Adoçante Faz Mal para a Saúde? Usar ou não?
No último mês uma nova diretriz divulgada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) trouxe à tona a discussão sobre o uso de adoçantes ou edulcorantes. O foco central das notícias sobre o assunto estava no fato de que os edulcorantes não devem ser utilizados como substitutos de açúcar visando ao controle de peso corporal ou redução de doenças crônicas não transmissíveis, tais como diabetes, doenças cardiovasculares, acidentes vasculares cerebrais e câncer.
A diretriz não se aplica a pessoas com diabetes pré-existente e não abrangeu açúcar de baixa caloria e álcool de açúcar, os polióis.
Essa diretriz, embasada em resultados de pesquisas científicas, apontaram para a ausência de evidências que demonstrassem que o uso prolongado dos edulcorantes pode reduzir a gordura corporal em adultos ou crianças.
Ainda, afirma que há potencialmente efeitos indesejáveis por uso prolongado dos adoçantes, por exemplo, o risco aumentado de diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e mortalidade em adultos.
Para que você saiba escolher o que melhor se adequa ao seu estilo de vida, destinei esse post em trazer mais detalhes sobre os adoçantes.
Os adoçantes podem ser sintéticos ou naturais e apresentam um alto teor de dulçor, variando entre 200 a 600 vezes mais doces do que o açúcar de mesa (sacarose), mas sem ou com pouquíssimas calorias. São considerados um aditivo alimentar e o consumo na dieta humana é relativamente recente, tendo aumentado após a década de 70 quando a Sacarina foi autorizada para uso de forma segura.
Entretanto, os resultados de pesquisas recentes têm demonstrado o impacto negativo na saúde a partir do uso contínuo e prolongado de adoçantes. Os efeitos observados envolvem principalmente intolerância à glicose, doenças cardiovasculares e alteração da microbiota intestinal.
Para entendermos melhor essa interferência em nosso corpo precisamos pensar no processo digestivo que quebra os componentes da dieta e facilitam a absorção de nutrientes para atenderem às necessidades nutricionais do corpo humano.
No intestino, a microbiota, ou seja, os microrganismos (principalmente bactérias intestinais) que habitam esse órgão entram em contato com os componentes da dieta e o fermentam, extraem energia, produzem nutrientes como algumas vitaminas e todo esse processo utilizado pelo hospedeiro (corpo humano).
As pesquisas indicam que os adoçantes podem ser utilizados pelas bactérias intestinais, alterando sua atividade metabólica, principalmente os edulcorantes mais populares, como o Aspartame, o Acessulfame-K, a Sucralose e a Sacarina.
Segundo os estudos recentes os edulcorantes podem atuar sobre os receptores intestinais de sabor doce, levando a uma liberação pós-prandial (pós refeição) prejudicada do peptídeo 1 semelhante ao glucagon (GLP-1) e da insulina, induzindo assim a intolerância à glicose, prejudicando a sensibilidade metabólica aos carboidratos.
Aparentemente o efeito dos edulcorantes ao consumirmos isoladamente e em conjunto a alimentos, que contenham calorias, apresentam uma resposta diferente no metabolismo. Isso acontece porque os mesmos receptores para o sabor doce que possuímos na boca também estão presentes em tecidos extraorais, como intestino, cólon, pâncreas e cérebro. Esse fato pode levar a maior consumo calórico de outros alimentos, impactando negativamente no peso corporal.
Falando melhor sobre cada um desses edulcorantes, vamos iniciar com os sintéticos:
Aspartame
Estruturalmente simples (dipeptídeo metil éster), composto por dois aminoácidos, o L-aspártico e L-fenilalanina. Completamente quebrado no intestino, resultando em quantidades insignificantes do composto entrando na corrente sanguínea.
O aspartame é 200 vezes mais doce que a sacarose e não possui gosto residual amargo. Pode ser instável sob o calor e se decompõe em aminoácidos. Contêm 4 kcal de energia por grama, no entanto a quantidade de aspartame necessária para produzir o sabor doce é tão pequena que sua contribuição calórica é insignificante.
Acessulfame-K
Deriva de ácido orgânico hidrofílico/ sal de potássio. Absorvido quase inteiramente no intestino delgado como uma molécula intacta e distribuído pelo sangue para diferentes tecidos. Assim, sem passar por qualquer metabolismo, mais de 99% do acessulfame-K ingerido é excretado no trato urinário nas primeiras 24 horas, com menos de 1% eliminado nas fezes.
Por essa rápida absorção e excreção urinária acredita-se que uma concentração insignificante de acessulfame-K atinja as bactérias intestinais, pouco afetando a microbiota. Estável ao calor e 200 vezes mais doce que a sacarose, possui um gosto residual amargo em altas concentrações. Por isso normalmente mistura-se a outros edulcorantes, tais como sucralose ou aspartame.
Sucralose
Dissacarídeo que apresenta nível baixíssimo de absorção e praticamente não metabolizado, por isso não apresenta caloria. Produzida pela cloração da sacarose e 600 vezes mais doce que a sacarose. Tem sido o adoçante artificial mais comumente utilizado. É solúvel em água e estável sob calor.
Sacarina
O adoçante artificial mais antigo e é 300 vezes mais doce que a sacarose. Um ácido que se dissolve em água e facilmente absorvida em pH estomacal baixo, como no caso de humanos. Assim, entre 85% a 95% da sacarina consumida é absorvida como molécula intacta, uma vez que não sofre metabolismo gastrointestinal.
Quando absorvido liga-se às proteínas plasmáticas distribui-se por todo o corpo e eliminado na urina e uma pequena parte pelas fezes. Desta forma, altas concentrações desse edulcorante podem alterar a composição da microbiota intestinal. É estável ao calor.
Um pouco mais de detalhes sobre os adoçantes naturais:
Estévia
Extraído da planta Stevia rebaudiana, não fornece energia e promove um poder edulcorante 300 vezes superior à sacarose.
Sorbitol
Extraído de frutas e algas marinhas, fornece 4 kcal/g e promove um poder edulcorante 50 vezes superior à sacarose. O consumo excessivo pode ter efeito laxativo já que sua absorção não é total.
Manitol
Extraído de frutas e algas marinhas, fornece 2,4 kcal/g e promove um poder edulcorante 60 vezes superior à sacarose. O consumo excessivo pode ter efeito laxativo já que sua absorção não é total.
Xilitol
Poliálcool monossacarídeo, fornece 2,4 kcal/g e promove um poder edulcorante similar à sacarose. Benefícios preventivos para a formação de cáries.
Frutose
Monossacarídeo encontrado em frutas e mel. Fornece 4 kcal/g e promove um poder edulcorante 173 vezes superior à sacarose. Quando consumida junto às refeições, não altera a glicemia.
Taumatina
Proteína obtida do fruto da planta Thaumatococcus danielli B., típica do continente africano. Possui poder edulcorante 2.000 a 5.000 superior à sacarose. Não fornece caloria.
Maltitol
Poliálcool dissacarídeo. Fornece 2,1 kcal/g. Pode ser substituto para gordura, pois adiciona cremosidade ao paladar e não contribui para a cárie dentária.
Isomaltitol
Poliálcool dissacarídeo. Fornece 2 kcal/g. Ingrediente de massas, intensificador de sabor.
Lactitol
Poliálcool dissacarídeo. Fornece 2,1 kcal/g. Ingrediente de massas, sinérgico com edulcorantes não nutritivos, não contribui para cáries dentárias.
Eritritol
Poliálcool monossacarídeo. Fornece 0,2kcal/g. Ingrediente de massas, intensificador de sabor, auxilia na formulação por apresentar ação antiumectante, estabilizante e texturizador.
Alerta para o consumo de adoçantes durante a gestação
O período gestacional é fundamental para a programação metabólica desse novo ser e evidências recentes sugerem que o consumo de adoçantes artificiais durante a gravidez aumenta o risco de obesidade na criança. Isso porque os adoçantes podem atravessar a placenta, principalmente o Acessulfame-K, o Ciclamato, a Sacarina e a Sucralose e se acumular na circulação fetal, uma vez que o líquido amniótico é principalmente derivado da micção fetal e pode ser deglutido.
Estudos que investigaram os efeitos dos adoçantes artificiais consumidos durante a gestação no Índice de Massa Corpórea infantil encontraram maior chance de excesso de peso em filhos com 1 ano de mulheres que consumiram mais de uma porção ao dia de refrigerantes adoçados artificialmente, em comparação as mulheres que não consumiram nenhuma porção durante o período gestacional.
Além da alteração no peso, observou-se uma relação entre o consumo de adoçantes durante a gestação e alterações metabólicas, parto prematuro, fraturas do antebraço, asma e rinite alérgica.
Foi visto também que a interferência do consumo de adoçantes pela mãe se estende ao período da amamentação, pois esses podem passar pelo leite materno afetando o lactente (bebê) e esse fato é comum, uma vez que muito provavelmente mulheres que tiveram um alto consumo de bebidas dietéticas durante a gestação tendem a manter esse consumo durante a amamentação.
Finalizamos comentando sobre o período gestacional, pois as preferências e hábitos alimentares são definidos desde tenra idade. Assim, existe expressiva necessidade de intervenção com educação nutricional para que o paladar não busque o sabor doce excessivamente. Que os sabores dos alimentos sejam apreciados de forma natural. Por exemplo, o sabor doce de um suco de maçã sem adição de açúcar e ou adoçante, tal como o sabor azedo do limão.
Assim, não necessitaríamos da adição de substância para realçar o sabor doce, como fazem os adoçantes. Uma vez que os adoçantes não serão responsáveis por reduzir o peso corporal ou prevenir o desenvolvimento de doenças cardiometabólicas.
Gostou do artigo? Quer saber mais se adoçante faz mal para a saúde e o impacto do uso contínuo deles em sua vida? Então, entre em contato comigo. Terei o maior prazer em explicar.
Nutricionista Paola Nunes
https://www.linkedin.com/in/paola-nunes-moreira
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