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Porque eu me amarrei na poltrona do avião!

O grande risco pessoal, pelo qual se passa hoje, é o de ser acusado indevidamente, em um mundo cheio de gente que adora registrar e divulgar imagens sem critério. As pessoas querem se passar por repórteres e juízes, sem antes investigarem a realidade.

Amigos, pensei demais se deveria ou não escrever este texto, pois sei que mexerei em verdadeiro vespeiro de emoções, conceitos e opiniões. Nada que eu tenha problema pessoal em abordar, mas dada a sensibilidade, qualquer tipo de leitura dinâmica (aquela em que o olhar tem mais velocidade que o entendimento) irá gerar uma saraivada de comentários, “com likes e não likes”. Como nunca me disseram que a vida do articulista é fácil, vou colocar luzes em um tema que está com bastante destaque em nossos dias: a questão do assédio e, na esteira dele, do estupro!

Constitui assédio sexual o comportamento indesejado de uma pessoa em relação à outra (seja verbal, não verbal ou física). E basta um único acidente, como tocar ou apalpar alguém de forma inapropriada, que haverá o risco sério de estar no cometimento do crime. Quanto ao estupro, ele é entendido, legalmente, quando uma pessoa constrange outra mediante conduta imprópria ou ameaça, sempre com associação a ato libidinoso. Em outras palavras, tenha o nome de assédio sexual ou estupro, esse é um problema sério, de graves consequências, que a sociedade quer inibir e penalizar.

Pois bem, agora vou produzir um filme mental para vocês (resgatando minha experiência de escritor de ficção ao adaptar um caso real, envolvendo um exercício que qualquer Coach deve estar preparado a fazer e a ensinar seu cliente a fazer). Neste último mês, por razões profissionais, tenho feito várias viagens (incluindo internacionais). O cenário básico deste filme é o interior de um avião lotado. No processo de entrar e sentar, eu me acomodo na poltrona (corredor, à direita, considerando quem já sentou). Na janela, há uma senhora lendo a revista de bordo, desligada do mundo. Eu ajeitei o cinto de segurança, mantive o braço da poltrona levantado, esperando a ocupação da poltrona de centro.

Eis que surge uma mulher com cerca de 30 anos, vestindo blusa esvoaçante, saia curtíssima e exibindo beleza indiscutível com aroma floral. Ela caminha e age como quem vai tranquilamente a uma praia, sem se mostrar constrangida com os passageiros à volta, incluindo mulheres que, disfarçando ou não, olhavam-na em seu movimento desinibido de colocar a maleta de mão no bagageiro e…  sentar-se, ao meu lado. Cumprimentou simpaticamente a mim e à senhora, e se pôs a “conversar” com as teclas do celular, enquanto o avião começaria a viagem de quase três horas.

Eu sou o passageiro que aproveita cada minuto da viagem para dormir e descansar corpo e mente, em clima de relaxamento total. Invariavelmente, perco a refeição ou bebida servidas. Faço da poltrona um “quase-berço” a me embalar com o chacoalhar do avião que atravessa nuvens, já em velocidade de cruzeiro. Imaginei-me dormindo e, por movimento do avião ou movimento inconsciente, o que aconteceria se meu braço direito caísse sobre as pernas nuas cruzadas da vizinha? Bastaria um grito, ou sei lá qual a reação dela, para passageiros sacarem seus celulares e gravarem “a tentativa de assédio de um senhor roliço, de cabelos brancos, em pleno voo”. Imagens rodariam o mundo, com comentários traduzidos por verdades, e chegariam aos celulares de minha mulher, filhos e netas antes de o avião tocar o solo.

A perspectiva de viver um filme de terror me fez pedir um extensor do cinto de segurança à comissária. Eu me amarrei (na realidade, prendi os braços) na poltrona e, fixado com segurança, fiquei tranquilo e acomodado para aproveitar meu sono. Quanto à vizinha, o maior incômodo pelo qual ela poderia passar, e por extensão também à senhora à janela, seria tolerar um ou outro momento de obstrução parcial das minhas vias respiratórias superiores durante o sono. Algo chamado ronco que, felizmente, não faz parte do rol de “acidentes” que podem levar à acusação de assédio ou estupro.

O grande risco pessoal, pelo qual se passa hoje, é o de ser acusado indevidamente, em um mundo cheio de gente que adora registrar e divulgar imagens sem critério. As pessoas querem se passar por repórteres e juízes, sem antes investigarem a realidade. A moral da história, como recado de quem passou pela situação constrangedora para quem que me lê agora e, potencialmente, poderá passar por alguma em momento futuro, vem baseada em um conhecido provérbio: mais vale ter precaução e parecer tolo para os outros, do que não antecipar os problemas e viver, depois, arrependido.

Mario Divo Author
Mario Divo possui mais de meio século de atividade profissional ininterrupta. Tem grande experiência em ambientes acadêmicos, empresariais e até mesmo na área pública, seja no Brasil ou no exterior, estando agora dedicado à gestão avançada de negócios e de pessoas. Tem Doutorado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) com foco em Gestão de Marcas Globais e tem Mestrado, também pela FGV, com foco nas Dimensões do Sucesso em Coaching (contexto brasileiro). Formação como Master Coach, Mentor e Adviser pelo Instituto Holos. Formação em Coach Executivo e de Negócios pela SBCoaching. Consultor credenciado no diagnóstico meet® (Modular Entreprise Evaluation Tool). Credenciado pela Spectrum Assessments para avaliações de perfil em inteligência emocional e axiologia de competências. Sócio-Diretor e CEO da MDM Assessoria em Negócios, desde 2001. Mentor e colaborador da plataforma Cloud Coaching, desde seu início. Ex-Presidente da Associação Brasileira de Marketing & Negócios, ex-Diretor da Associação Brasileira de Anunciantes e ex-Conselheiro da Câmara Brasileira do Livro. Primeiro brasileiro a ingressar no Global Hall of Fame da Aiesec International, entidade presente em 2400 instituições de ensino superior, voltada ao desenvolvimento de jovens lideranças em todo o mundo.
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