Como fica a vida profissional de uma mamãe de dois?
Talvez uma das maiores indagações que tenho feito a mim mesma diariamente. Minha segunda filha nasce dentro de um mês e me pergunto constantemente: como farei pra administrar tantos papéis com mais um bebê?
Acredito que, como eu, a maioria das mulheres age assim: o primeiro dos papéis que abrimos mão é o da mulher profissional. Deixamos de lado nossas carreiras por um tempo em prol desse projeto tão lindo e importante chamado família. Nos dedicamos arduamente aos filhos, marido, casa…. mas, algumas não suportam essa nova rotina por muito tempo! Eu fui uma dessas na minha primeira gestação. Com 27 dias de Laura em casa, eu já estava em parafusos, doida pra voltar à ativa.
Conversei com meu marido e ele concordou comigo para que eu voltasse a atender, desde que fosse no escritório que fica em nossa casa. Assim, eu poderia estar por perto para qualquer emergência com a bebê. Organizei os horários para quando ele estivesse em casa me dando essa assistência com ela, para que eu fizesse meus atendimentos de forma tranquila durante as horas que me dedicaria ao trabalho.
Algumas vezes fui questionada sobre isso: “por que você quer voltar a trabalhar, sendo que, em seu trabalho você só lida com o problema do outro, para tentar auxiliá-lo em sua resolução? Está procurando mais problemas?” Dormi com esse questionamento muitas noites até que concluí o quanto amo fazer isso: parte da solução para um problema alheio. Me inserir nos processos de outros, me tira por algumas horas do meu processo de desenvolvimento pessoal, particular. Eu deixo de focar nos meus pontos de melhoria para usar todas as minhas melhores habilidades, auxiliando pessoas a crescerem e se desenvolverem. E isso me traz um prazer imenso.
Entretanto, agora serão duas: Uma recém-nascida e outra com 3 aninhos apenas e que demanda ainda muito de mim pra tudo, mesmo com um pai participativo e disponível. Será que a ideia de escritório em casa daria certo novamente? Com certeza não. Primeiro porque esse escritório foi desmontado para virar o quartinho da bebê. Segundo porque me lembro que as “emergências” ficaram muito rotineiras e me atrapalharam em alguns momentos de atendimento nesse período.
Penso em ficar 4 meses, no mínimo, apenas dedicada às crianças, à casa e à família. Mas já me pergunto como trabalhar isso dentro de mim. Mulheres que cresceram nesse movimento de independência financeira e que sempre trabalharam fora, sofrem muito quando se veem de mãos atadas, obrigadas a ficarem por um tempo sob as asas do marido…pai…ou algum tipo de mantenedor.
Isso já me desgasta demais. E tenho buscado desenvolver habilidades como a resiliência, paciência e criatividade para passar por esse período bem emocionalmente. O que tenho feito para me auxiliar? Leituras especializadas, meditação, reflexão, oração. Essas atitudes têm me mantido no eixo e me ajudado a ficar tranquila, sempre focando que é apenas uma fase, que vai passar e que logo voltarei para minha rotina tão desafiadora a qual aprecio tanto.
Tenho comigo que esse período de pós-parto e nova adaptação a mais um diferente jeito de viver, já que teremos mais um componente no nosso âmbito familiar, seja um período para cuidados com meu interior de forma redobrada. Porém, existe uma ideia medieval de que nosso espírito seja mais importante do que o corpo, o que também discordo.
Vejo ambos como bençãos divinas e que precisam de cuidados específicos, já que um implica no outro. Se o corpo está saudável, o espírito está bem. Se o espírito está bem o corpo está com saúde.
Os exageros com o cuidado pessoal surgem quando aprendemos errado sobre quem somos. Somos exatamente essa união de corpo e espírito. Sem um, o outro definitivamente não existe. Cuidar da beleza estética é uma benção, especialmente num momento como o puerpério, onde nossa autoestima parece que vai embora junto da placenta retirada.
O problema ocorre quando não se cuida do espírito e exagera-se na estética. Um dos grandes ensinamentos de Jesus Cristo, foi sobre o sepulcro pintado: por fora bem arrumado, por dentro cheio de podridão. Uma das evidências de quem está mal espiritualmente, é o exagero com o corpo. Esse equilíbrio é primordial. A beleza é construída (nesse caso, reconstruída) em duas dimensões: nos âmbitos do espírito e corpo. Quando ocorre o desequilíbrio, ocorre a deformação e perde-se o que é belo.
Portanto, ainda que a rotina seja estafante e esteja exigindo demais de você, é preciso colocar em prática a arte da administração do tempo e separar um período do dia somente pra você… sozinha, sem filhos, sem marido, sem preocupações coletivas: você com você apenas. Nesse período, pratique uma atividade física, ouça sua música favorita, medite em uma leitura que “afie seu machado”, ore a Deus, durma…. faça o que quiser sozinha. Mas tenha o seu momento diário para cuidar de corpo e espírito e se manter em equilíbrio, em harmonia com esse período.
Previamente, organize uma rede de apoio: mãe, pai, marido, amigos. Todos que se disponibilizarem e estiverem aptos valem nessa hora. E retire-se, de preferência do ambiente em que todos estejam. Isso facilitará a sua desconexão.
Pense que isso será por um período e que é fundamental para sua sanidade mental e saúde emocional para seguir em frente.
Eu acredito que Deus faz todas as coisas perfeitas e em seu tempo. Porém, precisamos nos ajustar a elas para que tudo corra bem e tranquilamente. Tirar proveito e lições positivas de tudo o que nos acontece é que nos torna maduros e maiores do que já somos. Imagino que ser mãe de dois, esposa, filha, amiga e ainda profissional não seja nada fácil. Mas creio que se Deus nos permitiu isso, nos resta dizer amém e encarar a realidade com alegria, gratidão e sabedoria que tudo se encaixará com o tempo, nos tornando ainda mais especiais.
Então, vamos em frente. Cabeça erguida, organização e execução daquilo que mencionamos aqui. Tenho certeza que dará tudo certo e logo você também estará habituada com essa nova realidade.
Coragem mulher!
Juliana Rassi
https://www.institutojulianarassi.com.br/
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