Lembra da imagem do vulcão não extinto, que solta fumaça frequentemente e fica atemorizando as pessoas que habitam à sua volta? Pois bem, há assuntos em situação parecida, dormentes mas prontos para estourarem uma polêmica. Entre eles, um tema já foi aqui tratado e hoje quero retomar: na esfera do Coaching Executivo, o Coach precisa ou não precisa ter vivência prévia em negócios?
Recentemente, li um texto de uma das lideranças de Coaching no Brasil que, por razões éticas, não vou identificar. Ele citou a lista de quesitos para separar o Coach “picareta” do Coach “experiente”. Lá pelas tantas, o bloguista trazia o tema da vivência prévia executiva ser ou não necessária ao Coach na prestação de serviço. E afirmou que, provavelmente, é até melhor que o Coach não tenha essa vivência prévia, assim mantendo isenção e distanciamento do tema.
O fato de o Coach contar com vivência prévia em dada área de negócios, em si, nada quer dizer. Para ser um bom Coach e ajudar o cliente executivo em necessidades identificadas, o profissional terá que agregar conhecimentos específicos, habilidades e metodologia. Porém, afirmar que o Coach que tem esses requisitos, sem elo algum com a área de negócios do cliente, poderá prestar melhor serviço, isso é abuso e afirmação falsa que o autor quer tratar como uma “verdade absoluta”.
Segundo estudos do The Executive Coaching Forum, nos Estados Unidos, há critérios para que o Coach possa prestar excelente serviço para executivos de alto escalão nas empresas. O primeiro é ter a competência de identificar se o cliente está motivado, com atitude colaborativa e participativa, receptivo e emocionalmente estável. Isso requer habilidade que não se aprende apenas nos bancos de aula e exige anos de experiência no trato com pessoas. Aqui, a vivência executiva é dispensável.
Em segundo lugar, o Coach deve ter a responsabilidade de assumir honestamente se tem competência para tratar do problema apresentado pelo cliente. Trata-se de tomada de decisão, solução de problema, desenvolvimento pessoal, mudança de hábitos, questões afins à liderança ou equipes de trabalho, resolução de conflitos, mudanças gerenciais, planejamento, enfim, de que se tratará nas sessões de Coaching? Aqui, a vivência executiva prévia em muito ajudará o Coach.
Certamente, e não tenho dúvidas de afirmar, o Coach que já vivenciou situações similares em sua vida profissional terá mais facilidade de ajudar o cliente a delinear e definir as fronteiras iniciais do trabalho a ser desenvolvido com metodologias e ferramentas do Coaching. Mesmo que não necessariamente, e eu não quero fazer disso outra “verdade absoluta”, potencialmente a falta de vivência executiva do Coach poderá abrir espaço para situações delicadas e indesejadas.
O terceiro e fundamental critério é: como o Coach está preparado para lidar com situações que podem acontecer ao longo das sessões? Ele reúne qualidades como capacidade de dar apoio emocional, disposição a ouvir, compaixão, diplomacia, paciência, humor, inteligência e perspicácia, leitura corporal, capacidade de dar ritmo à conversa, isso apenas como exemplo? Certamente, essas qualidades também não se conquistam apenas em salas de aula, mas se aprimoram com anos de experiência profissional, inclua aí ou não a vivência como executivo de empresas.
Portanto, tenha cuidado com a “verdade absoluta” que se lê em textos de bloguistas defendendo posições quanto a ser melhor ou pior que o Coach tenha vivência executiva prévia. A vida não é binária, com o simples “sim” ou “não”. Ela requer contexto e, para ser um bom profissional, o Coach deve ser estudioso de metodologias, comportamento humano e relacionamento pessoal para, com essas competências, construir no cliente a capacidade de autorreflexão e autoconhecimento. A vivência executiva prévia do Coach é um valor a mais, que não pode e nem deve ser desprezado.
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