A transição como o caminho que vai além
Um das questões que eu sempre tento esclarecer nas minhas apresentações sobre transição é que esta não é o mesmo que mudança. Nas organizações, essa distinção é confundida pela maneira como a palavra transição é usada: as pessoas falam em equipes de transição e um plano de transição e serviços de transição – isso na verdade significa suporte para os momentos em que você estiver precisando de ajuda.
A minha opinião é que grande parte desses termos estão na realidade focando na mudança que está acontecendo para você.
Transição não é apenas uma maneira bacana de dizer mudança. É o processo interior através do qual as pessoas lidam com a mudança, na medida em que elas se despedem da maneira como as coisas funcionavam e se reorientam para a maneira como as coisas são agora.
Numa organização, gerenciar a transição significa ajudar as pessoas a realizarem esse processo difícil de maneira menos dolorosa e perturbadora.
O livro The Way of Transition (2001) descreve a minha própria jornada através da transição – despertada pela morte de minha primeira esposa, Mondi. Ao escrever o livro – e depois discutindo-o com os leitores – eu passei a compreender uma outra dimensão da transição.
Eu me lembro particularmente de uma entrevista num programa de rádio, no qual um homem cuja esposa também tinha morrido de câncer me perguntava: “Eu não consigo esquecer!” ele disse com grande emoção. “Como eu faço para continuar a minha vida?”
Enquanto ele falava, eu vi uma imagem representando a morte de sua mulher como um muro alto que bloqueava o seu caminho, um muro que ele se esforçava para saltar. Essa é a maneira como a mudança geralmente é sentida em nossas vidas: como uma barreira em nosso caminho, uma ruptura em nossos planos, um grande buraco que se abriu debaixo de nossos pés. Naturalmente, nós procuramos uma maneira de ultrapassá-la.
Atravessar a transição não é fácil, mas diferentemente da mudança-muro, a transição representa um caminho a seguir. Para mudar o foco de sua atenção da mudança-muro para a transição-caminho, você precisa começar por onde a própria transição começa: abrindo mão das conexões interiores que você tinha com a maneira como as coisas existiam.
A pergunta que sempre ajuda a mudar o foco da mudança para a transição é, “O que já é tempo de me despedir?”.
No caso da morte de minha esposa, o que eu tive que me despedir não foi tanto a pessoa com quem estive casado por 37 anos ou o casamento que construímos juntos. Essas foram as mudanças. Para começar a vivenciar a transição, você precisa perguntar a si mesmo o que você tem que renunciar devido à mudança.
Que outras maneiras você terá que encontrar para satisfazer às suas necessidades? Que partes de você ficaram desatualizadas devido à mudança?
Se a sua mudança foi a perda de um emprego, do que você precisou se despedir? Vamos ver: um salário garantido, um grupo de colegas e amigos, um lugar certo para ir todas as manhãs, uma maneira de usar os seus talentos, uma maneira de estruturar o seu tempo, vários planos para o futuro, uma maneira de ser reconhecido.
Você também perderá uma identidade – ou ao menos uma resposta para a pergunta, “O que você faz?”. Essas são as questões que perderão sentido depois que você passar pela experiência de perder o emprego.
Assim, o que é tempo de você deixar para trás? (Sim, eu quero dizer você… agora). Em alguma área de sua vida você provavelmente está passando por uma transição nesse momento – assim, essa não é uma pergunta hipotética.
Eu sempre descobri que fazendo essa pergunta eu era capaz de abrir o caminho que eu tinha que seguir. Frequentemente era um caminho que eu preferiria não seguir, mas devido às mudanças, eu não tinha muitas escolhas. Felizmente, esse é um caminho que geralmente leva ao crescimento pessoal.
De que maneira esse é o momento de você se despedir daquela maneira específica de usar os seus talentos? De que maneira você não cabe mais na identidade que você usou nos últimos anos? E se você não é mais reconhecido ou apreciado no seu trabalho, não chegou a hora de aceitar essa perda?
Essas perguntas lhe dão um lugar para começar, um caminho a seguir. Cada uma delas sugere algo a ser aprendido, alguma descoberta a ser feita. Cada uma delas representa uma porta na mudança-muro que bloqueava o seu caminho.
Eu não estou querendo dizer que esse é um caminho que você queria seguir ou que você necessariamente irá achar agradável. O que eu estou querendo dizer é que esse é um caminho com significado para você, que segui-lo irá levá-lo a algum lugar.
O que eu estou querendo dizer é que, se a mudança é o muro e a transição a porta nesse muro, é para lá que você tem que se dirigir. A transição representa o caminho para a próxima fase de sua vida.
Gostou artigo? Quer saber mais sobre a transição como o caminho que vai além da mudança, um caminho a seguir? Então, entre em contato comigo. Terei o maior prazer em responder.
Estamos juntos, conte comigo!
Kátia Soares
https://www.agentesdamudanca.com.br
Referências: A transição na Gestão da Mudança (Katia Soares) e Management Transitions (William Bridges)
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