Claro que na história ocorreram mais de uma revolução no tempo, como por exemplo, a Revolução Industrial. Mas chegamos num nível de transformação que a consequência vai ao pessoal, ao íntimo de cada indivíduo e não só na extensão de possibilitar a existência de maior oferta de produtos. O nível alcançado deixou explicito, libertou da jaula uma característica inerente ao ser humano: desconforto incontrolável causado pelo ócio.
Não qualquer ócio. Aquele ócio que abre a fresta necessária para entrar em contato com você mesmo. O ócio que te permite ver como sua louça está lavada e guardada, mas que você mesmo está uma bagunça, ou melhor, que você é uma bagunça. Esse desconforto causa a impaciência à espera, pois é nela que estamos em ócio, logo entramos em contato conosco.
Com a Internet essa espera saltou para a casa de vinte minutos. Sabe aqueles vinte ou quinze minutos que você espera o garçom trazer o seu pedido e você já fica nervoso porque está demorando muito? Ou aqueles quinze minutos em uma fila. Para muitos eu estou colocando minutos demais. Só cinco minutos em uma fila irrita, ou se passar de dez minutos e o seu pedido não chegar o serviço do lugar é ruim e você não voltará mais àquele lugar que te faz perder tempo. É perda de tempo mesmo, ou é o tempo necessário para um grande dar-se conta? Dar-se conta da sociedade que o cerca e o seu papel nela, dar-se conta do seu comportamento, se ele é convergente ou divergente de suas palavras. Ou seja, dar-se conta que não importa a sua idade e a situação que você se encontra você sempre estará em um processo de aprendizagem. Logo a possibilidade do erro é inevitavelmente presente e essa possibilidade te deixa inseguro, receoso.
A revolução no tempo feita pela Internet também nos pressiona uma necessidade de produção constante. Fazendo-nos acreditar que só somos felizes se somos respeitados e admirados pelos outros graças à nossa produção. Pois quando produzimos alguma coisa usamos o tempo adequadamente. Ou seja, a revolução do tempo marcada pela Internet também deixou explicito o quanto ainda somos superficiais em relação à reflexão de sistemas sociais vividos por nós. Não pensamos muito se o sistema de produção e se a sociedade em que fazemos parte e colaboramos com sua construção e perpetuação nos faz bem ou mal. Se nos deixa felizes ou infelizes.
Encerro dizendo que não sou contra a Internet. Muito pelo contrário. Apenas quis mostrar dois pontos de reflexão proporcionados pela Internet e sua revolução no tempo: “cabeça vazia é mesmo oficina do diabo?” e “que se foi permitido ao Homem tantas coisas conhecer é melhor que todos saibam o que pode acontecer”.
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