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A Falência que Precisa ser Evitada

É normal que os seres humanos sejam incapazes de imaginar como seria um mundo melhor? Há alternativas para evitarmos a falência de recursos e a falência moral para construir (e viver) um mundo melhor?

A Falência que Precisa ser Evitada: É possível um mundo melhor?

A Falência que Precisa ser Evitada:
Há alternativas para evitarmos a falência de recursos e a falência moral para construir (e viver) um mundo melhor?

É normal que os seres humanos sejam incapazes de imaginar como seria um mundo melhor? A desesperança não é natural. Ela precisa ser produzida. Se quisermos realmente compreender esta situação, temos de começar por compreender que, nos últimos trinta anos, se construiu um vasto aparato burocrático para a criação e manutenção da desesperança, uma espécie de máquina gigante que se destina a destruir qualquer sentido de possíveis futuros alternativos. (…) [é preciso um aparato que crie um] clima de medo, conformidade e desespero que torne qualquer pensamento de mudar o mundo uma mera fantasia.” (David Graeber, antropólogo)

Milhares de anos de conhecimento científico acumulado nos trouxeram até o presente, onde temos à nossa disposição tecnologias que podem deixar a nossa vida mais simples, mais fácil, mais segura e mais saudável (ainda que usadas para conseguir o exato oposto disso, na maior parte das vezes). Se nos basearmos em dados, totalmente fundamentados em evidências científicas, podemos ter algumas certezas, que vão substituindo velhas crenças.

O cigarro, por exemplo, causa câncer. Algo hoje inquestionável, mas a indústria do tabaco tentou por décadas invalidar as pesquisas que mostravam isso, tentando manter a dúvida no ar, para continuar a vender seu produto. Pouco importava que o produto, no fim das contas, matava o consumidor.

Outros nasciam e a roda do lucro continuava a girar, com o endosso de cientistas que fraudavam pesquisas, celebridades que vendiam suas imagens e autoridades que olhavam para o outro lado.

Claro que isso não é novidade. No final das contas, seja qual for o assunto, a opção é clara. Privilegiamos o interesse econômico até contra nosso melhor interesse, o da sobrevivência. Por causa dele, nossos pulmões se enchem de fumaça, florestas são derrubadas e modelos de gestão que exploram e humilham seres humanos são aplaudidos.

Somos manipulados para isso, é claro, mas até onde vai nosso nível de inconsciência?

Sim, a pergunta é o quanto somos voluntariamente manipulados, escolhendo acreditar no que vai contra o que deveria ser o nosso melhor interesse?

As tentativas de mudança, no mundo corporativo, são muito recentes. Até pouco tempo atrás, não se falava em stakeholders, ESG ou Diversidade & Inclusão. A chegada de alguns desses conceitos, aliás, está ligada diretamente a evidências científicas, a necessidade deles é referendada por descobertas recentes.

Mas o que é um dado científico recém-descoberto, perto de um modelo de liderança enraizado no nosso imaginário? Mesmo com pesquisas mostrando que a produtividade de um trabalhador pode ser maior dentro de um ambiente de trabalho saudável, inclusivo e humano, para que arriscar? Afinal, é só pesquisa, são apenas dados.

O mundo mostra, dia após dia, na prática, que empresas geridas agressivamente, com cobranças desumanas, onde um funcionário não pode sair do seu posto nem para ir ao banheiro, são as grandes vitoriosas.

As que estão no topo são aquelas que estimulam a competição entre seus colaboradores, um clima permanente de sangue nos olhos e faca nos dentes, onde é admissível até puxar tapetes ou subir na hierarquia pisando na cabeça de colegas de trabalho. Então, se esse é o mundo corporativo que funciona e que dá certo, por que arriscar tentando ser diferente?

Aqui é importante ressaltar que nem estamos entrando no campo moral da questão, que deveria ser o princípio balizador de qualquer ação. Nunca foi, é claro. Os líderes mais admirados não foram os que desenvolveram culturas humanizadas à sua volta, longe disso.

Alguns, como vamos descobrindo, se enredaram tanto no poder pelo poder, que se sentiram à vontade para cometer crimes dentro das próprias empresas. Essas revelações, no entanto, acontecem com um atraso gigantesco, muitas vezes depois da morte desses homens. Sim, homens, todos com aquele mesmo perfil, já conhecido. Eles simbolizam uma cultura de resultados, valorizada ainda hoje em dia, mesmo com todos os questionamentos que agora precisam enfrentar.

Quando sai uma matéria sobre os homens mais ricos do mundo, são aqueles de sempre, um mesmo perfil, não só físico, mas de liderança. Eles são donos de empresas que se tornam absurdamente ricas em poderio econômico, mas muitas vezes ridiculamente pobres em ética. Denúncias de abusos, infrações e até crimes são frequentes, mas, ainda assim, eles continuam admirados: se lançam livros, se tornam best-sellers; se dão palestras, elas lotam.

Não é difícil de imaginar jovens empreendedores pendurando fotos de alguns destes bilionários em seus escritórios, comprando suas biografias, convertendo-os em modelos a se seguir. A forma como eles conseguiram é o que importa e é ela que deve ser seguida. Se não é sustentável, se não é humana, se não é inclusiva, pouco importa. É o preço a se pagar, é como o mundo funciona. Essa é a lição que fica.

Mas o mundo pode funcionar de outras maneiras.

Ainda que durante muito tempo tenham nos tentado nos convencer do contrário, só é preciso um pouco de coragem para deixar para trás os mesmos modelos de sempre. Existem vários caminhos diferentes, apontados por muita gente boa que pesquisa, que pensa e que propõe outras formas, outros modelos.

Moralmente, essas alternativas são urgentes. Não é possível construir uma sociedade onde empresas sujeitem seres humanos a trabalharem em condições análogas à de escravo.

Economicamente, essas alternativas são possíveis, provavelmente até melhores. Só é preciso que façamos um pacto e deixemos, de vez, os velhos modelos para trás. Assim, vamos evitar, além da falência de recursos, a nossa falência moral.

Gostou do artigo? Quer saber mais sobre como evitar a falência de recursos e a falência moral? Então, entre em contato comigo. Terei o maior prazer em responder.

Até o próximo artigo!

Marco Ornellas
https://www.ornellas.com.br/

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Palavras-chave: falência, recursos, falência moral, falência de recursos, mundo melhor

 

Marco Ornellas é Psicólogo, Master of Science in Behavior pela California American University e Mestre em Biologia-Cultural pela Universidad Mayor do Chile e Escuela Matrizstica. Pós em Neurociência e o Futuro Sustentado de Pessoas e Organizações.Consultor, Coach, Designer Organizacional, Palestrante e Facilitador de Grupos e Workshops em temas como Liderança, Complexidade, Gestão, Desenvolvimento de Equipes, Inovação e Consultor em Design da Cultura Organizacional.Autor dos Livros: DesigneRHs para um Novo Mundo, Uma nova (des)ordem organizacional e Ensaios por uma Organização Consciente.CEO da Ornellas Consulting e Ornellas Academy.
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