O que é preciso para utilizar a CNV no mundo corporativo?
Uma das coisas que escuto quando estou trabalhando em grupos ou individualmente é: como posso utilizar a CNV melhor e por mais que eu me esforce o outro continua sem se sensibilizar. Qual o caminho?
Em primeiro lugar quando se pratica a CNV não é para você melhorar ninguém, mas sim como você poderá melhorar a si mesmo e saber conviver com as pessoas da forma que elas são e ao mesmo tempo buscando atender às suas próprias necessidades, independentemente do outro responder da forma como você gostaria. Para isso requer uma escolha e sair totalmente da ideia de que se eu me esforçar o outro vai entender a situação e irá melhorar. Isso é um engano. O que será importante é você entender como você funciona, quem você é, de que maneira você julga, qual seu nível de tolerância, paciência e aceitação.
Sair da ideia de que a CNV são ferramentas e que se eu souber aplicá-las, as situações e as coisas irão funcionar melhor. O que vemos são as pessoas acabarem utilizando a CNV nas organizações como se fossem analgésicos e isso não funciona.
O primordial será entender que a CNV é uma abordagem que irá nos trazer mais conexão conosco, mais empatia, aprender a expressar de forma genuína o que sente e o que percebe, sem acusar, criticar, julgar, dar opinião, aconselhar, interrogar ou competir pelo sofrimento. Aprender a diferença entre simpatia e empatia, bastante confundida não só no mundo corporativo.
Passei mais de 30 anos no mundo corporativo, vivenciei 5 fusões e aquisições de bancos e trabalhei em mais de 9 multinacionais. Entendi que precisava desaprender para aprender como as relações do mundo de hoje precisam de humanização e ressignificação de crenças, muitas delas rígidas aprendidas ao longo de muitos anos. Ouvi tantas colocações com rótulos em relação às pessoas ao invés de abrir um espaço interno para entender o que levou o colega ou gestor a fazer isso ou aquilo.
Só será possível viver a CNV e trazer um novo olhar para as relações intra e interpessoais se a praticarmos diariamente, a cada momento, a cada situação. E aceitar o outro como ele é e não como nós gostaríamos que ele fosse.
Observamos as crenças, rótulos, julgamentos, avaliações, julgamentos e críticas a cada instante de nossas vidas, pois foi assim que fomos educados. Temos uma grande oportunidade ao longo desta pandemia para olhar e viver de outra forma. O convite é explicito para olharmos para dentro de nós. Infelizmente muitos ainda insistem em manter as crenças, regras, padrões e formas de convivência de sempre. O caminho para mudança estar em fazermos uma ressignificação profunda nos padrões aprendidos e vividos desde muitos anos.
Quando estamos no mundo corporativo em várias ocasiões trabalhamos com quem não gostamos, não concordamos e desconfiamos. Isso faz com que a pessoa esteja sempre em alerta e querendo manter o controle com medo de ser vulnerável e o que isso traz? Doenças psicossomáticas, orgânicas de toda a ordem e por isso a cada dia vemos que muitas pessoas desejam sair do mundo corporativo. O que não se tem clareza é que iremos conviver com todos os tipos de pessoas, educação, valores e experiências diferentes. O que poderemos é aprender a melhor forma de convivência entre todos. Isso só é possível quando deixarmos de acreditar que o outro é a causa da minha raiva ou da minha tristeza.
Tenho feito um curso sobre compaixão de Tom Bond, um facilitador de CNV, nos Estados Unidos, que me trouxe o entendimento entre o que é estímulo e a causa. Ele nos diz que “outras pessoas não me causam dor. As minhas necessidades me causam dor. As outras pessoas apenas estimulam as necessidades em mim.”
Quando conseguimos distinguir entre o que é estímulo e o que é causa, torna possível encontrar uma maneira mais compassiva e empoderada de pensar e lidar com as situações. Ele nos diz que quando alguém me agride me causa dor e essa é a forma de olharmos para as coisas. Quando eu vou para esse lugar, isso me leva para desconexão, vitimização, podendo chegar à impotência.
Tom coloca que a diferença entre o estímulo e a causa não é a “verdade” e não se tratar de “ter razão”. O que ele nos leva é buscarmos ter um novo olhar que possa me trazer escolha. É uma escolha de ser compassivo quando são feitas coisas por outras pessoas que eu não gosto, que me engasgam. E escolho ver as coisas por outra perspectiva de forma a me encorajar e me empoderar. Assim consigo descobrir novas formas de melhor viver comigo mesmo.
O convite é para mudarmos o foco, ou seja, diante de uma situação ao invés de nos concentrarmos na pessoa que “acreditamos que nos fez mal”, no seu comportamento, conseguirmos dar um passo para trás, observarmos os próprios julgamentos em relação à pessoa e o que eu gostaria que fosse diferente na pessoa. A mudança está em focar para as próprias necessidades e como poderá cuidar melhor de si mesma.
Para poder praticar dessa forma não existe fórmula mágica e nem passo a passo para seguir. Mas sim abrir um espaço interno de permissão para fazer observações e escolhas diferentes das quais está habituado. E isso demanda esforço, conhecimento, disciplina e vontade de mudar para viver melhor consigo mesmo.
Abraço e desejo para você uma vida mais compassiva e, como Marshall dizia, mais maravilhosa.
Gostou do artigo? Quer saber mais como utilizar a CNV nas corporações? Então entre em contato comigo. Terei o maior prazer em responder.
Wania Moraes
http://www.waniamoraes.com.br/
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