Saiu na imprensa que houve quem chamou o general Mourão de “jumento de carga”. Nada estranho. Às vezes candidatos são vistos como juízes de futebol, objetos de catarse. Perdemos a paciência com eles, e há quem os puna até com facada. Mas, enfim, eles merecem algum xingamento?
Há quem diga que o general Mourão merece. Como filósofo, não tenho muito que fazer com o tal homem, a não ser tirar lições do que ele diz. E por incrível que pareça, há o que aprender com ele. É que a fala dele, dizendo que uma Constituição pode (e deve) ser feita sem a consulta popular e sem representantes do povo, e sim por um “grupo de juristas”, ensina muita coisa.
O general Mourão quer fazer do Brasil um quartel. Um grupo de generais, todos barrigudos, traçam uma estratégia e jogam um monte de gente nas trincheiras para ver se a estratégia funciona. Caso não funcione, todos morrem. Os exércitos modernos não fazem mais isso sempre. Há até um nível de consulta entre soldados e certo feedback ainda com a guerra em curso. Mas Mourão pertence a um Exército que nunca foi em guerra alguma, no máximo assaltou favela, e ele age com o mesmo pensamento velho. Ele é aquele arquiteto que faz colmeia para canguru morar, põe coelho para viver em ninho de passarinho e, finalmente, constrói Brasília, aquela cidade planejada sem considerar o modo de vida do povo.
Kant dizia que a filosofia política é a arte de construir regras para uma sociedade de demônios. Mas aí, então, teríamos de fazer uma Constituição para o inferno. Não penso que os homens e mulheres são demônios. Não somos tão poderosos assim. O problema é que somos seres plásticos, históricos, e para nos fazer uma boa casa é necessário que venham nos perguntar onde queremos a sala, quantos banheiros vamos ter, se é necessário um segundo piso etc. As Constituições que deram certo foram aquelas que tiveram a capacidade de não desprezar a pergunta: “o que diz o pessoal que vai pegar essas regras para viver?” Nessa hora, ou a consulta popular vale, ou tudo dará errado. É algo simples. Cada um de nós deve aprender isso na vida, e se assim fizer, terá êxito em seus empreendimentos. Temos de evitar, para sermos inteligentes e ter sucesso no que fazemos, de agir com a cabeça de Mourão.
Mourão é aquele indivíduo que, se encontrar um urso, não o convida para comer mel, mas para saborear uma cenoura com pimenta gourmet, adrede preparada. Dizem que ursos ficam felizes é com mel. Mas Mourão vai insistir na cenoura com pimenta gourmet, tirada de um grupo de chefs juristas vindos de … Plutão!
Paulo Ghiraldelli Jr. 61, filósofo
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