Acredito que praticamente todos os profissionais de Coaching, em algum momento de suas carreiras, fizeram menção a que o trabalho desenvolvido pelo Mentor é diferente daquele desenvolvido pelo Coach. De certa forma, isso é bem difundido e bastante comentado. Mas será que é uma verdade absoluta e que deve ser aceita inquestionavelmente? Ou haverá o “depende” e o “talvez”?
Na década de 1980, um grupo de pesquisadores já tratava da relação entre a Mentoria e o Coaching. Em dois trabalhos importantes da época, liderados por Kathy Kram, o Coaching era posicionado como uma das funções da Mentoria, tendo por foco o desenvolvimento de carreira, quando o cliente do processo busca garantir o aprendizado e a evolução profissional. Em 1999, um pesquisador chamado Rey Carr continuou a manter afinados e próximos a Mentoria e o Coaching, pois entre dez quesitos fundamentais que o mentor deveria seguir, em um deles estava explicitada a necessidade de aplicar habilidades de Coaching para ampliar a visão do cliente, explorar seus sonhos para o futuro, desenvolver os pontos fortes, enfrentar as barreiras autoimpostas e usar as habilidades de relacionamento.
Em 2001, em uma intensa e aprofundada releitura dos seus trabalhos, Kathy Kram já apresentou modificações na forma de tratar os papéis do Mentor e do Coach, comparativamente aos seus estudos publicados em anos anteriores. Quem se aprofundou no assunto foi uma dupla já citada em artigos anteriores: as pesquisadoras Sheila Kampa-Kokesch e Mary Anderson. No Brasil, também é comum vermos referências de estudiosos à relação de proximidade ou de afastamento entre o Coaching e a Mentoria. Um exemplo é o trabalho muito citado das pesquisadoras Sueli Milaré e Elisa Yoshida, o qual compara o Coaching com a terapia, a mentoria, o treinamento e a consultoria.
Nesse trabalho, elas afirmam que o Coaching se concentra na melhoria do desempenho e na busca do desenvolvimento de novas habilidades do Coachee, levando-o à satisfação pessoal e profissional. O ponto de partida para o Coachee é o desejo e, daí, vem o processo de mudanças para atingir objetivos concretos. Já a Mentoria é o processo pelo qual o Mentee aprende com um líder mais experiente da organização e se prepara para novas responsabilidades e desafios. De outra forma, vale comentar que ainda hoje persistem os estudiosos que se referenciam aos estudos de Kathy Kram quanto a validar o Coaching como função da Mentoria.
De fato, a Mentoria é uma abordagem antiga para desenvolvimento humano e, nos últimos 30 anos, foi redescoberta pelo setor privado e aplicada de forma (aparentemente) diferenciada do Coaching. Na última década, ambas as intervenções têm sido cada vez mais praticadas e evoluem em linha com as atuais tendências e formatos de capacitação humana. Estão mais centradas nas pessoas e promovem a abordagem holística, porém há algumas diferenças fundamentais que podem ser percebidas.
Resumidamente, o Coaching tende a ser visto como mais orientado por tarefas, foco em habilidades e competências, dirigido e limitado no tempo. Enquanto isso, a Mentoria estaria muito direcionada ao desenvolvimento pessoal continuado, normalmente focado em uma organização ou propósito pessoal. Recentemente, no entanto, vários estudiosos têm mostrado que, na prática e no cotidiano, o Coaching e a Mentoria estão se tornando mais próximos.
Para finalizar, os pesquisadores Daniel Feldman e Melenie Lankau polemizam no que diz respeito a essa relação próxima entre Mentoria e Coaching. Eles pontuam que o Mentor sempre é um profissional experiente que ajuda alguém menos experiente a se tornar independente. Da outra parte, muito embora o Coach não seja obrigado a fornecer conhecimentos técnicos específicos para o Coachee, a realidade mostra que ele está sendo frequentemente solicitado a fazê-lo. E daí, o que fala sua experiência pessoal?
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