Confiança: Uma relação estabelecida pela Competência e pelo Caráter
Durante meus 33 anos de experiência com desenvolvimento humano até aqui, eu comprovei o quanto valeu a pena ter dado uma segunda chance em muitos casos. Quando um colaborador “pisava na bola”, mas reconhecia, ganhava uma nova oportunidade e se dedicava mais, elevando ao máximo o seu potencial na atividade realizada e função desempenhada. A única razão que não cabia uma segunda chance era a quebra de confiança por motivos irreparáveis, que acarretavam prejuízos de maior amplitude, ou quando o colaborador, mesmo depois de advertido, repetia o mesmo erro.
Hoje, me faço a pergunta: como as pessoas estabelecem, fortalecem e reconstroem a confiança? Um aperto de mão é suficiente para garantir a confiança? Se fizéssemos essa pergunta há décadas, a resposta provavelmente seria sim.
As pessoas consideravam a confiança como um atributo de grande valor. Por isso, não havia razões que justificassem a quebra de um acordo, mesmo que fosse informal, selado com um aperto de mão ou por meio do acordo feito pela troca de um “fio de bigode” – expressão que se encaixava perfeitamente bem no passado, porque negócio era assunto para homens e todos eles usavam bigode. Mas, para isso, era preciso honrar a condição de “macho”. Deixar de cumprir um compromisso era inadmissível. Ou seja, melhor ficar no prejuízo do que colocar em risco a confiança.
Será que hoje a confiança é levada a sério, com o mesmo rigor? Considerando que sua base são o caráter e a competência, a causa da ruptura desse elo tão importante, se dá mais pela falta de um desses valores isolados ou por ambos, na mesma proporção?
Uma pesquisa realizada com 200 pessoas, em um questionário via internet, avaliou o grau de confiança nos dias atuais. 94% dos entrevistados afirmaram acreditar que caráter e competência são fatores determinantes para que a confiança seja estabelecida. Isso mostra que os valores que geram a confiança continuam tendo a mesma relevância, o que muito se questiona é sobre o motivo que leva as pessoas a quebrarem e/ou a perderem a confiança conquistada.
Outro dado interessante é que 84,5% dos participantes afirmaram que dariam uma nova oportunidade àquele colaborador que errou, mas que, em seguida, reconheceu sua falha. As pessoas têm boa vontade para reconstruir a confiança, porém é preciso haver uma capacidade do colaborador em dizer a verdade e admitir o erro. Podemos entender que, mesmo que a falha tenha ocorrido por pouca competência técnica, é preciso ter caráter e humildade para se retratar.
Ora, o problema não está em cometer falhas, mas em não as reconhecer e não as reparar. Admitir o erro, imediatamente, é tão importante quanto não cometer erros, já que, em um cargo de liderança, 139 pessoas, ou seja, 69,5%, consideraram que nada é mais importante do que ser confiável.
Vale lembrar que a perda de confiança compromete ainda as oportunidades futuras. 72,5% das respostas afirmaram que a confiança é fator fundamental no mundo dos negócios.
Entende-se, com essa análise, que as pessoas, de um modo geral, estão prontas para confiar e até mesmo a dar uma segunda chance, se necessário. Todavia, não querem mais tolerar as mesmas falhas. Em outras palavras, é preciso aproveitar essa chance e não errar mais.
Ao contratar seus colaboradores, a organização deve fazer primeiro um alinhamento entre os valores, estabelecendo a importância de manter essa relação congruente durante a parceria que se firmará a partir dali.
E já que a confiança é estabelecida pela competência e pelo caráter, compartilho algumas dicas e considerações importantes para ajudar sua empresa e seus colaboradores a se manterem mais confiantes e confiáveis.
A competência, que compõe o famoso CHA da Administração (Conhecimento, Habilidade e Atitude), possui a estratégia e a execução como fortes aliadas para garantir níveis de resultados mais elevados, uma vez que o termo ‘estratégia’ significa ir além de alcançar resultados, mas ultrapassá-los. Em relação à execução, os autores do livro “Execução – A disciplina para atingir resultados”, Ram Charan e Larry Bossidy, afirmam que existem 7 comportamentos para conseguir uma boa execução, a seguir os destacamos, pois os mesmos têm o poder de ativar e potencializar competências, gerando assim a confiança.
1. Conhecer seu pessoal e a empresa
Vale para superiores, pares e subordinados. Quanto mais nos fazemos conhecer e conhecemos aos demais, mais bem estabelecida será a confiança.
2. Insistir no realismo
Encarar os fatos é uma forte atitude para gerar confiança, uma vez que criar expectativas com base em ilusões pode acarretar decepção.
3. Estabelecer metas e prioridades claras
Quanto melhor definidas, mais garantidos serão os resultados. Quanto mais resultados alcançados, maior será a confiança pela competência.
4. Concluir o planejado
Quando concluímos o que começamos, a tendência é que nos seja confiado ainda mais. Esse é um fator comum na lista de sucesso das pessoas que conquistaram cargos mais elevados dentro das organizações.
5. Recompensar quem faz
Quando reconhecemos o desempenho dos outros e os valorizamos, fortalecemos, não somente a confiança, mas o respeito e a admiração deles por nós.
6. Ampliar as habilidades das pessoas pela orientação
O sucesso da comunicação é certificar-se de que o outro compreendeu a mensagem. Ter este cuidado é um forte gerador de confiança.
7. Conhecer a si próprio
Talvez um dos mais importantes pontos, pois pressupõe que conhecer-se é o primeiro passo para ser autoconfiante. Quem não confia em si, como pode esperar confiar ou obter a confiança do outro?
Por mais que tudo isso seja fundamental para os resultados de qualquer empresa, perde-se o valor se não há confiança no processo, isso foi o que afirmaram 66,5% dos entrevistados na pesquisa que citei no início do artigo.
O caráter, de acordo com o dicionário, é o conjunto de traços morais, psicológicos, que distinguem um indivíduo, grupo ou povo; é a índole das pessoas; o temperamento; a qualidade de seu comportamento e a firmeza de suas atitudes.
Esse atributo é formado pela necessidade que o ser humano tem de se proteger enquanto se desenvolve desde à sua infância. Segundo Freud, são as transformações permanentes dos impulsos primitivos. Não é formado por ações isoladas, mas por hábitos, sejam eles positivos ou negativos. Quanto mais hábitos positivos uma pessoa desenvolveu ao longo de sua vida, melhor será o seu caráter.
As empresas possuem diversas formas de identificar se o colaborador tem boa índole, se é “bom caráter”, antes mesmo de contratá-lo, por meio de diversas avaliações, grande parte provenientes da psicologia. Além disso, observar o comportamento dos colaboradores também pode ajudar.
Podemos concluir que não é apenas um firme aperto de mão e um olhar altivo que vão gerar a confiança. Essas são atitudes que também contribuem no estabelecimento da confiança, mas é preciso ter verdade e transparência, que somadas à competências e comportamentos positivos, podem sim estabelecer e fortalecer a confiança entre as pessoas.
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Gostou do artigo? Quer saber mais sobre as atitudes que contribuem no estabelecimento da confiança? Entre em contato comigo. Terei o maior prazer em ajudar.
Um grande abraço e até o próximo mês.
Shirley Brandão
https://shirleybrandao.com.br/
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