Em qual Geração do Coaching você está?
Os profissionais de Coaching enfrentam, continuamente, o desafio de encontrar o caminho mais adequado para desenvolver a intervenção com seu cliente. Isso significa planejar a escolha da metodologia (e as ferramentas) e, acima de tudo, ter uma clara percepção de como poderá avaliar a evolução, de sessão em sessão. Daí ser fundamental que esses profissionais sempre estudem e pesquisem o que está acontecendo na fronteira do conhecimento.
Especialmente, no meu caso, essa tem sido minha postura desde 2011, quando realizei uma primeira pesquisa (com rigor acadêmico) sobre as dimensões do sucesso em Coaching , no contexto brasileiro. Então depois, fui me atualizando com outros estudos, leituras e a evolução da prática do Coaching vis-à-vis com a evolução dos comportamentos sociais. Em outras palavras, a cada momento muda a forma como as pessoas pensam, julgam e, inclusive, como surgem novos graus de exigência dos coachees (clientes).
Tomemos por base um estudo bem interessante realizado pelo Professor e PhD Reinhard Stelter, da Universidade de Copenhagen, na Dinamarca. Seus achados de pesquisa foram publicados na International Coaching Psychology Review (Vol. 9 – March 2014), com a assinatura da The British Psychological Society. Sua motivação foi a de entender como a prática do Coaching variou ao longo do tempo. E chegou ao estágio que ele chamou de “Coaching de Terceira Geração”.
Para Stelter, o Coaching de terceira geração aponta para um novo universo e nova relação com a estrutura das pesquisas sociais, especialmente quanto às teorias de aprendizagem e o desenvolvimento da liderança pessoal.
A atual prática do Coaching passa então a ser analisada sob uma nova perspectiva social. Perspectiva esta onde se estimula o diálogo e o conhecimento moldado (e aplicado) em contextos e situações complexas. O que, em última instância, leva cada pessoa a necessariamente ter competências especiais de autorreflexão e de negociação.
O Coaching de terceira geração foca no coach e no coachee em uma narrativa colaborativa, na forma de parceria. Se no Coaching de primeira geração o profissional tinha por objetivo ajudar o coachee a atingir uma determinada meta; se no Coaching de segunda geração o coach assumia que o coachee teria conhecimento implícito da solução para desafios específicos; no Coaching de terceira geração a agenda estará menos orientada para objetivos e mais focada em conceitos como por exemplo: valores, propósitos e identidade.
Para o autor do estudo, o Coaching de terceira geração envolve quatro perspectivas que fornecem a estrutura e a base que esclarecem (o como e o porquê) a prática do Coaching como sendo integrante de processos de desenvolvimento social. Vale lembrar, os padrões de convívio social, bem como as condições de vida e de trabalho, passaram por significativas transformações ao longo das últimas três décadas, modificando a relação de demandas dos clientes com as possibilidades do Coaching.
As quatro perspectivas citadas, a saber:
Legitimidade social:
Nesta perspectiva, o Coaching é aplicado como resposta a desafios tardios e modernos em uma sociedade que, de fato, mudou radical e rapidamente. Vivemos em um mundo com acontecimentos globais e impactos locais, caracterizado por hipercomplexidade, em que as pessoas enfrentam diversidade crescente, cada uma com a sua própria lógica de desenvolvimento. A modernidade desintegra a estrutura protetora das comunidades locais e, para o autor do estudo, a prática do Coaching oferece uma resposta possível, mais especificamente em como geramos conhecimento, construímos nosso senso de identidade e encontramos significado em nossas vidas.
Coaching, identidade e autoconstrução:
No estudo, Stelter afirma que o ser humano, no momento atual, pode ser comparado a um nômade inquieto, sobrecarregado por inúmeras possibilidades e formas de agir, por um lado, porém desorientado sobre o que fazer e como se comportar, de outro lado. Assim, o Coaching como forma de diálogo oferecerá ao coachee um espaço para autorreflexão, no qual ele pode revisar e refinar as posições e conceitos próprios, bem como trabalhar sua identidade e se ver sob uma nova luz.
Coaching e aprendizagem:
A aprendizagem sempre pode ser vista como um processo transformador, isso valendo para qualquer pessoa. A maneira como nós aprendemos e nos desenvolvemos envolve uma reinterpretação, em vários sentidos, que a prática do Coaching e a do diálogo podem estimular. Essa autorreflexão nos levará a explorar percepções e experiências com o objetivo de revisar e reavaliar valores, ideais, sentimentos, decisões morais. Além disso, conceitos como liberdade, justiça, amor, trabalho, autonomia, compromisso e, até mesmo, de democracia.
Coaching na perspectiva organizacional e da liderança:
O uso mais amplo de Coaching é, sem dúvida, voltado ao desenvolvimento organizacional e das lideranças. A teoria dos sistemas criou o conceito de contingência, o qual descreve a impossibilidade de encontrarmos nítidas e inequívocas soluções para os problemas e desafios existentes. Como decorrência, liderar pressupõe aprender a lidar com o estado de contingência e, então, a assumir que certeza e segurança no processo decisório serão inatingíveis. A prática do Coaching serve bem para lidar com esse estado de contingência, provocando nos gestores e nas lideranças a chamada “metarreflexão” (o cliente refletindo a respeito de sua autorreflexão, ou seja, movendo-se para longe de uma postura fechada para alcançar melhor autoconhecimento e visão holística).
Stelter usa uma metáfora para o caso de organizações e lideranças, mas eu entendo que ela caberá também na condução de nossa vida pessoal. Para ele, a liderança é como uma viagem marítima sob condições climáticas variáveis. Isso requer que o líder encontre alguns (nunca conseguirá todos) pontos fixos para navegar. Nesse contexto, o líder então deve fornecer orientação. Segundo uma crescente corrente de estudos de gestão, os valores organizacionais podem servir como âncora e diretriz nas ações adotadas (sejam elas do gestor ou dos colaboradores), mantendo assim um curso mais adequado a cada momento dessa navegação.
Para o autor, o Coaching de terceira geração exige que sua condução explore ao máximo o diálogo e a capacidade na colaboração narrativa entre coach e coachee. Tanto na construção de significado para as experiências em curso como, acima de tudo, para manter foco em valores como guias orientadores.
Stelter oferece dois termos novos que merecem nossa reflexão: Protreptics (ou Metacoaching) é um termo adotado para o ato de se voltar, prioritariamente, à essência da existência humana. Em outras palavras, é a tradução filosófica para o Coaching focado em reflexão sobre valores, não em fatos ou em padrões de ação futura.
O Coaching de terceira geração deve ser visto como uma nova cultura de diálogo. Cultura esta onde o coach deixa de lado o papel de facilitador neutro, passando a se incluir como parceiro ativo no diálogo com o cliente. O Coaching de terceira geração também é sobre autorreflexões. no qual o coachee pode usar os pensamentos e reflexões de um parceiro dialógico (seja o coach ou o mentor) como impulsionadores de suas próprias reflexões, experiências, pensamentos e projeções de perspectivas futuras.
Por fim, resta a pergunta: qual a geração do Coaching que você profissional pratica? Será que você tem a capacidade de trabalhar com todas as gerações do Coaching , a depender do cliente? Como você identifica e descreve o comportamento de quem já passou por um processo de Coaching em contraposição a quem é iniciante? Pense bastante nisso e, caso queira se aproximar de uma pesquisa que pretendo desenvolver, com foco no cenário brasileiro, ainda dá tempo.
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Gostou do artigo? Quer saber mais sobre o Coaching de Terceira Geração? Então entre em contato comigo. Terei o maior prazer em responder.
Mario Divo
https://www.mariodivo.com.br
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