Seu emocional é a sua história.
É uma história de emoções bem resolvidas ou uma história mal-acabada, com um roteiro pesado pelas pendências emocionais?
Como está sua percepção das situações e das pessoas com quem você convive? Você é do tipo que conclui e toma decisões rapidamente, baseando-se em suposições e inferências, sem testá-las? Muitas vezes, levados pela pressa, stress, pressão, agimos somente pelo piloto automático e não tomamos consciência dos nossos vieses inconscientes, rótulos e preconceitos, que definem os parâmetros que utilizamos para aquela decisão tão insensata e equivocada.
Quero falar sobre uma história de emoções compartilhando com você o prefácio do meu livro “O Emocional Inteligente” escrito por Heródoto Barbeiro, âncora da Record News, utilizando um Koan, conforme segue:
“Neste livro, Vera Martins conta uma história de emoções e depois aponta os aprendizados que ela nos oferece. Este método é semelhante ao utilizado pelos mestres do zen budismo, conhecido como Koan. Para ilustrar, reproduzo a seguir uma história, aparentemente sem lógica, mas capaz de despertar a verdadeira mente de quem se esforça para isso.
Certa vez, um mestre morava em um pequeno casebre em uma colina, onde avistava o mar, o porto e a pequena vila de pescadores. Era admirado por todos por sua conduta ética e o domínio de suas emoções por meio da prática da meditação. Jamais alguém vira o monge ofender alguém – tampouco a si próprio –, ou lamentar a vida frugal que levava. Vivia de uma pequena horta que plantava e um ou outro peixe que lhe era ofertado em suas andanças pela vila. Ele tinha amplo controle de sua mente e sabia que o ódio, o desejo e a ignorância eram os três venenos que precisavam ser controlados. Seu controle em lidar com situações adversas era admirado por todos, até o dia que uma pequena multidão da vila se concentrou na porta de seu casebre. O chefe do lugarejo começou um discurso hostil assim que o velho mestre apareceu, e acusou-o de ter se relacionado com uma jovem e de ser o pai do bebê que trazia no colo. Enchendo os pulmões, o político gritou que ele teria de cuidar da criança, uma vez que a mãe o acusava de paternidade. O monge olhou para todos e disse: “Ah é…”. A multidão se dispersou e o bebê ficou em sua porta.
O mestre não recebia mais peixes. Comia o que sua horta produzia. Conseguiu uma cabra para dar leite à criança, e levou a vida normalmente. Ele educava o bebê como se fosse mesmo seu filho, mesmo impedido de andar pela vila, uma vez que alegavam que poderia seduzir alguma outra aldeã. Alguns meses depois, novamente, a multidão se aglomerou na porta do casebre do monge. O chefe político pedia em altos brados perdão a ele. A mulher que o apontara como pai mentira e o verdadeiro pai queria se casar com ela e ter o menino de volta. Por isso, o chefe da vila pedia que o monge devolvesse a criança. Ele respondeu: “Ah é…”.
O menino se foi com os pais e a multidão dispersou. O velho mestre continuou vivendo como sempre, sem ódio, sem pessimismo, sem ira e se deliciando com a bela paisagem da baía que avistava de seu casebre. Esta é uma história antiga do Emocional Inteligente, tão antiga e tão atual como o livro da Vera Martins.”
A minha história de emoções
Acordei e constatei: hoje é meu aniversário. Logo cedo, já me emocionei, afinal era meu dia. Era uma mistura de alegria, expectativa e ansiedade. Fomos almoçar fora para comemorar meu aniversário. As pessoas se desculparam pela falta de dinheiro que impossibilitava a surpresa de um presente, ao que respondi: “Não tem problema, o mais importante é a presença.” Depois de duas horas comendo, percebi que minhas pessoas queridas tinham pressa em função de seus compromissos.
Senti-me um tanto decepcionado, pois gostaria de usufruir mais aquele momento, mas eles já tinham sua mente em outro lugar, restando apressar-me para não mais tomar-lhes o tempo. Mas, pensei, já foi o suficiente!
À noite fui comemorar também o aniversário de um amigo: foi bom, conversamos e nos divertimos. Meu aniversário já estava bem distante, e algo estava invadindo meu pensamento e eu não entendia o que era; sentia agora certa melancolia.
Fui dormir e no dia seguinte, ao acordar, percebi que me preocupava com todos. A melancolia aumentou, e um pensamento saltou do inconsciente para o consciente: “Meu dia passou e sequer ganhei um botão de rosa, principalmente a vermelha, de que gosto tanto. Talvez ninguém saiba.” Senti-me triste.
Passei a ser vítima: “Que coisa! Nos aniversários das pessoas queridas me preocupo em agradá-las e em presenteá-las, e ninguém pensou em me dar um botão de rosa vermelha!”
Essa constatação gerou em mim várias emoções negativas: medo de não ser amado, tristeza por não ter retribuição, frustração e decepção e mais uma emoção que bateu forte no meu peito: RAIVA!
Gritei e tornei-me agressivo para mostrar a minha indignação. Depois me refugiei na minha tristeza e saí para caminhar, ouvir música bem dentro do ouvido, dizendo para mim mesmo e tentando me convencer: “Não preciso de ninguém para ser feliz e me sentir bem.”
Mas a RAIVA continuava, e uma palavra fundamental veio à minha mente: RECIPROCIDADE. O que eu fazia para que as pessoas próximas não percebessem minhas necessidades de modo que eu me sentisse importante e querido?
Pensei e concluí: As expectativas que tenho com relação às pessoas queridas são maiores do que me permito perceber e, pior, elas não são expressas. Com isso, essas pessoas se acomodam e não se dão conta da importância de retribuir.
Pensei nas várias situações do cotidiano e percebi que havia um desequilíbrio na relação de troca entre mim e minhas pessoas queridas. À medida que as situações “pipocavam” em minha mente, mais a raiva aumentava e novamente chorei, chorei de frustração.
O primeiro ímpeto foi tornar-me egoísta, e o pensamento irracional voltou a ecoar em minha mente: “Não preciso de ninguém.” Mas percebi que a raiva continuava, e o sentimento negativo que me impulsionava a me defender de algo que me incomodava era aquela sensação de menos valia.
Mas, em seguida, percebi que esse não era um bom caminho. Como posso tirar o melhor proveito da raiva e tornar meus pensamentos mais positivos, minhas emoções mais prazerosas e meus comportamentos mais construtivos para mim e para os outros?
Poupá-los da reciprocidade e desobrigá-los da responsabilidade da troca não era um bom negócio, só alimentava minha decepção e, é claro, o sentimento de culpa por expressar minha frustração de forma grotesca e, algumas vezes, manipuladora.
Algumas lições aprendidas
Alguns aprendizados podemos retirar dessa minha história.
1o aprendizado – Eu preciso ser independente dos outros e assumir a responsabilidade pelas minhas escolhas;
2o aprendizado – Eu preciso alinhar dentro de mim as minhas expectativas: o que quero e o que não quero, o que devo ou não devo esperar das pessoas;
3o aprendizado – O alinhamento de expectativas será mais produtivo se houver autoconhecimento e autoaceitação.
E você, como lida com suas emoções? Qual é a sua história de emoções?
Boas reflexões!!!
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