Começo meu artigo fazendo uma reflexão sobre o que é a CNV, que, para mim, é uma forma de aprender a viver melhor comigo mesma. Costumo dizer que a CNV é um processo intrapessoal e, consequentemente, pode se tornar interpessoal. Eu só posso aprender a CNV se a vivo no meu dia a dia.
Para mim, a CNV tem a ver com a permissão que me dou para fazer mudanças que trarão bem-estar e felicidade interna. Na minha percepção, eu só posso mudar quando me julgar menos, sentir autocompaixão e autoempatia e não ficar esperando pela aprovação do outro. Eu não posso dar uma palestra, fazer uma oficina se não vivo o que faço. Digo para meus clientes que as mudanças que eles desejam fazer – sair da angústia, frustração e raiva – dependerá do quanto eles puderem se libertar do ego e buscar a si mesmos.
A CNV nos leva a um olhar sistêmico, porque todos nós somos um sistema. Podemos entender que um sistema “é uma entidade cuja existência se deve às mútuas interações entre seus componentes”, segundo o criador da Teoria Geral dos Sistemas, o biólogo Bertalanffy.
A visão sistêmica nos capacita a entender os fatos da vida e os comportamentos das pessoas, prestando atenção aos componentes que são gerados, as causas, as relações que existem entre tudo e as consequências de cada movimento dos elementos. Se não tivermos esse olhar sistêmico, ficaremos somente na observação de fatos, pessoas e vamos julgar de uma forma quase que imediata. Nas constelações sistêmicas, podemos observar esses movimentos claramente. Podemos perceber que a totalidade não é compreendida como a soma de suas partes, mas, sim, como o efeito recíproco dos elementos e das inter-relações entre eles.
Viver a CNV é ver o que está além do observável; é permitir-se olhar e perceber nas entrelinhas o que está acontecendo, como eu percebo a mim e ao outro, quais são as causas, implicações, o contexto, o fato, os sentimentos e as necessidades, sem sair dando uma opinião de bate e pronto e achando que ela é única e verdadeira.
Humberto Maturana e Francisco Varella[1] (2011, p. 267) colocam que “o conhecimento do conhecimento obriga. Obriga-nos a assumir uma atitude de permanente vigília contra a tentação da certeza, a reconhecer que nossas certezas não são provas da verdade, como se fosse o mundo e não um mundo que construímos juntamente com os outros”.
Podemos concluir que, apesar de a CNV nos munir de algumas ferramentas e técnicas, elas nos servem apenas de apoio para que possamos manter o propósito de trazer para nós, de sair do piloto automático quando estivermos descendo a ladeira e engatar uma marcha, prestando atenção ao que estamos fazendo, falando ou como estamos nos comportando.
[1] MATURANA, H.; VARELLA, F. A árvore do conhecimento; as bases biológicas da compreensão humana. 9. ed. São Paulo: Palas Athena, 2011.
Participe da Conversa