Começo esse texto comentando uma frase do Nelson Rodrigues. Ele diz que a maioria das pessoas acredita que o mais importante no diálogo é a fala, mas que isso é um erro e o mais importante é a pausa (silêncio), que é quando as pessoas se entendem e entram em comunhão. Mas como ser paciente quando a neurociência coloca que o tempo entre o impulso e a reação é de meio segundo? O segredo está em aumentarmos o nível de consciência de nossos comportamentos. A neurociência coloca que, se aumentarmos mais meio segundo entre o espaço do impulso e da reação, elevaremos nosso nível de paciência.
Para começar, podemos medir o nível da nossa paciência. Como fazer isso? Vou lhe dar algumas dicas de como começar a fazer este exercício.
Dica 1:
Vamos trabalhar com uma escala de comportamentos e sentimentos, sendo -5 para o mais baixo e +5 para o mais alto. Livro o Poder da Paciência, citado abaixo:
- Listar seus comportamentos e sentimentos que correspondam a -5:
- dizer algo cruel para alguém;
- gritar com o outro;
- sentir tanta raiva, fúria ou ódio que seja impossível se controlar;
- falar a primeira coisa que lhe vem à cabeça para pisar no outro.
- Listar quais os comportamentos que correspondem a +5:
- manter-se sereno mesmo quando está atrasado para o trabalho, onde terá uma reunião importante;
- brincar e conversar com o(s) filho(s) mesmo estando atrasado para levá-lo(s) à escola;
- dirigir e manter-se tranquilo apesar do engarrafamento;
- manter-se sereno mesmo depois de um carro entrar na frente do seu sem dar sinal.
Quanto mais vezes você puder manter-se em equilíbrio diante dessas situações, mais poderá ir aumentando em meio segundo seu grau de paciência. Essa forma de agir ajudará a tornar seu dia mais tranquilo; você perceberá que a escolha entre aonde está e aonde deseja chegar é de sua total responsabilidade e ainda que o espaço existente entre esses dois pontos – impulso e reação – pode ser considerado tensão criativa, permitindo que algo novo nasça.
Dica 2:
Prestar atenção aos sinais de aviso de que vai perder a paciência. São seus gatilhos que mostram o quanto você está no piloto automático. De que forma que eles vêm? Pode ser: “Não aguento mais, não vou aceitar mais isso.” “Só em ver essa pessoa já me irrito.” “Quando ela abre a boca, minha vontade é gritar para ela se calar.” “Quando alguém arma a seta para entrar na minha frente, meu instinto é acelerar.” Qual é o seu sinal? Preste atenção aos sintomas físicos que surgem antes de você perder a paciência. Nosso corpo é soberano e nos dá sinais antes de chegar à nossa mente. Um cliente uma vez me disse que ele sente muito calor quando vai perder a paciência. Quando isso acontecer, quando perceber o sinal de que vai explodir ou sentir uma irritabilidade sem fim, busque afastar-se da situação ou da pessoa. Se for com alguém, peça licença e saia por alguns minutos, respire fundo até voltar a calma; se puder, vá até um banheiro, lave as mãos prestando bastante atenção ao ato de lavar; olhe-se no espelho e diga para si mesmo: “Eu posso! Eu consigo sair desse círculo”. Isso o deixará mais calmo e evitará uma explosão. Lembre-se: é você quem precisa se dar essa permissão. Se for no trânsito, pense em algo que lhe dê prazer: seu filho ou o fim de semana que programou. Nós temos capacidade e habilidade de mudar esse círculo vicioso.
Dica 3:
Todos nós temos paciência para determinadas pessoas ou situações. O exercício é olhar um pouco mais para isso e estimular a paciência.
- Reveja as situações em que você normalmente é paciente.
- Identifique com que tipo de pessoa você tem mais paciência: adultos, crianças, idosos. Com qual deles sua paciência é mais estimulada? É persistente apesar dos obstáculos?
- Onde e como sua paciência se apresenta?
- Analise a lista, estude seu padrão de sucesso, reflita sobre as situações ou pessoas com quem foi mais fácil ser paciente. Você vai descobrir que às vezes essa paciência não é consciente, mas de alguma forma ela dispara quando necessário. Você poderá perceber que isso acontece quando tem um sentimento bom, uma imagem ou uma frase que costuma repetir e que dessa forma aumenta sua capacidade de ser mais paciente. Com isso você poderá despertar um novo olhar sobre si mesmo e o outro, pois quando mudamos, impactamos o outro, mesmo quando ele não muda.
Depois de fazer esses exercícios por um mínimo de três semanas, você perceberá os sinais de mudança se apresentando.
Anote em um caderno suas percepções diariamente. Anotar é importante, pois quando escrevemos, criamos sinapses mais efetivas e saímos do mundo das ideias. Faça isso sem julgamento, sem se recriminar por perder a paciência e com isso poderá aumentar seu leque de opções de respostas.
Olhe sua lista, pense e se pergunte: “O que realmente posso fazer a respeito para contornar essas situações em minha vida?” Mesmo que esteja fazendo o seu melhor, pense e se pergunte: “Se eu pudesse fazer ainda melhor, o que faria?”
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Lembre-se: só você pode mudar o que sente por dentro e ninguém tem o poder de controlá-lo, a não ser que você permita.
Bibliografia: RYAN, M. J., O PODER DA PACIÊNCIA, Ed. Sextante, 2011
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