Só para lembrar, na minha última postagem eu comentei o interesse em participar desse debate Atrizes de Hollywood x Atrizes francesas a respeito do assédio sexual. Finalizei aquela postagem pedindo que cada um dos leitores “pensasse na sua forma pessoal de ver o assédio (ou a paquera) e se carrega pré-conceitos ou julgamento antecipado, se está mais associado com a linha das atrizes americanas ou das francesas”. Depois daquela postagem, entraram em cena outros tipos de depoimentos, inclusive de artistas brasileiras, aquecendo o assunto e dando nova dimensão ao debate. Clique no link abaixo e veja matéria a respeito desse assunto no programa Encontro, da TV Globo, no início de janeiro de 2018.
Link Original: https://www.youtube.com/watch?v=A9Nmjyz3YKo
Evidentemente, muitas pessoas irão recorrer a terapeutas e profissionais de Coaching para um atendimento específico por conta de sua interpretação de assédio sexual, principalmente no trabalho. Então, quero trazer como contribuição ao tema o resultado de pesquisa realizada nos Estados Unidos, publicada neste mês, a qual investigou as ocorrências havidas durante os encontros anuais da APSA – American Political Science Association. O trabalho foi realizado por Virginia Shapiro e David Campbell, ambos do comitê de Ética Profissional, Direitos e Liberdades, com conclusões interessantes.
O objetivo do estudo foi identificar a extensão e a natureza da experiência de assédio sexual, conforme percebida pelos participantes do encontro, de forma a criar uma política de combate ao problema. As perguntas alcançaram o período 2013-2017, com 13.367 pessoas pesquisadas e 2.424 respostas completas processadas. Os resultados mostraram que, embora a grande maioria de participantes não tenha reclamado de assédio sexual durante os encontros, uma quantidade significativa de pessoas (mais mulheres do que homens) alertou para o fato.
O estudo consolidou três grandes grupos para comentar sobre o comportamento negativo associado a um momento de assédio sexual, com base no depoimento daqueles que vivenciaram o problema. São eles: a) Em um primeiro grupo, 42% das mulheres e 22% dos homens alegaram a sensação de submissão, de estar preso à situação e até terem complacência; b) Outro grupo, com 30% das mulheres e 10% dos homens, apontou a linguagem inadequada ou o olhar agressivo, a postura que gera situação desconfortável, ou mesmo a exposição a materiais sexistas ou eróticos; c) O terceiro grupo já citou a ação de conotação sexual a começar pelo toque físico ou insistência em avanços, mesmo com atitudes de desencorajamento. Neste grupo, com 11% das mulheres e 3% dos homens, alguns até citaram ameaças e subornos como parte do processo de assédio.
Mesmo nos casos em que a porcentagem de associados da APSA que enfrentaram tais incidentes seja baixa, o número é, no entanto, desconcertante. Ao final, 29 pessoas sentiram receber ameaças de retaliação profissional por não serem sexualmente cooperativas, e 44 pessoas receberam propostas de suborno para se entregarem ao assédio. Uma análise posterior mostrou que não houve qualquer diferença em etnias ou raças, nem mesmo idade ou formação profissional. Porém, a análise multivariada mostra que pessoas novatas no evento são mais sujeitas a sofrerem experiências negativas, mas isso varia também em função do tipo de assédio.
Em avaliação complementar, o estudo criou cinco tipos de comportamento negativo associados ao assédio sexual. A partir daí, acreditamos, qualquer profissional de Coaching pode começar a estabelecer parâmetros de avaliação e atendimento, se for o caso. Atenção para: (1) Desrespeito geral, incluindo tratamento de maneira grosseira, ainda que não explicitamente com abordagem sexista; (2) Referências a gênero, sexualidade, ou estética corporal de forma não profissional; (3) Postura persistente ou inapropriada, com frases românticas ou levemente sexistas; (4) Declarações discriminatórias ou abordagens a gênero ou à sexualidade; (5) Assédio claro, degradante ou discriminatório, baseado em gênero, raça, etnia ou posição de prestígio.
Surpreendentemente, os cientistas afirmam terem identificado que muitos respondentes reclamaram do desconforto e da incerteza em como se dirigir aos colegas, principalmente mulheres. Alguns acham que discutir essas questões ou criar políticas sobre assédio tornam mais difícil o envolvimento e as relações profissionais. Parece que hoje é quase impossível existir a interação macho-fêmea normal, sem ter que se preocupar se uma conversa casual foi entendida como “assédio”. Para alguns entrevistados, a solução não é baseada na criação de políticas, mas sim em as mulheres desenvolverem habilidades para lidar com os mesmos problemas que os homens enfrentam. Acreditam que “políticas” têm impacto negativo no trabalho, na qualidade da interação profissional e até social, concluindo que a ética e a etiqueta básicas conseguem evitar qualquer mau comportamento.
O difícil mesmo é construir esse tipo de ambiente em que todos sejam éticos e tenham etiqueta, levando ao tratamento profissional apropriado. E você, como avalia esses resultados no contexto social brasileiro?
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