Por Fernanda Cernea (psicóloga especialista em transtornos alimentares na Carevolution)
Antes de tudo, é preciso esclarecermos que “gostar do corpo” não é a mesma coisa que “ter um corpo dentro do padrão de beleza”. Gostar mais do seu corpo é entender que ele não é perfeito, mas mesmo assim, pode ser bonito e funcional.
Isso não significa que não podemos querer mudá-lo, deixá-lo com uma aparência que nos agrade mais, nós podemos transformar o nosso corpo se quisermos. Mas não podemos pensar que só vamos começar a gostar dele se (e quando) ele tiver a aparência que é considerada ideal pelo padrão de beleza. Até porque, se pararmos para pensar, quase nenhuma pessoa tem um corpo dentro do padrão de beleza, não é mesmo? Até as modelos e atrizes têm seus corpos modificados pelos programas de edição de imagem, então, se quase ninguém consegue alcançar esse padrão, acho que podemos começar a pensar que não somos nós que estamos errados, e sim o próprio padrão de beleza.
Aprender a gostar do corpo é uma tarefa muito mais interna do que externa. Quando nós paramos para observar profundamente a nossa relação com o nosso corpo, percebemos que muitas vezes nós acabamos concentrando os nossos pensamentos em vários aspectos que no final das contas só nos fazem ficar mais insatisfeitos com a nossa aparência.
Mas afinal, o que eu posso fazer para gostar mais do meu corpo?
A seguir, darei algumas dicas para você melhorar a sua autoimagem e começar a gostar mais do seu corpo:
- Valorize o que o seu corpo tem de bom: Quando você se olhar no espelho faça o exercício de sempre focar nas partes que você gosta. Por exemplo, se você gosta dos seus olhos e dos seus braços, priorize focar neles quando você se olha no espelho. Ao colocar a atenção nas áreas do corpo que julga ser bonitas ou que são partes bastante funcionais, estará desenvolvendo uma relação positiva com o próprio corpo, trazendo sentimentos de bem-estar;
- Aprecie também todas as coisas que o seu corpo pode fazer, por exemplo, ele tem duas pernas para andar e/ou dois braços para trabalhar, inteligência para aprender. Isso também deve ser valorizado, não só a aparência;
- Diminuir a supervalorização do corpo em detrimento de outras áreas da vida: se o corpo ocupa um lugar central nos seus pensamentos, as variações de peso ou forma podem gerar muito impacto e sofrimento para você. É, portanto, importante equilibrar as preocupações, trazendo relevância para outros aspectos da vida tais como o trabalho, as amizades, os hobbies, entre outros. Aprender a não se avaliar somente a partir do peso e da forma do corpo é muito importante nesse processo;
- Desenvolver um olhar crítico frente aos conteúdos oferecidos pela mídia: pesquisas apontam que o padrão de beleza propagado pela mídia gera nas pessoas um sentimento negativo em relação ao seu próprio corpo. Ao assistir esses conteúdos é importante lembrar que eles divulgam a ideia de que só existe um tipo de beleza, (que normalmente está associado a uma magreza quase inalcançável para a maioria das pessoas). Busque escolher programas de TV, filmes, livros e revistas que investem em um olhar sobre a diversidade, o respeito aos corpos e a ideia de que existe beleza em diferentes tipos de corpos, evitando, portanto, o consumo das mídias que reforçam o padrão de beleza;
- Modificar os pensamentos em relação ao corpo: alimentar convicções e pensamentos equivocados sobre a aparência corporal acarreta em sofrimento emocional. Entre esses pensamentos equivocados, posso citar como exemplo “pessoas magras são mais felizes”, “preciso ter o corpo perfeito para me sentir bem”, “a aparência física de alguém mostra uma parte de seu valor” ou “o único jeito de eu gostar da minha aparência é modificando-a”. Identificar e modificar tais pensamentos por sua vez, trarão segurança e bem-estar para você;
- Não compare a sua aparência com a de outros. Se comparar com os outros (e principalmente com pessoas consideradas dentro do padrão de beleza) gera uma sensação de inferioridade e uma imagem corporal negativa, ao passo que se você focar nos seus aspectos positivos, isso irá gerar uma relação mais positiva com o seu corpo.
* Fernanda Cernea é Psicóloga e Socióloga, Mestre em Psicologia Social pelo Departamento de Psicologia Social e do Trabalho da USP, especialista em Transtornos Alimentares pelo Ambulim -Ambulatório de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Psicóloga do GRECCO – Grupo de Estudos em Comer Compulsivo e obesidade do Ambulim. Psicóloga em consultório particular.
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