Amy Gallo é editora colaboradora da Harvard Business Review e autora do Guia HBR para Lidar com o Conflito no Trabalho. Ela desenvolveu um artigo interessante, que vou agora reproduzir, orientando as pessoas em como discordar de alguém mais poderoso, situação muito comum no dia a dia das empresas. Ela inicia afirmando ser absolutamente normal uma pessoa ter medo de discordar de seu superior. E reúne os comentários de dois especialistas no assunto, Holly Weeks e Joseph Grenny.
“Nossos corpos se especializam em sobrevivência, por isso temos um viés natural para evitar situações que possam nos prejudicar”, diz Joseph Grenny, coautor de Crucial Conversations e cofundador da VitalSmarts, uma empresa de treinamento corporativo. Essa ideia é apoiada por Holly Weeks, autora do livro Failure to Communicate. Nós imediatamente pensamos: “Ele não vai gostar de mim”, “Vai pensar que eu sou um transtorno na empresa”, ou talvez, “eu vou ser demitido”. Embora seja simplesmente mais fácil concordar com um chefe, Weeks comenta que isso não é a coisa certa a se fazer sempre.
Joseph Grenny ainda afirma que a maioria das pessoas tende a exagerar nos riscos envolvidos, caso decida se manifestar. E Grenny sugere que primeiro a pessoa avalie “os riscos de não se manifestar” – pois, o pior dos mundos é perder a confiança dos colegas ao ficar calado e algo vier a dar errado. Após a avaliação desses riscos, você pode decidir que é melhor adiar o momento de dar sua opinião. Talvez “a pessoa não tenha terminado de pensar no problema, pois todo o debate sobre o assunto foi uma surpresa, ou então, há o desejo de ter uma noção mais clara do que o grupo todo pensa”, especula Holly Weeks.
Se o subordinado acha que outras pessoas vão discordar também, ele pode querer reunir um “exército” primeiro. Outras pessoas podem contribuir com experiência e informações para consolidar esse novo pensamento – todas as coisas que envolvem a discordância do chefe ficam mais fortes e válidas. Também é uma boa ideia adiar a conversa, caso se esteja em uma reunião ou em outro espaço público. Comentar e debater uma questão, em espaço particular, fará com que a pessoa poderosa se sinta menos ameaçada.
Avançando no tema, pense em que a pessoa poderosa tem foco, como a credibilidade de sua equipe ou a execução de um projeto no prazo, diz Grenny. É mais provável que você seja ouvido se puder conectar seu desacordo a esse “propósito maior”. Ao se manifestar, é importante que o subordinado nunca assuma que essa relação será óbvia. Para Weeks, convém contextualizar os comentários para que o subordinado não pareça alguém desagradável, mas que seja visto como um colega que tenta compartilhar essa busca da solução e alcance das metas.
Tanto Genny como Weeks concordam ser importante pedir permissão para discordar de um superior. É uma atitude que pode parecer de submissão mas, ao contrário, mostra-se inteligente ao dar à pessoa poderosa “segurança psicológica” e controle. Na medida em que surge a autorização do superior para essa intervenção, o subordinado irá se sentir mais confiante e com menos ansiedade para expressar seu desacordo. Aliás, esse ambiente ajuda a pessoa a controlar melhor as emoções, pois o normal é um subordinado sentir o coração acelerado e o rosto avermelhado, o que pode atrapalhar nas palavras e ações. Quando a linguagem corporal comunica relutância ou ansiedade, ela enfraquece a mensagem, diz Weeks. Respiração profunda pode ajudar, assim como falar mais devagar e deliberadamente, diz Grenny.
Um ponto fundamental é que a abordagem que irá contrapor ao pensamento do superior nunca envolva expressões que transmitam julgamento ou crítica. Quando o subordinado passa a expressar suas próprias preocupações, deve observar cuidadosamente sua linguagem, compartilhar apenas fatos e dados, e eliminar adjetivos dos comentários, pois eles têm o potencial de serem mal interpretados. E Grenny acrescenta: O subordinado deve enfatizar sua opinião, mas não como a “verdade final”, pois essa opinião pode estar bem fundamentada e pesquisada, mas ainda assim é uma opinião. E tendo afirmado sua posição (como uma opinião, não como uma decisão), “ele deve demonstrar igual curiosidade sobre outras visões”, diz Grenny.
Em última análise, a pessoa no poder certamente tomará a decisão final, concorde ou não com as opiniões que recebeu, e isso deve sempre ser respeitado. Para os profissionais de Coaching, a minha postagem de hoje mostra uma realidade vivida à exaustão pelos clientes, sejam eles os superiores ou os subordinados (todo mundo tem chefe, em algum nível). Pois é papel profissional mostrar que, no processo decisório, temos escolhas, o que nos leva a avançar no que acreditamos ou até recuar, em casos onde há dúvidas.
Finalizando, o estímulo à reflexão inclui fazer perguntas, questionar e, dessa forma, o mundo será mais fácil aos superiores que aceitarem ouvir opiniões de quem está ligado ao problema. Algo mais realizador do que, simplesmente, assumir que o papel do chefe é mandar. Aliás, a liderança moderna cobra de todos (gerentes e subordinados) um processo participativo, em que “falar e ouvir” cria a sinergia necessária ao sucesso.
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