Muitas vezes deixamos nossos desejos de lado e somos arrastados pelo movimento do grupo. O pior é que temos medo de desacelerar e deixar o grupo passar.
Sempre que possível, tento retratar minha própria realidade nos meus artigos. Ultimamente tenho percebido o cuidado que você precisa ter e as palavras que você precisa usar para se dirigir às pessoas. Todas falam muito em Inteligência Emocional, Resiliência, Comunicação Não Violenta, Empatia, etc. Contudo, o mais interessante é que só ouço muito estas palavras. Não as vejo em prática, por que será? Porque é mais fácil apontar, claro. Olho para mim. Sou sempre muito direta. De fato, sou espontânea, sincera (até demais), vou direto ao ponto.
Mas, educação e respeito são bons e eu também gosto. Ultimamente tenho praticado muito o ouvir. Só falo quando acredito que vou contribuir. Fico mais em silêncio. Percebo até nas reuniões pelas “N” ferramentas existentes na Internet, todos falando ao mesmo tempo. Sem respeitar o outro. Para que será que serve aquela “mãozinha” que você precisa levantar para falar? E assim começa a nossa história de hoje…
Numa manhã de domingo, muitos carros se dirigiam ao litoral. Com o trânsito a viagem seria mais desgastante. Então liguei o rádio para aliviar a tensão. Estava tocando uma música antiga.
– Muita gente decidiu ir à praia hoje. Eu não esperava todo esse movimento – comentei. Ele ficou pensativo durante alguns instantes.
– Vá para a faixa da direita e então desacelere – pediu. Achei que ele estivesse ou sentindo-se mal ou precisasse ir ao banheiro. Fiquei preocupada, pois estávamos longe do próximo posto de gasolina.
– Por que? Há algo errado? Você está bem?
– Fique sossegada. Só quero lhe mostrar algo – tranquilizou-me. Respirei aliviada. Mudei de faixa e então diminui a velocidade.
– Um pouco mais devagar, por favor – ele pediu. Vários carros começaram a nos ultrapassar. Após algum tempo, então olhei para ele aguardando instruções.
– Mantenha-se assim – disse como se estivesse lendo o meu pensamento. Lutei contra o desejo de acelerar e voltar para a faixa da esquerda. Os outros carros continuaram nos ultrapassando. Naquela velocidade, levaríamos o triplo do tempo para chegarmos à praia. Então comecei a ficar angustiada.
De repente, ele disse:
– Pronto, pode voltar a acelerar agora.
Obedeci, agradecida.
– O que você queria me mostrar? – perguntei. – Não vi nada.
– Não está vendo porque não quer. Repare como a estrada está mais vazia. Cerca de cem metros à nossa frente ia um agrupamento de carros. Todos muito próximos uns dos outros. Olhei pelo retrovisor e vi outro grupo cinquenta metros atrás de nós. Parecíamos estar num vácuo do trânsito.
– Caramba! Como você fez esta bruxaria? – exclamei!
– Não seja boba. Apenas diminuímos a velocidade e saímos da aglomeração. Talvez você não saiba, mas as pessoas têm necessidade de permanecer em grupos, mesmo quando não se conhecem. A estrada é um exemplo típico. Quando se sentir pressionada, basta diminuir um pouco a velocidade e assim o grupo passará por você, deixando a estrada livre.
Instintivamente acelerei um pouco mais, tentando alcançar os carros da frente. E então entendi o que ele quis dizer em relação à necessidade de estar próximo dos outros.
– Lá atrás vem vindo outro grupo – ele continuou.
– Se você souber administrar ficaremos entre os dois e teremos a estrada praticamente vazia para a nossa viagem. Se o grupo de trás nos alcançar, poderemos diminuir a velocidade e deixá-lo passar. É só isso – concluiu.
Vi os dois blocos de carros aglomerados e, de fato, era muito mais tranquilo viajar no intervalo entre eles.
– Incrível! Na autoescola que frequentei não me ensinaram este truque. Onde você aprendeu a dirigir? – perguntei.
– Esse fenômeno tem mais relação com a capacidade de observar o comportamento das pessoas do que com o ato de dirigir carros – ele respondeu.
– Na vida, enfrentamos situações semelhantes a essa todo o tempo. Muitas vezes deixamos nossos desejos de lado e somos arrastados pelo movimento do grupo. O pior é que temos medo de desacelerar e assim deixar o grupo passar – comentou.
Pensei um pouco antes de perguntar.
– Será falta de personalidade?
– Colocando dessa forma, parece ser algo ruim, mas não é bom nem ruim, é apenas uma característica que possuímos. Só precisamos ficar atentos para saber se estamos fazendo algo porque acreditamos ou porque estamos sendo levados pelo grupo.
– Devemos fazer como os navegadores experientes: saber aproveitar o movimento das correntes oceânicas para nos levar a grandes distâncias. E manobrar por nossa própria conta quando assim for necessário – concluiu.
– Muitas vezes precisamos do apoio do grupo para empreender os nossos projetos. Na África, por exemplo, uma zebra fica mais segura quando está no grupo. Sozinha ela se torna desprotegida e vulnerável. Então encontre um grupo que possua um ritmo adequado, semelhante ao seu, e tudo será mais fácil. Por outro lado, se estiver se sentindo desconfortável, como estava havia pouco no agrupamento de carros, saiba desacelerar e deixá-lo ir.
– Parece bem lógico – afirmei.
– No entanto, é difícil colocar em prática, pois acreditamos que, ao diminuir o ritmo, perderemos alguma coisa.
– O importante é não confundir o seu ritmo com o do grupo. E não ter medo de deixá-lo quando sentir incompatibilidade. Como disse, o bom navegador sabe quando deve entrar na corrente e também quando é hora de remar sozinho.
– Agora é só aplicar o conhecimento à vida. E então assumir as nossas responsabilidades e tomar as decisões necessárias. Não se deixe conduzir pelo ritmo do grupo. Vamos arregaçar as mangas e ouvir mais o nosso próprio coração.
Preparem-se, pois vocês terão bastante trabalho. Mas o melhor está por vir.
Assim como o exemplo do carro na estrada, o próximo passo é estender este conhecimento para toda vida. Pode ser que no começo vocês não saibam como fazê-lo, mas tenha certeza que encontrarão o melhor caminho.
Cito pedaços do “O Livro da Bruxa” de Roberto Lopes – Advogado, Engenheiro, Médico além de Escritor.
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Até o próximo encontro!
Elizabeth Kassis
Coluna Tudo Azul
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