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E assim caminha a Humanidade!

Estudos têm conclusões polêmicas de como o estilo de vida atual, baseado em eletrônicos e mídias sociais, afeta a capacidade de relacionamento, a linguagem e o pensamento crítico, impactando diretamente o QI.

E assim caminha a Humanidade: Por que, pela 1ª vez na história, filhos têm QI inferior ao dos pais?

E assim caminha a Humanidade!
Por que, pela 1ª vez na história, filhos têm QI inferior ao dos pais?

Talvez a geração mais jovem associe esse título da postagem à bem conhecida música de Lulu Santos. Mas para os mais antigos, certamente virá à lembrança um filme épico de 1956. Um filme com 3 ½ horas de duração, estrelado por Rock Hudson, Elizabeth Taylor, James Dean, Carrol Baker e outros menos famosos. O roteiro conta a vida de três gerações de famílias texanas, desde 1923. Com seus conflitos amorosos, disputas econômicas e preconceitos (especialmente os raciais) – durante a corrida pelas descobertas de petróleo. O filme explorou questões sociais que se repetem ao longo de décadas. E venceu o Oscar de Melhor Diretor e ainda foi indicado em outras nove categorias.

Um aspecto dramático foi a morte de James Dean em um acidente de carro, em 1955, enquanto o longa estava no final da gravação (e pré-lançamento). O personagem Jett Rink (interpretado por Rock Hudson) foi inspirado na vida de Glenn McCarthy (1908-1988). Um imigrante irlandês que se tornou um dos principais empresários do petróleo, no Texas. Quem assiste ao filme pode acompanhar (e refletir) como muitas situações associadas ao relacionamento humano conseguem evoluir. Ainda que nem sempre na velocidade desejada (preconceitos de vários tipos são o exemplo mais presente até hoje), enquanto outras questões, infelizmente, involuem. Em outras palavras, ao invés de melhorarem elas pioram sensivelmente.

Esse é o caso típico dos estudos científicos que avaliam o que acontece com os indicadores de inteligência humana, ao longo das últimas décadas. Resumidamente, um primeiro estudo básico sobre Inteligência foi realizado pelo antropólogo inglês Francis Galton, que era primo de Charles Darwin, em 1884. Ele concluiu que há uma preponderante questão hereditária influenciando a Inteligência. Depois, já no início do Século XX, o psicólogo alemão Wilhelm Stern tentou elaborar uma fórmula para medir o quociente de inteligência. Mas foi o psicólogo Lewis Terman quem instituiu o padrão até hoje chamado de QI. O quociente de inteligência em escala fixada no padrão 100, chamada de Stanford-Binet.

Com o passar dos anos e décadas, e a partir de muitos novos estudos nesse campo, o fator hereditário ganhou novas companhias quando se tratava de medir o QI. Em meados dos anos 80, o pesquisador americano James Flynn publicou um extenso trabalho mostrando que os avanços na medicina, na educação e no pensamento crítico foram decisivos e contribuíram com o aumento da inteligência humana, algo que se tornou conhecido como “efeito Flynn”. O mundo conheceu um intenso crescimento do QI médio até os anos 70. E, depois, manteve um ritmo de crescimento em taxas menores, até o final do século XX.

Infelizmente, desde então, diversos estudos têm demonstrado que o mundo passa por uma questão preocupante quando se analisa o QI humano. Um estudo de grande porte realizado na Noruega, envolveu 730 mil testes aplicados em jovens convocados ao serviço militar (pessoas nascidas entre 1962 a 1991). Publicado em 2018, na revista científica americana PNAS, o estudo evidenciou que o QI médio dos noruegueses tem diminuído ano a ano. Outros trabalhos similares levaram a conclusões polêmicas de como o estilo de vida atual, baseado em eletrônicos e mídias sociais, chega a afetar a capacidade de relacionamento, a linguagem e o pensamento crítico.

Estudos sobre a questão da formação do QI chegaram também às crianças. Um estudo da Universidade de Alberta, no Canadá, mostrou que à medida em que cresce a exposição de crianças (de cinco anos ou menos) ao mundo digital, aumenta a possibilidade de apresentarem dificuldades de concentração. Os que passam além de duas horas por dia on-line têm cinco vezes mais chances de apresentar dificuldade de concentração e, também, de terem sintomas do transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH).

Mais recentemente, o neurocientista francês Michel Desmurget, diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da França, lançou o livro “A Fábrica de Cretinos Digitais (no original, La Fabrique du Crétin Digital)” em que apresenta, com dados concretos e de forma conclusiva, como os dispositivos digitais estão afetando seriamente — e para o mal — o desenvolvimento neural de crianças e jovens. O uso da tecnologia digital  pelas novas gerações tem sido absolutamente exagerado. Só para ilustrar, para crianças de 2 a 8 anos de idade, o consumo médio é de cerca de três horas por dia; entre 8 e 12 anos, a média diária gira em torno de cinco horas, e; na  adolescência, esse número sobe para quase sete horas, afetando em muito o desenvolvimento intelectual.

Entre vários aspectos marcantes que geram impactos no QI das novas gerações, vale a pena dar ênfase ao desenvolvimento intelectual (empobrecimento da linguagem, dificuldade de concentração e memória fraca). Esse agora conhecido como “efeito Flynn negativo” já foi constatado em cerca de 30 países, de todos os continentes. Certamente, muitos dos estudos desenvolvidos são questionados pela comunidade científica, seja pela qualidade da pesquisa ou mesmo pelas conclusões polêmicas (para não se dizer, preconceituosas). Há também outras linhas de análise bem interessantes que podem provocar nossa atenção e reflexão.

Em 2015, pesquisadores compilaram os resultados de 271 estudos realizados entre 2001 e 2010, e publicaram suas conclusões na revista Perspectives on Psychological Science. Para eles, o QI não diminui, mas sim cresce mais lentamente do que ocorria antes. E eles levantam uma tese que merece reflexão: “O teto do QI foi atingido”. Seja qual for a opinião dos leitores sobre essa afirmação, o ponto que esta postagem quer destacar está em se identificar uma correlação entre esse fenômeno associado ao QU com o que especialistas chamam de “empobrecimento da linguagem”. Ou seja, o mundo digital trouxe uma série de códigos e estruturas de linguagem que mudaram a maneira como as pessoas se comunicam. Seja no pessoal ou no profissional.

Decerto, é possível avaliar se existe uma relação causa-efeito em que o empobrecimento da linguagem levaria ao “efeito Flynn negativo” ou, eventualmente, se essa causa-efeito deveria ser tratada ao contrário. Segundo um texto que tem circulado pela internet (com autoria do professor e gestor Christophe Clavé –  https://www.linkedin.com/in/christophe-clave), há uma explicação sobre o que leva ao “empobrecimento da linguagem”, pelo qual fica identificada a redução do vocabulário utilizado no cotidiano. Clavé afirma que estão desaparecendo as sutilezas linguísticas que permitem elaborar pensamentos complexos, pois as pessoas estão eliminando o uso dos tempos verbais (subjuntivo, imperfeito, formas compostas do futuro, particípio passado), adotando pensamento quase sempre no presente, limitado ao momento, sem projeções no tempo.

O jornalista e estudioso português João Melo faz uma abordagem muito interessante em seu site Sinal Aberto (sinalaberto.pt), aqui adaptada:

“… a tendência que se tornou predominante é assustadora pois, como consequência da crescente colonização por parte do vídeo e da linguagem digital, assistimos a um predomínio da cultura do entretenimento, ao empobrecimento da linguagem escrita, à redução do vocabulário, à implantação da interpretação literal, ao advento do pensamento binário e à supremacia do debate em detrimento do diálogo. Assim, sutilezas linguísticas, trocadilhos e outros procedimentos são incompreendidos. O humor e a ironia, estão cada vez mais sob suspeita. Autores de best sellers, cada vez mais confundidos com influenciadores digitais e “celebridades”, esnobam daqueles que escrevem respeitando a linguagem”.

Agora, olhando para o nosso país com prioridade, quero provocar os leitores a refletirem sobre as suas experiências frequentes. Tentem identificar como essas tendências de empobrecimento de linguagem e impactos no QI do brasileiro têm influenciado a sua vida, tanto pessoal como profissional. Um estudo publicado em 2017, realizado por Jakob Pietschnig e Martin Voracek, da Universidade de Viena, compilou dados de 31 países (desde países pobres a muito ricos) e identificou o Brasil com o “efeito Flynn negativo”. Uma conclusão aceita em consenso, tanto pela pesquisa de Pietschnig & Voracek como por aquelas realizadas (regionalmente) no Brasil, é que temos enfrentado evidente estagnação e involução no QI médio, no que o sistema educacional brasileiro tem grande responsabilidade.

Por fim, além do QI, há quem aponte a importância de se associar a uma pessoa também outros indicadores, como os de maturidade e inteligência emocional-social. Eu me vinculo a este grupo, para o qual o QI unicamente pode impor distorções de análise. Eu me junto àqueles que entendem o empobrecimento da linguagem com sérias implicações no cotidiano da sociedade e com reflexos até no desempenho profissional. Se você é gestor, mentor, coach ou consultor, como tem lidado com isso? Se você é professor, até que ponto suas aulas sofrem com esse fenômeno?  Eu sou Mario Divo e você me encontra pelas mídias sociais ou, então, acesse meu site www.mariodivo.com.br.

Até o mês que vem!

Gostou do artigo? Quer saber mais sobre os estudos de QI e a conclusão abordada neste artigo? Entre em contato comigo. Terei o maior prazer em conversar a respeito.

Mario Divo
https://www.mariodivo.com.br

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Mario Divo Author
Mario Divo possui mais de meio século de atividade profissional ininterrupta. Tem grande experiência em ambientes acadêmicos, empresariais e até mesmo na área pública, seja no Brasil ou no exterior, estando agora dedicado à gestão avançada de negócios e de pessoas. Tem Doutorado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) com foco em Gestão de Marcas Globais e tem Mestrado, também pela FGV, com foco nas Dimensões do Sucesso em Coaching (contexto brasileiro). Formação como Master Coach, Mentor e Adviser pelo Instituto Holos. Formação em Coach Executivo e de Negócios pela SBCoaching. Consultor credenciado no diagnóstico meet® (Modular Entreprise Evaluation Tool). Credenciado pela Spectrum Assessments para avaliações de perfil em inteligência emocional e axiologia de competências. Sócio-Diretor e CEO da MDM Assessoria em Negócios, desde 2001. Mentor e colaborador da plataforma Cloud Coaching, desde seu início. Ex-Presidente da Associação Brasileira de Marketing & Negócios, ex-Diretor da Associação Brasileira de Anunciantes e ex-Conselheiro da Câmara Brasileira do Livro. Primeiro brasileiro a ingressar no Global Hall of Fame da Aiesec International, entidade presente em 2400 instituições de ensino superior, voltada ao desenvolvimento de jovens lideranças em todo o mundo.
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