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TER X SER: quanto eu realmente preciso TER para SER?

Muitas vezes, o que impede uma mudança de vida e de carreira são crenças equivocadas em relação ao dinheiro. Nossa relação com ele é permeada por vários sentimentos: culpa, vergonha, medo, orgulho e inveja. Maturidade financeira significa resolver todo conflito interno ligado a dinheiro.

Ao longo dos processos de Coaching é comum, em algumas das sessões, adentramos na questão financeira. Isso porque, muitas vezes, o que impede uma mudança de vida e carreira são crenças equivocadas em relação ao dinheiro. Nossa relação com o dinheiro é permeada por diversos sentimentos: culpa, vergonha, medo, orgulho e inveja. Maturidade financeira significa resolver todo conflito interno ligado a dinheiro.

Na atualidade, as pessoas começaram a perceber que apenas o desenvolvimento material e a prosperidade financeira não “dão conta” dos nossos anseios mais profundos. Afinal, como dizia Viktor Frankl: “As pessoas têm o suficiente com o que viver, mas não têm nada por que viver; têm os meios, mas não têm o sentido.” O desenvolvimento financeiro quando não acompanhado do desenvolvimento humano pode ser desastroso.

O dinheiro permeia todas as etapas das nossas vidas. Ele é uma força que influencia a maioria das decisões que tomamos. Existe uma forte ligação entre o dinheiro e nossos valores. Isso é tão verdade que quando queremos identificar os valores de uma pessoa investigamos onde ela coloca seu tempo e seu dinheiro. É possível entender muito de um individuo quando observamos a forma como ele ganha, gasta e doa seu dinheiro.

A antroposofia ao abordar o ciclo biográfico e as crises que surgem em cada setênio nos mostra que por volta dos 33 anos temos a crise do TER X SER.  Geralmente, até os 33 anos nos preocupamos muito em conquistar “as coisas”: fazer uma boa faculdade, uma pós-graduação, comprar um carro, um apartamento e por aí vai.  Todavia, por volta dos 33 anos uma luz vermelha começa a acender no painel de controle para sinalizar que talvez seja a hora de uma revisão. Esse é um primeiro sinal de que precisamos mudar o modo TER para o modo SER.

Tanis Heliwell em seu livro “Trabalhando com Alma” nos mostra que somos indivíduos compostos por uma personalidade dotada de alma.  A personalidade é quem desenvolve o TER. Ela busca status, certificados, dinheiro e outras coisas. E não podemos tratar a personalidade como a vilã da história. Afinal, ela é a base que nos foi dada para sustentar a alma. Afinal, como posso seguir meu propósito de vida sem condições financeiras para dar conta dele? O grande perigo é que algumas pessoas nutrem a personalidade e esquecem da alma. E é a alma que nutre o nosso SER, afirma nossos valores e expressa quem somos para o mundo.

Enfim, nossa relação com dinheiro é tão complexa que não faltam livros sobre o assunto. Nilton Bonder em sua obra “Ter ou não ter: eis a questão!” nos mostra um  dilema constante da posse: o que ter e o que não ter! O mal não é ter, mas a ausência do dilema de possuir ou não. Assim, tão importante quanto escolher o que temos, é também escolhemos o que não queremos ter. Por exemplo, sei que poderia ter maior sucesso financeiro se estivesse seguindo carreira na área de marketing de uma multinacional, contudo isso não nutre o meu SER.  A vida que construí como educadora, coach, consultora e mãe dão propósito e liberdade que nutrem meu ser.

Outro pesquisador que tratou do tema de dinheiro foi George Kinder, consultor financeiro formado na Harvard e autor do livro: “Seven Stages of money Maturity”. Kinder classifica os seguintes estágios da nossa relação com o dinheiro:

  • Estágio 1 (Inocência). Para um recém-nascido, o dinheiro não tem significado nenhum. Aqui desenvolvemos as nossas crenças que vêm de berço. Em geral, são herdadas de pai para filho de forma sutilíssima.
  • Estágio 2 (Dor). É quando descobrimos que, para ganhar dinheiro, é preciso trabalhar, ou que o mundo é cheio de desigualdades sociais e financeiras.
  • Estágio 3 (Razão). É um processo de três etapas: identificação de metas, inventário dos recursos disponíveis para sua conquista e escolha do caminho que leve dos recursos às metas.
  • Estágio 4 (Sensibilidade). É a sensibilidade que ensina o indivíduo a manter a calma e a paz de espírito em meio à turbulência, a ansiedade e ao estresse que emanam de situações que envolvem dinheiro.
  • Estágio 5 (Vigor). Vigor, em síntese, é descobrir o propósito da vida e voltar toda energia para essa meta.
  • Estágio 6 (Visão). Visão é entender que cada um de nós é responsável por tudo o que existe no planeta. Graças à visão, o individuo percebe que o dinheiro é um mero caminho para a manifestação da alma no Universo. Nesse estágio, nada obstrui o caminho entre o que somos e o que desejamos ser.
  • Estágio 7 (Generosidade). Ao colocar em prática o preceito da generosidade e da sabedoria, a pessoa dá sem esperar nada em troca. Nesse estágio, é possível agir em benefício do próximo com a generosidade que existe dentro de cada um e que está ali, à espera da oportunidade de ser manifestada externamente. É o ponto em que percebemos que nada é realmente nosso, mas uma dádiva a ser partilhada com o próximo.

O perigo é que vivemos numa sociedade que simplesmente associou certas recompensas emocionais à aquisição de bens materiais. E no fundo, não queremos os bens materiais, mas sim propósito e sentido que são atribuídos a eles. Um contra movimento vem surgindo, o manifesto da simplicidade voluntária, no qual as pessoas perceberam que quanto menos coisas elas possuem, mais liberdade elas têm.

Por fim, fecho com uma citação John Armstrong: “A tarefa da vida é transformar esforços e atividades que valem inerentemente a pena em posses e experiências que são em si de valor perene e verdadeiro. Esse é o ciclo ideal do dinheiro.”

E ai, já parou para pensar quanto você precisa TER para SER?

Taynã Malaspina é graduada em Comunicação Social pela ESPM, com mestrado e doutorado em Psicologia Social pela PUC-SP. No mestrado, estudou a relação entre trabalho, felicidade e sentido para jovens. Atualmente faz parte do núcleo de pesquisa do programa de doutorado em Psicologia Social (PUC-SP) e investiga o tema de projeto de vida. Autora do livro “Geração Y e busca de sentido na modernidade líquida e também do livro “O Trabalho contemporâneo no Brasil: desafios e realidades”. Dentro do mundo organizacional atuou na área de marketing de empresas como: Camargo Corrêa, Amanco e Samsung. Sócia-diretora da Oficina da Estratégia, consultoria especializada em pesquisa de mercado e planejamento estratégico. Coach formada pelo Instituto Ecossocial, com certificação ACC pela International Coach Federation (ICF). Formação em Coaching de Conflitos pelo Instituto Trigon – Entwicklungsberatung. Também participou do workshop de Comunicação Não Violenta no Instituto Ecossocial. Professora no curso de graduação em Administração e Recursos Humanos nas disciplinas de Gestão de Pessoas, Psicologia Aplicada, Ética e Qualidade de Vida. Fundadora do Movimento por um Trabalho com Sentido.
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