Pandemia = Crianças + Internet. Essa equação fecha pra você?
Sempre fui supercuidadosa e cautelosa com o uso de eletrônicos e Internet pelas minhas filhas. Uso de celulares ou computador com horários pré-definidos, monitorados, orientados e acompanhados.
Sempre dei preferência para estimular o brincar livre (pois nessas brincadeiras elas trazem muito da vivência emocional), leitura de livros em papel, o artesanato e atividades físicas. Elas também não tinham (como ainda não têm) qualquer tipo de rede social. Também saímos da cidade para morar no sítio.
Mover-se na contramão da humanidade tem seus desafios…
Um deles foi que a “melhor amiga” da minha filha mais velha preferiu ser a BFF (best friend forever) de uma outra menina que ficava com o WhatsApp liberado e dessa maneira podiam passar todas as tardes conectadas. Por óbvio, essa não foi a única causa… tem a questão da afinidade e tudo mais.
Mas a disponibilidade conta um bocado nessas questões. Minha filha durante a tarde, em tempos antes da pandemia, estava no inglês, handebol, dança, equitação… Estava vivendo uma vida real e saudável (sob a minha perspectiva).
Entretanto a reflexão que quero trazer aqui é que nessa nova modalidade de ensino, que chamam de Homeschooling (mas que tá mais pra “Hellscholing”), tirou nossa possibilidade de escolhermos por nós mesmos.
Vocês estão sentindo isso também ou sou só eu?
Além das aulas presenciais on-line, trabalhos em grupo (onde então precisam do WhatsApp para se organizar), pesquisa (na Internet) que empurram nossas crianças, nosso pequenos para o mundo digital e deixam, nós pais, encurralados.
A sensação que eu tenho é que travei uma guerra com esse mundo tecnológico e que estou perdendo feio. Quando tiro o celular, para que possam se desintoxicar um pouco, meia hora depois precisa para fazer um vídeo pra aula tal, ou gravar uma música para a escola divulgar não sei onde, ou fotografar o trabalho Y pra subir na plataforma.
O problema maior não é essa demanda da escola. O pior é que entre um vídeo e outro, uma gravação e outra, ou mesmo durante a aula ao vivo, eles estão com câmeras e microfones desligados (muitas vezes desabilitados pelo próprio professor), acessando vídeos do YouTube ou qualquer outro assunto que a gente nunca vai fazer ideia.
Ou você tá conseguindo ficar sentado do ladinho do seu filho tipo fiscal para se assegurar de fato que ele vai permanecer conectado e atento única e exclusivamente na aula oferecida pelo colégio?
Se a gente não deixa nossas crianças, nossos filhos sozinhos na rua da cidade, no shopping, metrô ou onde quer que seja, não faz sentido deixá-los sozinhos na Internet. É muito, muito, muito pior!! É como se ele estivesse solto no mundo, a apenas um clique da tela… exposto a qualquer tipo de situação. Eu não sou tipo 6 e já estou surtando com isso. Tipos 6, por favor, me contem como está sendo isso para vocês?
Eu sei que as tecnologias digitais trouxeram bastante conforto para os adultos. Se a criança pequena não quer comer, liga o tablet e enfia a comida pra dentro. A criança não terá registro do aroma, sabor, textura da comida. Nem consciência do que está consumido, mas pelo menos estará alimentada e isso acalenta o coração das jovens mamães.
Criança com celular não grita, não chora, não se machuca, não suja a roupa nem bagunça a casa, não perturba a sua reunião online. Sensacional, não?
Não. Definitivamente não! Tenho estudado muito sobre os perfis comportamentais, vínculos, fusão emocional, abandono e desamparo emocional que vivemos na nossa infância. Tenha consciência que deixar seu filho, sozinho, na frente do computador ou com o celular na mão, é desamparo também.
Neste final de semana do feriado, chuvoso, tivemos oficina de artesanato aqui em casa. Minha filha mais velha construiu uma máquina que Paper Squischy. Ela fez tudo sozinha: projeto, coletou materiais recicláveis, adaptou outros para substituir o que faltava e passou horas intermináveis na execução da máquina e dos Papers Squischys.
(Talvez você esteja se perguntando o que é essa máquina e o que são esses Papers Squischys. Ou, dependendo do seu tipo, já tenha ido pesquisar no Google… A questão aqui é que não importa “o que” ela fez. O que importa aqui é a arte em si, o empenho, a concentração, a criatividade. Ela poderia ter feito bolinhas de barro e teria o mesmo efeito: criar algo com as próprias mãos.)
Eu me mantive sempre próxima e disponível para o que ela precisasse. Quando finalmente ela concluiu, olhou pra mim com um brilho no olho e uma energia de satisfação difíceis de descrever e falou:
“Tô me sentindo tão orgulhosa de mim mesma!”
Acho que é isso que todas nós mulheres deveríamos buscar na vida: sentirmo-nos orgulhosas de nós mesmas. De quem somos, das nossas escolhas, dos nossos tropeços, do nosso processo, da nossa maternagem.
Ouso dizer que isso é quase impossível se estivermos submersas no piloto automático do nosso “tipo”, submersas no mundo digital e nos comparando com os contos de fadas que incontáveis Influencers tentam nos vender.
E para as adolescentes isso é ainda mais devastador…
Eu gostaria muito de saber como você, na vivência do seu padrão de comportamento, está vivendo isso no seu âmbito familiar…
TÁ BOM PRA VOCÊ?
Gostou do artigo? Quer me dizer como como você tem lidado de fato com a equação CRIANÇAS + INTERNET durante a Pandemia? Então entre em contato comigo. Terei o maior prazer em responder.
Liz Cunha
https://www.lizcunha.com.br/
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