Como usar a pandemia para ensinar Educação Financeira para as crianças
Se lidar com a educação financeira das crianças já é complexo, em período de pandemia a situação se torna ainda mais difícil. Mas, neste período de crise, é fundamental ir além do convencional e repensar no papel dos pais no desenvolvimento da educação financeira das crianças. Não é mais possível se omitir sobre esse tema, sendo que todos precisam entender minimamente o tema para que o impacto seja menor em relação ao endividamento e à inadimplência.
Primeiro passo em relação ao tema é vencer os receios, pois os pais, por não conseguirem realizar seus sonhos, ficam com medo de não saberem como ensinar as crianças com dinheiro e lidar com os anseios das crianças e jovens. Isso realmente se tornou um dos principais desafios de pais. Lembro que as famílias têm papel fundamental no significado que os filhos atribuem ao dinheiro e a forma como se lida com seus recursos financeiros poder influenciar a maneira como a criança irá administrar seus bens no futuro.
O levar esses ensinamentos aos filhos esbarra em um problema muitas vezes pessoal, já que os próprios pais não receberam orientações dessa natureza e encontram dificuldades em transmitir esse tipo de conhecimento. Um dos caminhos para famílias educarem financeiramente seus filhos é estimular que esses identifiquem seus sonhos de curto, médio e longo prazos; ensinando a investigar quanto custam esses e, junto com os pais, começarem a poupar.
Mas o ensinar vai muito além, por isso preparei algumas orientações que podem ajudar os pais sobre o tema:
1. Começar cedo
É uma característica das crianças serem muito observadores. Desde cedo começam a perceber que o dinheiro tem uma importância na vida dos pais e, em paralelo, tem estabelecido os desejos de consumo. Assim, a partir da percepção deste entendimento, que ocorre normalmente por volta dos três anos, já deve ter início à educação financeira. Frequentemente eles observam os adultos entregarem dinheiro, cartões, cheques em vários locais em troca de mercadorias. Ou seja, observam que troca dinheiro por coisas que se quer ter. Ao mesmo tempo crianças e jovens estão expostos às mensagens publicitárias que estimulam o desejo de ter. São duas forças importantes que movimentam a sociedade e, portanto, precisam ser bem compreendidas.
2. Envolva nas decisões
O antídoto para os possíveis efeitos nocivos do estímulo ao consumo é envolver esses nas decisões familiares sobre os gastos, colocando os sonhos em primeiro lugar. Temos de mostrar que é preciso ter objetivos, fazer escolhas e que nada é mágico, porém, tudo é possível, desde que o dinheiro seja usado com foco e sabedoria. Dessa forma, habitua-se as crianças e jovens que acordos não significam negação, mas sim negociação. Eles perceberão que é possível ter, porém, nem sempre no momento que se quer. Essa prática também ajuda a aliviar o sentimento de culpa de muitos pais porque, nesse exercício, eles também aprendem a se reeducar financeiramente e deixam de ver o dinheiro – ou o poder de comprar – como uma válvula de escape para suprir lacunas em outros aspectos da vida.
3. Cuidado com o excesso de publicidade
A exposição das crianças às ações publicitárias faz com que estas se tornem cada vez mais cedo consumistas, por isso é preciso conversar sobre esse tema, mostrar que nem tudo que aparece na tv ou na Internet ele precisa. Hoje a criança é elevada ao status de consumidora sem estar preparada. E a publicidade utiliza de propagandas tão apelativas, que causam desejos imediatos nas crianças de querer o produto, e isso não significa necessariamente que essa criança é excessivamente consumista, pois, esse desejo será rapidamente esquecido. Uma situação que indica uma criança excessivamente consumista é quando ela gasta todo seu dinheiro ganho com mesadas e logo pede mais dinheiro para seus pais. Porém, não existe um índice que mostre qual o grau que esse problema atingiu.
4. Você é o exemplo
Os pais são referências para os filhos; ocorre que cada família deve ter seus valores, mesmo assim é necessário cuidado. Se a criança vê os pais comprando sem parar, vão tender a seguir esse exemplo e acabar ficando desta forma. Assim, é fundamental ter muito cuidado com o exemplo que os familiares passam. E desde cedo demonstrar que a felicidade não está associada ao consumismo desenfreado e sim na atitude de atingir seus objetivos. No caso do exemplo externo, a família também terá um papel de grande relevância, que é o de estabelecer os limites para esta atitude. Os pais podem reforçar ou não a atitude consumista da criança e se o comportamento da criança não mudar nesse primeiro momento é muito provável que ela se torne um adulto sem limite nos seus gastos.
Reinaldo Domingos
Inscreva-se no Canal Dinheiro à Vista
Confira também: A crise provou: Antecipar parcelas de dívidas é um erro
Participe da Conversa