Caro leitor, meu texto desta vez será sobre Espiritualidade. Trata-se de um tema mais abstrato e, portanto, mais difícil ou mesmo impossível de expressar em palavras. Seria bem mais fácil escrever sobre automóveis, transações internacionais, futebol ou do PIB brasileiro. Mas enfim, vou me entregar a esta tarefa!
Ministro cursos de Formação em Mentoring e Coaching Humanizado ISOR® onde eu dou um cunho “espiritualista” aos conteúdos, como fazer o bem, ter uma vida bondosa, não julgar, beneficiar pessoas em diferentes situações de vida, amar, ter compaixão, paciência, estas coisas. Nasci numa família religiosa e pratiquei a religião por muito tempo. Por um desígnio do destino, encontrei mestres espirituais dos quais recebi muitos ensinamentos precisos e muitas bênçãos.
Não quero me referir aqui neste artigo sobre religiões, crenças ou seitas, pois estas geralmente têm pouca espiritualidade, mas tem muita religiosidade, e ambos – espiritualidade e religiosidade – são aspectos muito diferentes entre si. A religião segue ritos, dogmas ou crenças e interpretações próprias de textos sagrados. A religião nos faz crer em algo, seguir esta crença e talvez esperar uma recompensa no futuro.
A espiritualidade a nada segue, a nada adora e a nada obriga, pois a espiritualidade é o reconhecimento e vivência da presença da liberdade plena e infinita dentro de nós mesmos. Ou seja: a presença divina manifesta em nós permanentemente.
Vejamos: nós surgimos num mundo dinâmico, onde tudo o que você possa imaginar está se movimentando em forma de pulsações de expansão e de recolhimento, desde as partículas subatômicas até os fantásticos aglomerados galácticos. Tudo surge a partir de uma determinada causa que gera uma consequência, que se torna nova causa, gerando nova consequência, e assim por diante, infinitamente, se tornando uma originação interdependente. A massa, nosso elemento físico formado de átomos e moléculas surgiu a partir da enorme quantidade de energia que se comprimiu na grande explosão do big-bang, onde se formaram as diferentes formas de matéria ou poeira estelar que por efeito da gravidade e atração entre corpos acabou formando as galáxias, as estrelas e planetas, e tudo o que há de materialidade em todo Universo. Em uma analogia podemos comparar a energia como sendo a água, que se torna gelo – que representa a matéria.
Um fato ou um evento tem muitas causas e condições. Para construirmos uma casa, por exemplo, precisamos do local, do projeto, de mão de obra, de cal, cimento, tijolos, ferro, madeira, caixa de água, canos, torneiras, e outros materiais. Da mesma forma, para que o Ser Humano possa existir, é necessária a concepção, o nascimento, a consciência, o cérebro, o ar para respirar, calor ou energia para se manter vivo, o corpo para se manifestar fisicamente, do espaço para poder estar presente neste planeta e se tornar uma auto identidade. Tudo isto nos compõe como uma sinfonia de movimentos em perfeita harmonia.
Na realidade somos uma expressão integrante deste Todo Dinâmico, entendendo que sempre estivemos em harmonia com este Todo. Nunca nada nos separou e nunca poderá ser separado, por mais que tentemos. Há uma constante e perfeita inseparabilidade de nós com o Todo. Uma verdadeira dança cósmica e universal, em perfeita ordem e em eterna paz, onde na realidade tudo é uma coisa só, o que podemos chamar de UNO, ou seja tudo é uma expressão do UNO ou do UM.
Uma vez entendido isto, podemos dizer que a Espiritualidade é esta busca do que já temos ou já somos, mas que não vemos e/ou não reconhecemos. Esta sensação de separação ilusória, de isolamento é a origem de todos nossos sofrimentos e conflitos. Criamos uma identidade que denominamos de “eu” que quer alcançar algo.
Espiritualidade, portanto, não pode ser conquistada ou alcançada, já está pronta dentro de nós desde sempre. Enquanto quisermos alcançar, estaremos no caminho da confusão. Seja qual for o caminho pelo qual você se enrede para alcançar a felicidade plena, (ou então trocando as palavras, a espiritualidade) você não atingirá o objetivo, apenas ficará rodando em círculos.
Então, o grande segredo é ficarmos quietos e não querer alcançar nada. Só neste estado a espiritualidade plena poderá se manifestar em nós de uma forma livre. Em outras palavras, a felicidade plena do coração não deve ser procurada em lugar algum. Basta reconhecê-la já pronta e plena dentro de nós mesmos.
Então, resumindo, a espiritualidade profunda já está nós, e somos uma expressão desta liberdade. Mas enquanto não percebermos esta plenitude, podemos eventualmente passar a buscá-la na espiritualidade comum, quando passamos a seguir uma religião ou cultos, fazermos promessas ou devoções, retiros espirituais, cantarmos louvores, devocionais, peregrinações, recitar mantras.
Esta espiritualidade comum tem, eventualmente, o poder de melhorar a mente, termos uma vida mais alegre, termos menos problemas, mas estas serão sempre condições temporárias, mas que não nos conduzirão à espiritualidade profunda e permanente. Entendamos que a espiritualidade profunda já está presente em nós, não precisa ser conquistada e que não se manifestará como resultado de algum cultivo ou atitudes da espiritualidade comum.
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