Essencial abordagem a quem faz pesquisas em Coaching!
Por mais de uma vez, aqui neste espaço, eu já comentei sobre o Institute of Coaching e a enorme contribuição que por ele tem sido dada no nível da pesquisa e dos estudos científicos em coaching. Dias atrás, como homenagem póstuma a Tony Grant, um dos seus principais conselheiros e pesquisadores, o instituto divulgou postagem especial baseada no último estudo publicado por ele: “Uma breve cartilha para quem é novo na pesquisa em coaching e na prática baseada em evidências” (versão livre para A brief primer for those new to coaching research and evidence-based practice).
Tony Grant foi professor na Universidade de Sydney e liderou muitos estudos e artigos científicos, tendo sido o primeiro ganhador do prêmio Vision of Excellence do Institute of Coaching. Dado esse fato e o material muito apropriado que foi publicado, tomarei a liberdade de adaptar o conteúdo para os leitores. Espero que possa contribuir para um processo de autorreflexão e posicionamento que gere novas ideias, proposições e linhas de trabalho que beneficiem seus clientes. E para quem quiser conhecer na íntegra o artigo citado (em inglês), clique aqui.
Como falar sobre evidências em coaching
Imagine a seguinte situação: você está tratando de um projeto de coaching com um cliente cético, o qual valoriza cenários com base em dados objetivos, ou seja, evidências robustas. O que você diz então sobre as evidências no que se refere ao seu projeto de coaching? Conselho sábio de Tony: “Como profissionais informados, precisamos ser consumidores críticos de pesquisas … para que possamos identificar a pesquisa que trará uma visão genuína sobre a prática de coaching ...”. Embora o foco do artigo citado seja a prática do coaching no local de trabalho, as lições são também relevantes para coaches em todos os domínios. Vamos então simplificar aquele artigo para ajudar cada leitor a desenvolver seu próprio olhar para o coaching baseado em evidências.
Como saber o que é importante na ciência do coaching
Em primeiro lugar, pela leitura do artigo somos convidados a um “mergulho” no processo de coaching baseado em evidências, que os autores do artigo definem como o “processo que envolve o uso inteligente e consciente dos conhecimentos atuais mais relevantes, integrado à própria experiência do profissional na tomada de decisões sobre como oferecer o coaching para os clientes“. Esse é um objetivo complexo e o artigo admite representar um bom desafio para aqueles que são novos na literatura científica. Ao mesmo tempo, isso se mostra essencial para a integridade da profissão do coach.
O artigo apresenta um modelo de pesquisas realizadas para a prática de coaching. Como a base científica do coaching vem de muitos campos – por exemplo, ciência comportamental, literatura de administração, aprendizado e desenvolvimento de adultos, teoria de sistemas, neurociência e psicologia positiva, entre outros – o diagrama ajuda a mapear a questão de pesquisa em coaching de forma inovadora. Um eixo mostra a relevância de uma evidência específica para pesquisa em coaching, enquanto o outro transita entre grau de evidência fraca para forte.
Como decorrência, os quadrantes assumem a seguinte interpretação:
Quadrante 1: Um cenário de evidências fortes e com alto rigor específico para a pesquisa em coaching deve ser sempre o foco principal.
Neste caso, os estudos são adequadamente projetados e revisados por pares (outros pesquisadores). Eles usam a metodologia correta para a questão de pesquisa que está sendo investigada. Também é importante que os resultados tenham sido replicados em uma variedade de situações apropriadas.
Quadrante 2: Neste cenário, temos uma pesquisa em coaching com certo rigor, porém com evidências mais fracas.
Neste caso, os trabalhos desenvolvidos e publicados podem incluir artigos de opinião, relatórios com menor fundamentação, projetos de pesquisa mais básicos e número limitado de referências e/ou fontes.
Quadrante 3: Neste cenário, a pesquisa ainda que com evidências boas, pode não se concentrar especificamente em coaching.
Porém, ela “poderá produzir informações que podem ser usadas para a prática de coaching ou podem, ainda que indiretamente, orientar a prática de coaching“. Exemplos para este caso incluem estudos de interesse de áreas como psicologia comportamental ou mesmo neurociência.
Quadrante 4: A pesquisa menos rigorosa relacionada ao coaching e ainda com evidências fracas.
Assim como no quadrante 2, demonstra-se menos apurada. Elas não são projetadas adequadamente e, ainda mais, têm poucas possibilidades de serem replicadas por terceiros.
Temas Chave da Pesquisa
Por fim, tendo estimulado que os estudiosos em coaching busquem desenvolver seus estudos com um planejamento bem feito, aplicando o rigor científico e adotando evidências fortes, os autores do artigo comandado por Tony Grant exploraram o estado atual da pesquisa em coaching, apontando quatro temas atuais, importantes e que demandam mais estudos (que tal o leitor pensar a respeito?):
- Estudos que avaliem causa-efeito dos resultados obtidos em processos de coaching;
- Estudos que melhor explorem contextos dos relacionamentos coach-coachee;
- As principais características e as competências-chave dos coaches eficazes;
- Pesquisa sobre como o processo de coaching funciona (sua psicomecânica).
Como conclusão de minha parte, essa homenagem feita a Tony Grant reafirma o quanto é essencial que os profissionais de coaching não se afastem das pesquisas, estudos e trabalhos de cunho científico. Que não se pautem apenas pelo conhecimento prático e na aplicação de ferramentas-padrão que receberam em seus cursos de formação. O crescimento de um profissional de coaching (assim como de qualquer outro e de qualquer especialidade) só ocorrerá com a busca incessante de competência, na fronteira do conhecimento, tal como nos oferece o Institute of Coaching.
Mario Divo
https://www.dimensoesdesucesso.com.br/
Confira também: Acabou minha zona de conforto… e agora?!
Participe da Conversa