Quando alguém vive um luto perto de mim, como eu posso ser companhia de qualidade?
Eu tenho medo do luto, de viver ele, de falar dele. Percebo que tenho medo do inesperado, do incontrolável, do não sabido. Tenho medo da distância, da saudade sem fim, da solidão. Medo da impotência, da indiferença. Assim, tenho medo de viver a morte, medo de não saber acolher a morte, experimentada por mim através dos meus queridos, ou experimentada pelos meus queridos através dos deles.
Medo de não ter as respostas para muitas perguntas. Como melhor viver o luto? Como ser forte? Chorar faz bem? Recolher-se à tristeza é o caminho? Entregar-se aos sentimentos ou não? Seguir o fluxo da vida, manter o ritmo? Mandar flores? Abraçar? Ligar? Mandar mensagem? Esperar um pouco, ou não? Desmontar as coisas de quem morreu, doar tudo, ou guardar por um tempo – isso faz bem ou faz mal? Vamos falar sobre quem morreu, ou não, isso pode doer em quem ficou?
Depois de me ver discutindo esse tema em muitas Rodas de Conversa (sou facilitadora de conversas), porque querendo ou não isso acontece e, ainda que não seja o tema principal da Roda, a morte fez e faz mais parte da vida do que nunca, eu já consigo fluir melhor no assunto e já não tenho mais necessidade de ter tantas respostas.
Fui entendendo que o luto é pura diversidade. Noto que não posso definir o que é certo ou errado sobre como viver e acolher esse momento e todos os sentimentos que permeiam essa fase da vida.
Fui ressignificando o que é ser companhia de qualidade para quem, ao meu redor, experimentou o luto. E assim, me preparo também para o momento em que for viver os meus. É um troca poderosa.
Me coloca à disposição, me torno acessível, exercito meu interesse e me distancio do julgamento. Se você quiser falar, posso te ouvir, posso ser espaço seja para o que for. Se você quiser chorar posso sustentar a tristeza com você. E se você quiser voltar a trabalhar no mesmo dia, eu posso acolher sua decisão, assim como posso estar ao seu lado se você mudar de opinião. Se eu tiver vontade de falar, posso te perguntar se você tem vontade de ouvir, e juntos podemos entender o que melhor funciona pra gente. Juntos podemos encontrar o próximo passo melhor, sem pressa, no seu tempo.
O próximo passo vem, sempre vem. Se você pensar nos lutos que já viveu, talvez nem possa dizer como a dor se transformou, mas você talvez saiba que não vive mais apenas a partir dela.
Quero repetir padrões apenas se eles fizerem sentido pra você. Se você preferir, ao invés de uma coroa de flores, posso enviar minhas comidas caseiras congeladas para que não precise cozinhar por uma semana. Posso levar seus filhos para passear enquanto você chora tranquila. E se você não puder me dizer o que é melhor agora, porque você nem sabe, eu posso olhar ao redor com atenção e perceber o que pode fazer alguma diferença para o seu momento.
Entendi que o luto é um momento de vida, que chega a partir da morte de algo e/ou de alguém, dentro e/ou fora de nós, e que abre espaço para muitos sentimentos. Luto é um movimento sem ordem, sem dimensão previamente definida, sem prazo de validade. Luto não tem que ser curado, luto pode ser cuidado.
Se você está próximo a alguém que viveu um luto, te convido a ser companhia de qualidade para essa pessoa, se for possível pra você.
Eu estou falando com você: amigo querido, família próxima, colega de trabalho, liderança, liderado, RH – eu estou falando com você que está perto de alguém que vive um luto, que tem a chance de facilitar um momento tão importante da vida como esse.
Se você gostaria de ter a nossa companhia, para ser companhia para alguém, aproxime-se. Mensalmente, nós, do De Pessoa Pra Pessoa, temos Rodas de Acolhimento, sempre abertas para toda a comunidade, onde esse tema e outros são sempre bem-vindos. E já abrimos a nossa lista de interessados para o Curso de facilitação do Luto, voltado para profissionais de RH e lideranças, porque é preciso sair do senso comum, e ampliar os temas intencionalmente.
Gostou do artigo? Quer saber mais sobre como ser uma companhia de qualidade de alguém que vive um luto? Então entre em contato com a gente. Teremos o maior prazer em responder.
Anne Bertoli & Brunna Martinato
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