei e da qual compartilho e acredito desde que comecei a trabalhar com empoderamento feminino. Sócrates dizia, “Conheça a ti mesmo”, ainda um aforismo grego e uma das máximas de Delfos, é na verdade um convite para autoconhecimento numa viagem para o seu eu interior e para que passemos a nos ocupar mais de nós mesmos do que das riquezas, da fama ou do poder como o conhecemos e que está ligado muito mais à capacidade de influenciar através da manipulação moral, intelectual ou econômica e opressão do outro.
Na perspectiva do autoconhecimento, o poder é conquistado quando damos seiva e alimento às raízes que nos sustentam e nos fazem resistir às tempestades, tentações, tribulações que são inerentes à vida de qualquer ser. A diferença entre quem se empodera a partir de um profundo e continuo exercício de potencializar suas virtudes, enxergando as oportunidades que poderá abraçar ao transformar suas fraquezas e limitações em forças e aquele que tem o “vicio pelo poder” a qualquer preço movido por vaidade, ganâncias e uma perversa e desenfreada ambição é o que dará ao primeiro a paz, a felicidade e a sustentabilidade que lhe permitirá fazer as melhores e mais assertivas escolhas. Neste sentido, o empoderamento é sistêmico uma vez que se faz necessária a busca do equilíbrio em todas as áreas de nossas vidas e o trabalho de Coaching é um grande aliado na condução do processo de autoconhecimento. A pessoa verdadeiramente empoderada é aquela que consegue determinar para si mesma quais são os seus padrões e compreende quais são a sua essência e valores.
Na roda da vida, que nos move em direção à plenitude, devemos avaliar, em primeiro lugar, como estão nossas saúdes física, emocional, intelectual, espiritual, financeira, dos nossos relacionamentos, se estamos satisfeitos ou se almejamos algo diferente e o que fazer para atingirmos o patamar que desejamos. Em tempos de redes sociais onde as pessoas se apresentam lindas, ricas, amadas, realizadas e felizes e onde há uma completa e perversa padronização de modelos, na grande maioria das vezes, fictícios que mascaram a realidade e ao contrário de empoderar enfraquecem e até mutilam as pessoas, é urgente que busquemos nos conhecer na nossa essência e no que podemos e queremos ser. Empoderamento está diretamente ligado a uma elevada autoestima, na qual eu me reconheço como única e diferente com virtudes e belezas próprias que não me fazem melhor nem pior que ninguém.
Empoderamento é um processo de autorresponsabilidade e controle sobre nossas vidas. Ter poder é não transferir para o outro a responsabilidade sobre a sua felicidade ou bem-estar, mas assumir a autoria da história que você escreve. Empoderar-se é ter controle financeiro, por exemplo, que lhe garanta tranquilidade para levar a vida que deseja levar; é ter controle emocional que lhe permita enfrentar grandes desafios com equilíbrio, sem desesperos ou descontroles; é cuidar da sua saúde física que lhe garanta a disposição e independência necessárias para realizar as tarefas que precisa ou deseja; é perceber qual é o seu papel em cada um dos seus relacionamentos e torná-los cada vez mais saudáveis e prazerosos dependendo do quanto você se ama, se conhece e se respeita em primeiro lugar sem transferir para o outro a responsabilidade de lhe fazer feliz.
Enquanto olharmos no espelho e perguntarmos a ele: “existe alguém mais bela do que eu”, ele sempre dirá que sim. Sempre haverá uma branca de neve que nos cegará e não nos permitirá enxergar a nossa verdadeira beleza ou uma bruxa que irá nos torturar e nos fazer acreditar que não merecemos o melhor. Empoderar é olhar para o espelho que nos revela a mulher mais bela que somos e podemos ser. É termos a coragem de dizer e acreditar que somos poderosas porque temos o conhecimento de quem somos, onde estamos e uma certa clareza de onde, como, com quem queremos estar. Empodere-se e não tenha medo de dizer: EU SOU PODEROSA! Porque você tem tudo a ver com isso.
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