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A Linguagem do Silêncio: O que não dizemos nas empresas…

Descubra como o silêncio organizacional pode ser uma ferramenta estratégica para transformar o ambiente corporativo. Aprenda a interpretá-lo, promover segurança psicológica e estimular criatividade, inovação e melhores resultados para a equipe como um todo.

Silêncio Organizacional: A Linguagem do Silêncio e O Que Não Dizemos Nas Empresas

A Linguagem do Silêncio: O que não dizemos nas empresas

Há um código oculto nos ambientes organizacionais: determinadas coisas não se falam. Seja por medo, vergonha ou para não compartilhar ideias, muitas palavras deixam de ser ditas, sentimentos e opiniões não são expressos. No entanto, no silêncio organizacional existem muitas mensagens: pode expressar apoio, discordância, reflexão, ou mesmo um pedido de ajuda.

Em meu percurso de quase 18 anos trabalhando com Coaching e treinamentos, conversas sobre o silêncio são muito recorrentes. Profissionais que discutem comigo, de maneira aprofundada, assuntos de trabalho, simplesmente se calam em reuniões como se nada soubessem – não se sentem seguros, têm medo – e passam imagem de desinteresse ou ausência.

Por outro lado, não se manifestam sobre problemas que veem, calam-se diante de erros que podem comprometer o desempenho da equipe, não reclamam dos excessos solicitados, e nunca – jamais – denunciam comportamentos que refletem qualquer tipo de assédio moral. Sofrem em silêncio. E criam o hábito de adoecer.

Vamos falar de Silêncio e Segurança Psicológica

Talvez o primeiro aspecto a se considerar no silêncio organizacional seja a Segurança Psicológica. Amy Edmondson, professora de Harvard e autora de The Fearless Organization (2018) considera que a segurança psicológica é a base para equipes eficazes.

Ela conduziu o estudo Project Aristotle com o Google sobre equipes de alta performance e concluiu que equipes com alta segurança psicológica têm 19% mais chances de serem produtivas.

“Colaboradores que se sentem seguros para compartilhar ideias, mesmo que imperfeitas, são mais inovadores e colaborativos” (Amy Edmondson)

Segundo ela, são quatro os aspectos necessários para se criar um ambiente onde haja Segurança Psicológica:

  1. Segurança em SE EXPRESSAR: se pronunciar, expor problemas, trazer ideias e questionar o status-quo;
  2. Segurança em INTERAGIR: pedir ajuda, dar e receber feedback, manter conversas difíceis, iniciar e manter diálogo;
  3. Segurança em APRENDER: fazer perguntas, inovar, arriscar, aprender com os próprios erros;
  4. Segurança em PERTENCER: sentir-se apoiado e valorizado, ter a certeza de que ninguém, irá rejeitar ou prejudicar deliberadamente.

O termo Segurança Psicológica, criado em 1990 pelo psicólogo William Kahn, é sobre a liberdade que uma pessoa tem de que a equipe não vai envergonhá-la, rejeitá-la ou puni-la por algo que ela diga, mesmo se for uma bobagem, ou se estiver errado. Ninguém quer parecer ignorante, incompetente ou intruso e, para se auto protegerem, as pessoas não oferecem ideias nem admitem seus erros.

O Silêncio fala: interpretando o não-dito

Antropólogo conhecido pela teoria da comunicação intercultural, Edward T. Hall, em seu livro The Silent Language (1959) destaca que grande parte da comunicação humana ocorre de forma não verbal, incluindo o silêncio. Aliás, para a PNL (Programação Neuro Linguística), a comunicação é feita 55% através da linguagem corporal; 38% através dos tons e modalidades da voz, e apenas 7% através das palavras.

“O silêncio é tão expressivo quanto as palavras, dependendo do contexto em que é usado” (Edward T. Hall)

Há diferenças culturais também no silêncio. Ele pode ser, em algumas culturas asiáticas, sinal de respeito e consideração. Já em culturas ocidentais pode ser interpretado como desconforto ou desinteresse. Entender essas nuances, no mundo globalizado em que vivemos, é essencial para garantir uma boa comunicação.

“As normas culturais moldam a maneira como percebemos e utilizamos o silêncio, tornando essencial o entendimento de seu papel no contexto global.” (Geert Hofstede)

Um bom exemplo que já foi muito conhecido, são as pausas silenciosas incorporadas em reuniões de empresas como a Toyota, permitindo a reflexão antes de tomar decisões: seria a aplicação do conceito japonês do Ma, que valoriza o espaço entre os eventos como essencial para a harmonia.

O silêncio pode ser uma ferramenta poderosa em ambientes que na maioria das vezes favorecem as pessoas mais extrovertidas – essa é a opinião da psicóloga Susan Cain, autora do livro O Poder dos Quietos, para quem as pausas reflexivas podem levar a insights profundos.

Silêncio, o espaço para criatividade e reflexão

O papel do líder ao interpretar o silêncio requer empatia e inteligência emocional. Diferenciar suas raízes é essencial para agir em busca de um ambiente corporativo mais harmonioso, onde a criatividade e a resolução de problemas tornam-se a regra e não a exceção.

Desinteresse? Desacordo? Falta de Segurança Psicológica? Reflexão? Ressentimento? Não necessariamente! Empresas podem usar o silêncio como um mecanismo para promover introspecção e criatividade.

Neurocientista, a Dra. Barbara Fredrickson (Broaden-and-Build) sugere que estados de calma e reflexão – muitas vezes associados ao silêncio – expandem a capacidade cognitiva e ajudam na construção de soluções de longo prazo. Já Daniel Goleman, autor de Inteligência Emocional (1995) diz que pausas podem melhorar a tomada de decisão e estimular a criatividade.

“O silêncio permite ao cérebro processar informações de forma mais profunda, ligando ideias aparentemente desconexas e promovendo insights inovadores.” (Daniel Goleman)

Pesquisas da Universidade de Duke mostram que 15 minutos de silêncio diário aumentam a criatividade em 23%.

Criando Pontes: o papel do líder

De acordo com Paul Hersey e Ken Blanchard, criadores da teoria da Liderança Situacional, um líder eficaz adapta sua abordagem ao contexto. Em vez de deixar que o silêncio construa muros inescaláveis, ele pode criar pontes.

Ao fazer uso do silêncio estratégico, o líder pode usar pausas para que os outros se expressem. Ou usar o silêncio estratégico optando por não responder imediatamente a uma crise, mantendo assim calma e controle.

“O silêncio pode ser o maior aliado de um líder que entende o momento de ouvir e refletir antes de agir.” (Blanchard)

Boas práticas para o líder incluem:
  1. Observar os padrões comportamentais: Quem costuma falar e quem opta por se calar? Alterações nesses padrões podem ser indicadores de mudanças emocionais ou insatisfações;
  2. Fazer perguntas abertas: “Notei que você ficou em silêncio sobre esse tema. Gostaria de compartilhar algo?”;
  3. Criar segurança psicológica: Colaboradores se sentem mais confortáveis para falar quando sabem que não serão julgados ou reprimidos.

Um líder pode, por exemplo, notar que um colaborador excelente se cala em reuniões e descobre, em uma conversa, que ele teme expor ideias novas. Uma boa opção, por exemplo, é solicitar que todos enviem ideias previamente para promover mais confiança na exposição.

Por outro lado, como já dito, o silêncio pode ser uma fonte de criatividade e insights poderosos, além de ser uma ponte para criar relacionamentos mais sólidos e processos mais eficazes ao fortalecer a comunicação.

Então, por que não usar o silêncio organizacional efetivamente? Alguns rituais podem ajudar:
  1. Uso consciente do silêncio: Treinar líderes para usar pausas como ferramentas de gestão;
  2. Silêncio nas reuniões: Estabelecer momentos de reflexão antes de decisões importantes;
  3. Leitura do silêncio: Aprender a interpretar o silêncio como feedback em interações interpessoais;
  4. Treinamento em comunicação não verbal: Ensinar colaboradores a interpretar gestos, posturas e expressões que acompanham o silêncio;
  5. Feedback contínuo: Criar canais onde o silêncio não seja a única opção para expressar discordâncias ou insatisfações;
  6. Cultura de escuta ativa: Valorizar pausas e reflexões durante as interações;
  7. Reuniões silenciosas: Em vez de discutir verbalmente, os participantes escrevem ideias e compartilham digitalmente antes de debater;
  8. Pausas estratégicas: Intervalos planejados para reflexão durante as reuniões podem gerar melhores ideias e evitar decisões precipitadas;
  9. Dias de silêncio: Algumas empresas oferecem dias de trabalho sem reuniões, promovendo foco e introspecção.

Alguns dados interessantes mostram o valor do silêncio organizacional. Um estudo de 2016 publicado no Journal of Business Communication revelou que reuniões em que os líderes permitem pausas silenciosas têm 30% mais ideias geradas. Segundo a Harvard Business Review, 48% dos profissionais consideram o silêncio desconfortável em ambientes de trabalho, mas 72% afirmam que ele é necessário para reflexão e criatividade.

Silêncio não é o vazio.

Pelo contrário, ele é sempre preenchido, seja com sentimentos e emoções – boas ou ruins – seja com ideias, contemplação ou apenas com o encontro interior. Saber interpretar o silêncio para dar um novo sentido, criando mais confiança, participação, paz e alegria, sem dúvida, pode melhorar, e muito, a sensação de pertencimento no ambiente organizacional.

Gostou do artigo?

Quer saber mais sobre como o silêncio pode ser utilizado de forma estratégica para promover segurança psicológica, criatividade e introspecção no ambiente organizacional? Então, entre em contato comigo. Terei o maior prazer em falar a respeito.

Isabel C Franchon
https://www.q3agencia.com.br

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Isabel C Franchon, Coach desde 2008, atua com o Desenvolvimento Profissional e Pessoal voltados para a Carreira, Competências, Liderança, Comunicação Interpessoal, Compliance & Ética e Coaching de Times. Facilita Workshops, Treinamentos e Oficinas em empresas de médio/grande porte através de empresa própria e em parceria com Consultorias de DH. Graduada em Jornalismo, tem MBA em Desenvolvimento Humano de Gestores, pela FGV; Pós-graduação em Transdisciplinaridade em Saúde, Educação e Liderança, pela Universidade Holística Internacional; Especialização em Marketing pela MM School; Formação em Compliance Anticorrupção, pela LEC; Especialização em Metodologia QEMP para empreendedores, pela Clinton Education. Fez formação em Master, Executive, Leader & Business Coach, pelo Behavioral Institute. Certificada em Positive Coaching Com Robert Dilts e Richard Moss. É membro do International Coaching Council (ICC) desde 2008.
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