Nestas últimas semanas tenho observado como a resistência está fazendo parte da vida das pessoas. E aí resolvi refletir a respeito dessa resistência.
Vou começar trazendo o significado da palavra resistência na psicologia: “Mecanismo de defesa utilizado pelo analisando para recusar-se a não tomar consciência de suas motivações, dificultando o retorno aos traumas vivenciados.” Ao mesmo tempo a resistência tem outro significado que é a durabilidade e a árvore que nos reflete é o Carvalho, com sua força e tamanho. Agora se olharmos a resistência à luz de mudanças importantes ela pode ser observada como frágil diante de situações de estresse elevado. Já o bambu por mais que ele seja entortado e flexível, mas ao mesmo tempo é resistente, porque suporta a tração, enquanto o carvalho com toda raiz forte, pode vir ao chão.
O quanto somos resistentes às mudanças? Robert Kegan e Lisa Laskow em seu livro Imunidade à Mudança nos coloca como nossas crenças ocultas nos impedem de sairmos do lugar ou de fazermos mudanças, por mais que conscientemente acreditemos que estamos caminhando. Kegan e Laskow dizem que nosso problema é a incapacidade que temos de estabelecer uma ponte entre aquilo que genuinamente queremos e aquilo que realmente somos capazes de fazer. Quando falamos de líderes, por exemplo, a transformação precisa ser do sistema de mindset e não só aumentar o repertório comportamental e nem de conhecimento. Na grande maioria acredita-se que o desafio para mudança está em enfrentar ou saber melhor lidar com as situações complexas e de estresse elevado, mas na verdade está na dificuldade de mudar depois de adulto. Os autores nos trazem três platôs do desenvolvimento mental do adulto e a cada nível aumenta a complexidade.
Para complementar trago uma história antiga que dizem ser uma lenda, pois é de autor desconhecido e é bastante atual.
“O bambu chinês e o carvalho”
Numa longa estrada que cortava uma planície verdejante havia um grande e lindo bambuzal de um lado e do outro uma imponente e forte árvore de carvalho.
O carvalho é uma árvore que pode atingir 30 a 40 metros de altura e um tempo de vida de 500 a 1000 anos, possui uma madeira rija, pesada e resistente à umidade, e representa, em algumas regiões, a força e a resistência. É muito utilizada em parques e jardins pela sombra que proporciona.
Já o bambu chinês é uma gramínea que se reproduz facilmente sem necessidade de replantio formando extensos bambuzais. Por ser uma gramínea é leve e se movimenta ao menor vento ou chuva.
Um belo dia, como sempre acontecia, estava o carvalho e o bambu a trocar impressões sobre a vida debaixo de um sol escaldante e uma leve brisa, quando o carvalho disse ao bambu:
– Bambu amigo, você é muito frágil, o destino foi cruel contigo. Qualquer carro que passa ou uma avezinha que pousa sobre você, já faz com que se mexa todo. Qualquer ventinho te curva todo. Olhe para mim, não tenho do que me queixar, sou forte e belo, e se tivesses nascido sob a minha sombra, eu te protegeria, mas onde estás nada posso fazer. A vida é mesmo muito cruel para com os fracos.
– Obrigado amigo carvalho. Agradeço seu companheirismo e a preocupação que demonstras ter comigo. Não é necessário que te preocupe assim, o sol me fortalece e faz que surjam novos brotos de bambu formando esse lindo bambuzal e sei como proceder diante dos vendavais. É necessário apenas que eu me incline, até que eles passem. Fico feliz de que nunca tenhas passado por um, falou o bambu humildemente.
Como se tivesse ouvido as palavras do bambu, a brisa foi se tornando forte até se transformar num forte vendaval. Começaram a voar pelos ares folhas, flores e galhos, raios cortavam os céus e fazia muito barulho espantando os animais que tratavam de protegerem assustados. O sol e a claridade deram a vez para a escuridão e a chuva torrencial completou a cena de destruição que estava para acontecer.
Diante da força da natureza o bambu balançava sendo jogado de um lado para o outro, porém mantendo suas profundas raízes seguras ao solo. O vendaval aumentou transformando-se num furacão que a arrastava tudo que estava no seu caminho.
Aos poucos os ventos foram levando as nuvens para longe e dissipando as forças da natureza. O sol começou a aparecer entre as nuvens e logo estava novamente radiante e começou a banhar a bela planície verdejante.
Com o calor irradiado do sol foram secando as folhas do bambu e ele lentamente foi se reerguendo e logo já estava balançando com a brisa.
Já de volta à sua condição inicial, o bambu buscou pelo amigo carvalho, mas ele jazia morto no chão, tronco quebrado ao meio, com as raízes à mostra sem nenhuma condição de se levantar.
Esta fábula nos faz refletir sobre como reagimos às adversidades da vida. Quanto mais resistimos em aceitar os problemas que vão surgindo no nosso dia a dia, mais nos parecemos com o carvalho, insistindo em negar que precisamos mudar, saindo de nosso eixo de equilíbrio, e deixando de viver nossa vida, virando apenas uma árvore caída no chão com as raízes expostas.
Já o bambu chinês nos ensina que insistir em nossas mudanças, projetos e em nossos sonhos. Podemos nos curvar até o chão diante de um vendaval, mas logo que cessar, vamos nos reerguer com aprendizados novos. Quanto mais flexíveis formos como o bambu mais alta será a nossa probabilidade de crescimento.
E o que tudo isso tem a ver com a CNV – Comunicação Não Violenta? Se não nos permitirmos olhar nossas relações intra e interpessoais com outra perspectiva e realmente viver a CNV, resistindo à mudança, podemos perder a oportunidade de trazer à tona o amor e a compaixão que existem dentro de nós.
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