Qual o custo emocional para sustentar o papel de forte?
Muitos de nós conhecem, convivem ou são pessoas reconhecidas pelos demais como fortes. Aos fortes não é permitido demonstrar fraqueza (engolem o choro e seguem em frente); são capazes de resolver seus dilemas sozinhos, desde situações do cotidiano como administrar casa, filhos, trabalho e estudo; até situações complexas como lidar com separação, criação dos filhos sozinhos, doenças e lutos. Normalmente estas pessoas são capazes de tornar possível o impossível, ficam de pé mesmo quando lhes falta o chão e suportam os demais em qualquer circunstância. Por elas nos parecerem assim tão invencíveis, corremos o risco de esquecermos sua humanidade.
Poucos param para pensar qual o custo emocional para sustentar o papel de forte? Quantas vezes acostumados com o papel “de forte” estas pessoas não conseguem entrar em contato com o que de fato sentem? E por vezes isolamos ainda mais “nossos fortes” sem nos darmos conta, simples frases como: o que seria de mim sem você? Ou, ainda bem que tenho você para segurar isso porque você é forte por nós dois! Escondido nestes aparentes reconhecimentos há o reforço da prisão do forte e mais uma vez, para sustentar o papel esperado ele engole o choro, o medo e segue só.
Eu conheço bem esse papel, passei por doenças na família, lutos, falta de dinheiro, relacionamentos abusivos, muitas vezes destruída emocionalmente não conseguia ver luz no fim do túnel e muito menos enxergava beleza na vida. No fundo eu só queria um colo pra chorar, um espaço seguro para demonstrar toda a minha fragilidade. Isso era tão profundo, escondido por diversas camadas de fortaleza que eu havia acumulado, que nem eu mesma conseguia ver.
Eu tenho diversos amigos e familiares maravilhosos que certamente teriam me acolhido e me dado os colos que eu tanto precisava, mas o problema não eram os outros, era comigo, eu não conseguia entrar em contato com a minha humanidade.
Eu sabia viver o papel de “forte”, afinal era isso que eu tinha aprendido e treinado toda a minha vida.
Minha libertação do papel “do forte” foi durante minha formação de coaching ontológico, finalmente após décadas, eu conseguir soltar o papel e me entregar para o que de fato eu sentia. Todos os meus medos e fragilidades emergiram e eu fui presenteada com um colo coletivo durante uma sessão presencial. E foi no colo dos amigos da equipe Baobá que pude me abrir para o que sentia e soltar a blindagem. Hoje eu sinto que posso SER “forte” e “frágil” e não há nada de errado com isso, porque não há nada de errado em ser humano.
A coisa mais linda que podemos recuperar é nossa plasticidade, que nos permite navegar com leveza pelo que sentimos. Afinal, viver consiste em termos dias bons, outros nem tanto e está tudo bem. Não estamos aqui para ganhar competições de quem é mais forte, feliz, ou quem é mais bem-sucedido ou bonito. Estamos aqui para viver nossa vida da maneira que julgamos ser melhor para nós.
Estamos aqui para cuidar do que nos importa cuidar!
A vida é um sopro, uma linha tênue; quando nos damos conta ela nos escapa sem pedir licença e ela é muito curta para vivermos na solidão dos papéis que construímos e reforçamos para nós. Para mim a vida tem sido mais simples e profunda quando eu simplesmente me permito ser e sentir. Sem medo de pedir ajuda, de entrar em contato com minhas vulnerabilidades. Afinal, é desde minhas fragilidades que sou verdadeiramente forte, pois são elas que me fazem humana.
Existem abraços e mãos de pessoas iluminadas que certamente não querem que você se sinta só, permita-se ser cuidado, você não precisa ser forte em tempo integral.
Aproveito para agradecer a todos que me conduziram e me conduzem quando meus olhos confusos não conseguem ver a melhor saída. Hoje entendo que eu não preciso ser “forte” eu só preciso SER eu mesma e isso me traz muita paz.
Franciele Ropelato
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