”Quem encontra prazer na solidão, ou é fera selvagem ou é Deus” (Aristóteles)
O poder seduz e é uma coisa admirável e preciosa; mas tem um preço: a solidão.
Esta é uma verdade que afeta sobremaneira altos executivos nas organizações modernas; dentre as principais inquietações daqueles que detêm posições de comando, podemos destacar:
Pressão por resultados: que é constante e torna-se cada vez maior. Atingir resultados mensais, trimestrais e anuais muitas vezes coloca em risco as estratégias de longo prazo e a relação com pessoas e isto define muitos executivos como “moedores de carne” – como disse um conhecido líder empresarial: “eu até atingi os resultados, mas havia corpos e sangue por todo o lado”;
Decisões urgentes: muitas vezes sem dispor de todos os fatos e dados e na total ausência de interlocutores isentos. Nestes casos, é preciso equilibrar razão e rapidez;
Relações complexas: com superiores, sócios, pares e subordinados; são relações extremamente complexas que requerem alta dose de habilidade;
Falta de pipeline de talentos e líderes: as organizações carecem de um banco de talentos. Várias gerações hoje convivem nas organizações: a geração X – os baby boomers (nascidos entre 1946 a 1964), a geração Y – os millenials (1979-1992) – e as gerações W (1991) e Z (2000); as últimas estão, literalmente, provocando uma revolução nas empresas e nos negócios;
Margens em declínio: flutuações de mercado, mercados globais, concorrência, entre outros fatores contribuem para a queda das margens. As empresas necessitam estar sempre se reinventando para sobreviver. (aqui, um bom exemplo é a IBM que sob o comando de Louis Gestner – ex Amex e Nabisco transformou a empresa de uma vendedora de equipamentos para um parceiro de soluções integradas);
Novas Tecnologias: tempos de 4ª Revolução Industrial e seus reflexos em produtos, estilo de vida e empregos;
Ambiente VUCA: onde a volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade tornam a gestão cada vez mais complexa – o conceito foi introduzido por Warren Bennis em seu livro A Essência do Líder.
Mas…. o que mais tira o sono e creio que a maior preocupação dos executivos é a solidão do poder. Os que ocupam posições de liderança não sofrem absolutamente da solidão; ao contrário, são muito “populares”. Entretanto o cargo é na maioria das vezes muito solitário e a solidão manifesta-se principalmente nos momentos de tomar decisões.
Executivos quando se deparam com decisões difíceis que contemplem principalmente pessoas – um bom exemplo é uma restruturação envolvendo redução de quadro e de níveis hierárquicos, situação em que o executivo não tem a quem recorrer para se aconselhar pois todos na empresa, mesmo não declarando de forma explicita ou até mesmo sem saber, tem uma “agenda oculta” fazendo com que opiniões e/ou conselhos não sejam isentos. Em minha longa carreira como executivo tive inúmeros exemplos de “experts” em eficiência organizacional, porém sempre nas áreas de seus pares…
Isto tem feito com que muitos executivos concentrem sua atenção em questões do dia a dia – produção, fluxo de caixa, vendas e marketing, além de vários assuntos burocráticos – que podem e devem ser delegados.
Tais executivos tendem a manter-se isolados tendo com consequência o aumento da tensão, a insegurança (quase sempre disfarçada por uma atitude de prepotência) com sérios prejuízos em seu desempenho profissional e, também, na vida pessoal. Convém citar aqui uma das leis do livro “As 48 Leis do Poder” de Robert Greene: “Não construa fortaleza para se proteger – o isolamento é perigoso”; ou ainda, de acordo com Keith Ferrazi no livro “Nunca Almoce Sozinho”: “Sucesso na vida = as pessoas que você conhece + o que vocês criam juntos” .
Mas, como resolver a questão do isolamento? Alternativas muito utilizadas são: a contratação de consultores – nem sempre com resultados satisfatórios – ouvir subordinados – que filtram informações e nem sempre tem opiniões 100% isentas – ou, ainda, a constituição de conselhos consultivos.
Escolhas que tem se mostrado eficazes como antídoto na questão do isolamento são:
Coaching executivo (mentoria): Tenho, em minha atividade como coach/mentor, observado que gestores e executivos, em razão da pressão por entrega de resultados, perdem completamente a visão de seus objetivos e parecem estar sempre correndo atrás de algo sem saber o quê e o porquê. Neste contexto o auxílio de um profissional experiente, treinado e isento é importante para incentivar o autoconhecimento e a reflexão, tornando os profissionais mais eficientes e com foco nos objetivos e na transformação das organizações e, como consequência, gerando expressivos resultados tangíveis.
Veja o que disseram dois famosos empresários responsáveis por uma grande parcela da transformação do mundo atual:
“Todos nós precisamos de um coach; todos nós precisamos de alguém que nos dê feedback e é assim que nós melhoramos” – Bill Gates (bilionário e fundador da Microsoft)
“Eu recebi muitos conselhos quando comecei e um deles foi ter um coach; ao receber este conselho de um membro do board eu retruquei: eu não preciso de um coach pois sou um CEO estabelecido e por que eu precisaria de um coach? Há algo errado? A resposta: Não, não há nada de errado. Você precisa de um coach assim como todo mundo precisa de um coach. Assim, eu contratei um coach e servi a Google muito bem. Todo atleta famoso, todo artista famoso tem um coach, alguém para observar o que você está fazendo e falar: “é isso mesmo que você quis dizer? Você fez isso mesmo? Dar a eles uma perspectiva. Através do coach você pode ver a si mesmo assim como os outros o veem; um coach realmente ajuda” – Eric Schmidt (ex CEO do Google e atual Chairman da Alphabet – Holding que controla o Google e segundo a Forbes dono de uma fortuna de US$13 bilhões)
Grupos de CEO´s: Estruturados e com metodologia testada e aprovada estes grupos servem como um fórum de aconselhamento mútuo de líderes empresariais visando discutir questões de seus negócios, cenários, tendências e estratégias de longo prazo. Nestes grupos, em um ambiente de confidencialidade e segurança, os membros recebem opiniões diretas, francas e imparciais, dispõem de um foro para compartilhar suas preocupações, encontram um ambiente acolhedor livre de julgamentos e, como consequência, desenvolvem-se como profissional, líder e pessoa. Posso testemunhar que no período de cerca de 18 anos em que exerci posição de CEO, a participação como membro em um deste grupos trouxe enormes benefícios para minha vida profissional e pessoal.
Em resumo, em um mundo em constante e rápida transformação, espera-se que executivos de alto nível – “C-Level” promovam mudanças e preparem suas organizações para enfrentar os desafios de médio e longo prazo. E isto só será possível quando saírem de seus castelos, retirarem suas armaduras e partirem para o “front” da guerra do mundo real.
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