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Queremos voltar à Normalidade… Mas o que é Normal?

Essa é uma questão com várias respostas. O que será considerado e/ou foi considerado normalidade, para desejarmos tanto a “volta à normalidade”?

Queremos voltar à Normalidade... Mas o que é Normal?

Queremos voltar à Normalidade… Mas o que é Normal?

Existem vários conceitos de normalidade. Esta é uma questão com várias respostas. O limite entre o normal e o patológico é impreciso. Quando adoece, existe um mal-estar, além dos limites do corpo, que está na sociedade.

Onde termina a saúde e começa a doença? Os critérios para classificar o que é normalidade dependem de opções filosóficas, ideológicas e pragmáticas, de acordo com Canguilhem. Em resumo, a saber:

  1. Normalidade: ausência de doença;
  2. Normalidade ideal: A norma ideal do que, supostamente é um sujeito sadio;
  3. Normalidade estatística: O que se observa na maioria das pessoas;
  4. Normalidade como bem-estar: OMS em 1946: Saúde como complemento entre o bem-estar físico, mental e social e não apenas ausência de doença;
  5. Normalidade funcional: Sem sofrimento para indivíduo e/ou para grupo social;
  6. Normalidade como processo: Considera aspectos dinâmicos do desenvolvimento psicossocial, das desestruturações e das reestruturações ao longo do tempo;
  7. Normalidade subjetiva: Visão subjetiva do sujeito sobre o seu estado de saúde;
  8. Normalidade como liberdade: Doença é a fossilização desse aspecto existencial;
  9. Normalidade operacional: Definido o normal e patológico, opera-se conforme as definições.

Tão complexa a definição de “Normal” que os nove critérios não conseguem atender as demandas do mundo em que vivemos, neste final de 2021.

O que será, de fato, considerado e/ou foi considerado normalidade, para desejarmos tanto a “volta à normalidade”?

O mundo Pré-Pandemia, oferecia um cenário muito complexo e desigual. Seja nos aspectos sociais e econômicos, seja nos índices de atendimento e cuidado ao ser humano. Então, querer voltar à normalidade é algo absolutamente estranho, neste contexto.

Todos os aspectos da vida naquele mundo de antes, a vida “normal” assustam. Basta acompanhar os números da violência doméstica a mulheres, crianças, adolescentes, velhos, animais, etc. Sem entrarmos nos aspectos sociais, não menos importantes, das pessoas que estão nas ruas e precisam de comida, saúde, trabalho, escola. É impossível listar tudo.

Todos os conceitos listados para se definir a “normalidade”, nas mais diversas publicações, estão baseados em histórias de antes. A nossa realidade, neste novo conceito de vida que começa a ser desenhado, não está lá.

Logo no início dos períodos de paralisação das atividades sociais, as pessoas se encantaram com a possibilidade de poder trabalhar em qualquer lugar – a então liberdade do Home Office. E muitos foram para os seus endereços de fim de semana e de férias. Em alguns casos até foram felizes escolhas. Na maioria, descobriu-se que um bom destino aos finais de semana, não responde bem a semana inteira. De fato, faltam escolas para acolher as novas crianças, internet com bom desempenho, profissionais e estrutura de saúde que atendam à nova demanda, assistência e serviços, todos.

Aqueles que decidiram ficar na cidade, próximo de familiares, levaram um susto. Toda a estrutura que tinham a seu alcance, no tempo de trabalho presencial – desapareceu. Isso porque, as escolas e prestadores de serviços (de todas as indústrias) concentraram as suas bases em torno dos centros comerciais e de escritórios. Quando as pessoas voltaram para as suas casas, espalhadas por toda a região metropolitana das suas cidades. Esta estrutura não acompanhou.

Algumas empresas decidiram ainda durante os ciclos pandêmicos, manterem a base de trabalhadores em Home Office, para “sempre”. Outras decidiram que voltariam ao trabalho presencial e ainda as que definiram o modelo híbrido (alguns dias no escritório e outros em Home Office) – Tudo ainda, em tempos de pandemia. O que prevalecerá?

A volta ao trabalho e as escolas, em meio a crises climáticas extremas, falta de energia (em todo o mundo) em tempos em que não se imagina ficar sem energia. Quer no trabalho em Home Office, quer no presencial, começam a desenhar decisões diferentes, por diferentes razões. Poucos terão geradores nas suas casas, para fazer frente às oscilações do fornecimento de energia e água, apenas como exemplo.

Se tem algo que a tecnologia promoveu e promove no nosso cotidiano é a imensa quantidade de informações que promovem assim mudanças diárias na nossa vida.

Fato é que todas as notícias, ao mesmo tempo, usando os mesmos mecanismos “analógicos” para conquistar audiência: medo, susto, morte, perdas; causam uma sensação de total desarranjo e pânico ante questionamentos que nem dirigentes ou população em geral estão prontos ou aptos para responder/atender.

As crianças pedem sempre para repetir a mesma história, centenas de vezes, para que tenham a certeza de que está tudo bem. Os adultos buscam sempre contar as histórias que já viveram ou as dos seus pais e avós – para terem certeza de que está tudo bem – reafirmam o caminho. Mas, e agora? Não temos nenhuma história que possa validar o contexto que estamos vivenciando.

Se tudo o que sabemos, historicamente, não incluía o que agora vivemos, só nos resta viver o grupo de regras do que eu chamo Ética Humana, simples e básica: Não faça ao outro o que você não deseja que seja feito consigo. Aceite de fato as mudanças como algo positivo sempre que salvaguardarem esse princípio básico. Algumas vezes é difícil identificar se as consequências são as desejadas. E teremos que esperar um pouco para entender.

Estamos vivos e estamos no momento mais desafiador da história da humanizada, em que tudo junto e ao mesmo tempo, muda desenfreadamente, todos os dias.

Todos queremos um mundo inclusivo, com trabalho, saúde e segurança (no sentido amplo e sem destruir a privacidade). Então, focar no que era bom e agora está mudado, não vai conseguir nos levar a esta sociedade que desejamos.

Impossível tentar ditar regras para um mundo que ainda não é real – um mundo que começa a ser esboçado: A prioridade ainda é salvar imediatamente os que estão com fome, nas ruas. Neste momento, não temos ideia do tempo real de proteção das vacinas e de quantas doses vamos precisar para, de fato, estarmos protegidos. Portanto, os modelos de trabalho e de reestruturação social ainda não estão sequer previstos.

Termos novas regras éticas e novos valores estéticos, assim como uma natureza que passa a agir de um modo diferente do que temos mapeado até aqui, nos desafia a recriar a sociedade. Os indivíduos têm agora a chance de se definir e agir conforme as suas naturezas – desde que garantam a subsistência. Vivemos o mais complexo momento da nossa história neste planeta.

Os desafios são enormes. A história está sendo reescrita, todos os dias. Vamos lutar pelo melhor do ser humano sem cair nas ciladas obscuras de certezas infundadas ou medo do que não sabe bem do que.

“A incerteza foi sempre o chão familiar da escolha.” (Zygmunt Bauman)

Gostou do artigo? Quer discutir mais sobre o que é normal e a tal volta à normalidade? Então entre em contato comigo. Terei o maior prazer em responder.

Sandra Moraes
https:// www.linkedin.com/in/sandra-balbino-moraes

Confira também: Precisamos, com urgência, VOLTAR À NORMALIDADE E CELEBRAR!

 

Sandra Moraes é Jornalista, Publicitária, Relações Públicas, frequentou por mais de 8 anos classes de estudos em Filosofia e Sociologia na USP.É professora no MBA da FIA – USP. Atuou como Executiva no mercado financeiro (Visa International (EUA); Banco Icatu; Fininvest; Unibanco; Itaú e Banco Francês e Brasileiro), por mais de 25 anos. Líder inovadora desenvolveu grandes projetos para o Varejo de moda no país (lojas Marisa – Credi 21), ampliando a sua larga experiência com equipes multidisciplinares, multiculturais, altamente competitivos, inovadores e de alta volatilidade.
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