O Difícil Caminho do Meio
Opiniões diferentes são importantes e enriquecem a cultura e a vida social. Mas quando as divergências são tão profundas a ponto de separar famílias e afastar amigos, induzindo a agressões gratuitas, alguma coisa parece estar bastante errada.
Qual é a verdade? Quem está com a razão? Parece que nos últimos tempos a dualidade virou modo de vida e substituiu qualquer tipo de bom senso, compreensão, entendimento e liberdade de pensamento. Tudo virou uma questão de ser contra ou a favor, esquerda ou direita, informado ou desinformado, sábio ou burro.
E quem não quer escolher um lado? Diz-se que está em cima do muro.
Não é bem assim! É perfeitamente possível – e bem mais difícil, com certeza – escolher o Caminho do Meio, entre os extremos. Ou, como disse Aristóteles, a “Média Dourada”, já que “toda virtude é uma média entre dois extremos, cada um dos quais é um vício”.
Caminhar em equilíbrio, entre os dois extremos, é reconhecer que cada lado, a seu modo, possui pontos bons e pontos ruins; sombra e luz; maldade e bondade; destruição e construção; amor e ódio – não é a vida em si a harmonia das contradições? Não somos, cada um de nós, nascidos e forjados sobre opostos?
Caminhar no Meio é estar consciente todo o tempo, fazer escolhas, ter clareza de pensamento, agir corretamente, esforçar-se o quanto for necessário, manter a atenção correta e buscar a harmonia entre a mente e o corpo. E, sim, ser passível de dúvidas.
Não sei quanto a você, mas para mim posso contar nos dedos o que poderia ver como verdades absolutas, como a terra ser redonda e girar em torno do sol, por exemplo. Se olharmos para a história da humanidade, quantas verdades tidas como absolutas se tornaram relativas com as descobertas, estudos e criações? E a cada dia, há mudanças significativas.
Aliás, aprender é mudar.
Ouvi de uma pessoa muito querida, há dias, que enquanto as pessoas continuarem em cima do muro, achando que os dois lados são iguais, as coisas só vão piorar. Em outras palavras, que é preciso escolher um lado para o mundo melhorar. Discordo completamente. Estar em lados opostos foi sempre a causa de todas as guerras que dizimaram milhões de pessoas. A prova está aí, até hoje, nos fatos mais recentes, como a retomada do Afeganistão pelo Talibã.
Intolerância talvez seja a atitude mais forte hoje, principalmente com as redes sociais, onde se diz o que se quer, na hora que se quer, a qualquer desafeto. E todos nós nos perguntamos até onde deve ir essa liberdade – nunca dantes 1984, de George Orwell, com o Grande Irmão, foi tão citado. Pelos que são contra. E pelos que são a favor.
Penso que tolerância não é exatamente fácil de exercitar. Bem como aceitação. Ou o entendimento de que é possível conviver com o diferente. Mas concordo com S.S o Dalai Lama que “nosso bem-estar pessoal está intimamente ligado não só ao bem-estar dos outros, como ao ambiente em que vivemos”.
Mais que isso, ele afirma que “também se torna evidente que nossas ações, feitos, palavras e ideias, por mais insignificantes ou irrelevantes que possam parecer, têm uma implicação não apenas para nós mesmos, como também para outras pessoas”.
Procuro ser consequente sempre porque tenho consciência do impacto que podemos causar. É claro que a dualidade está presente na maioria dos meus pensamentos, mas ao buscar o equilíbrio, escolho o Caminho do Meio, procurando reconciliar os opostos e forjar o melhor que consigo.
Você concorda? Ótimo! Você discorda? Ótimo!
Não há absolutamente ninguém que seja dono da verdade. O que há é o grande desafio de enfrentar os problemas da vida identificando suas raízes e os meios para resolvê-los, com a intenção de criar harmonia. Não há certo, não há errado: há algo mais fundamental, que é a nossa humanidade, o respeito pela dignidade e pela vida.
Parece uma atitude passiva diante da vida? Não é. Nem conformista. É apenas buscar o equilíbrio.
Aliás, o Caminho do Meio é uma prática budista – e vai muito além do que escrevo aqui. Depois de viver na riqueza por anos, o príncipe Sidarta se retirou para a floresta vivendo em silêncio e jejum em busca da iluminação. Então percebeu que o controle excessivo é tão ruim e ineficaz, quanto a licenciosidade, para a vida espiritual – o melhor caminho para seguir era no meio, entre ambos.
E Siddhãrtha Gautama compreendeu que a verdade da existência humana não estava nos extremos, nem no luxo, nem na privação. Tornou-se Buda, o Iluminado.
Uma frase que conheço desde pequena, repetida incansáveis vezes por minha mãe, me ensinou que, na vida, deve-se seguir a afinação das cordas do violão: “se apertar demais, arrebenta; se deixar frouxa, não toca”. O equilíbrio, enfim.
Gostou do artigo? Quer saber mais sobre o difícil Caminho do Meio? Então entre em contato comigo. Terei o maior prazer em responder.
Isabel C Franchon
https://www.q3agencia.com.br
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