Tendências Instintivas
Quero ser uma pessoa e um profissional melhor. Por onde devo começar?
Essa pergunta foi deixada numa caixinha de perguntas que eu abri no Instagram na semana passada. E ela é tão instigante que eu decidi conversar com vocês sobre isso por aqui também. Porque muitas vezes profissionais que trabalham com processos de autodesenvolvimento são vistos como gurus que sabem exatamente o caminho que a pessoa deve percorrer para alcançar o tão almejado autoconhecimento (e claro que a verdade está bem longe disso).
No mundo do Coaching, temos a tendência em começar pelo objetivo: “Onde você quer chegar”? Frequentemente ouvimos e repetimos frases impactantes que já se tornaram jargões como: “São suas decisões e não suas condições que determinam seu destino”. E isso é verdade e não é ao mesmo tempo. Porque decisões tem a ver com focar na solução de um problema. E a condição de cada pessoa, já é outra coisa, bem diferente. Retomaremos esse assunto “problemas x condições” num próximo artigo (prometo!).
Voltando à pergunta inicial, o primeiro passo para um processo de autodesenvolvimento é… um bom diagnóstico. Precisamos mapear o cenário de infância, qual era a energia (e condições) desse cenário para entender que personagem a pessoa adotou para viver, sobreviver, lidar e/ou lutar com as pessoas e com o mundo. E para esse trabalho não existem fórmulas mágicas nem questionários prontos. Aqui é necessário um trabalho sério, honesto, humilde e verdadeiro de autoindagação para que possamos identificar qual é o pulso desse personagem e quais são suas características, habilidades e comportamentos não adaptativos.
Uma ferramenta que me trouxe muita clareza sobre o que move minha personagem e tem apoiado muitos clientes meus é o estudo das Tendências Instintivas.
Elas representam a primeira dimensão do Eneagrama e nos trazem os valores mais fundamentais, não morais. Aquilo que valorizamos. Aquilo que intuitivamente acreditamos que é mais importante e, portanto, colocamos mais atenção. Eles estão no coração de nossos sistemas de valores – as necessidades biológicas fundamentais que mais importam para nós.
Dentro das Tendências Instintivas, nós vemos três domínios, três conjuntos de coisas que possam nos importar, a importância que damos a cada uma delas e a implicação que isso tem. Todos nós prestamos alguma atenção aos três domínios, mas tendemos a concentrar neles de forma desigual e estamos inclinados a um desses domínios de forma mais notável que os outros.
Essa Tendência Instintiva cria padrões distintos de comportamentos nas pessoas e essas tendências podem ser a fonte de nossas maiores forças e fraquezas mais desafiadoras. Eles também podem ser a resposta para o fato de interagirmos efetivamente com algumas pessoas, mas não com outras.
As Tendências Instintivas são:
Preservar
Tendem a se concentrar em garantir que eles e aqueles com quem se preocupam tenham comida, abrigo e todos os outros recursos suficientes que não apenas sustentam a vida, mas a tornam confortável. Eles estão sintonizados com as necessidades relacionadas à sua saúde e bem-estar e, muitas vezes, são colecionadores ou cultivadores das tradições e artefatos que criam uma sensação de continuidade com o passado. Eles podem cair na armadilha de superar suas tendências de preservar, nunca sentindo que têm o suficiente do que precisam, que algo possa atrapalhar seu conforto ou bem-estar, ou acreditando que os recursos são escassos, mesmo quando não o são.
Navegar
Elas tendem a se concentrar no funcionamento do grupo e em seu status (e de outros). Eles querem entender a hierarquia do grupo, as interrelações dos membros do grupo e como eles podem se encaixar melhor. Eles são “redes suaves” que não se pressionam contra os outros, mas mantêm conexão com uma rede ampla e flexível que permite um fluxo de informações sobre questões de confiança e reciprocidade. Eles podem exagerar suas tendências de navegação e serem percebidos como fofoqueiros, ou ficar muito preocupados com a maneira como os outros os percebem. Eles podem dizer às pessoas o que querem ouvir (em vez de toda a verdade) ou parecer esnobes que menosprezam aqueles que não atendem aos seus critérios de inclusão no grupo.
Transmitir
Tendem a se concentrar em demonstrar seu charme, carisma e realização. São mais ruidosos e comunicativos. Sua comunicação é massiva e seletiva – transmitem inconscientemente sinais que atraem a atenção e depois se concentram em indivíduos receptivos aos sinais, estabelecendo intensa conexão com indivíduos específicos, mesmo que por pouco tempo. A tendência de Transmitir, também os leva a deixar uma marca em seu mundo, criando um legado que garante que parte deles continue viva. Eles podem exagerar suas tendências de Transmitir e chamar muita atenção para si mesmos, ocupando todo o “espaço” da sala e deixando os outros se sentindo sem importância ou ignorados ou, inversamente, sufocados pela intensidade do transmissor.
Identificar qual é a sua Tendência Instintiva dominante, te proporcionará uma visão ampliada sobre a sua personagem, o seu piloto automático e isso abrirá um espaço para que você possa reconhecer QUEM VOCÊ É e a partir da sua autenticidade, decidir “Onde eu quero chegar” e quais são os comportamentos adaptativos que me levam até lá. Um passo de cada vez, lembrando que passos felizes valem por três 😉
Liz Cunha
https://www.lizcunha.com.br/
Confira também: As dimensões do processo de formação da personalidade
Participe da Conversa