“Quase todos os homens morrem de seus remédios, não de suas doenças.” (Molière)
Pode ser por decorrência de uma mudança climática, excesso de trabalho, estresse emocional, descuido ou por outros fatores, invariavelmente você será acometido, em algum momento, por uma enfermidade qualquer. Assim, com a saúde abalada, a prostração pode lhe visitar. Os dias tornam-se longos e improdutivos, e você se sente angustiado, à espera de recobrar sua integridade.
Num primeiro momento, é natural que se recorra à automedicação. Um antitérmico para debelar a febre, um analgésico para aliviar a dor. Porém, se os sintomas persistirem, você precisa recorrer ao atendimento médico. E aí, os problemas se amplificam…
A maioria dos prontos-socorros parecem linhas de produção no atendimento aos pacientes, além de uma evidente fonte para novas enfermidades. Retire sua senha, e aguarde o atendimento. Preencha sua ficha, e aguarde a triagem. Agora, paciência para ser recebido pelo médico, cerca de uma hora depois.
Em um PS, os plantonistas são quase sempre residentes, com CRM emitido há dois ou três anos. A anamnese é superficial. Exames básicos que deveriam ser solicitados são negligenciados porque isso representaria ônus para o hospital e o convênio médico, além de maior tempo para atendimento. O negócio é despachar logo o paciente para dar espaço ao próximo na fila. Assim, o diagnóstico é falho, inconclusivo.
Dez minutos depois, receituário nas mãos, você vai a uma farmácia. Lá, identifica que o médico prescreveu, por exemplo, duas drágeas por dia ao longo de uma semana, totalizando 14 comprimidos. Porém, o medicamento é vendido em embalagem com dez unidades, o que lhe obriga a adquirir duas caixas, sabendo que sobrará medicamento – o qual será utilizado, no futuro, para alimentar o hábito da automedicação. Pergunto-me: onde está o erro por trás disso? Na prescrição do especialista, equivocada, ou na opção do laboratório que propositadamente comercializa o produto em quantidade incompatível com a posologia recomendada, tendo a anuência da Anvisa? Não deveria haver uma sintonia entre os mesmos?
Por fim, ainda há a questão financeira envolvida em todo este processo. Do estacionamento a preço de “balada” cobrado na porta do pronto-socorro, passando pelo custo aviltante dos medicamentos, em especial se você optar pela aquisição de um “referência” em lugar de “genérico”, a saúde não é definitivamente um bem público ao alcance da população.
Após quinze dias brigando contra uma tosse crônica, tendo passado por quatro médicos sem obter um diagnóstico aceitável e deixando um valor considerável no balcão das farmácias, questiono-me sobre a qualidade dos profissionais formados nos dias atuais e sobre como o cidadão sem acesso a um convênio médico privado e dependente do serviço público enfrenta uma enfermidade. A conclusão é una: simplesmente, não há o direito de se ficar doente…
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