A Proliferação da Mentoria: Um Olhar sobre as Práticas e Seu Futuro
Nos últimos anos, a prática da mentoria parece ter ganhado os holofotes como uma solução inovadora para o desenvolvimento de pessoas e organizações, porém vale lembrar que ela não é exatamente uma novidade.
Durante décadas, empresas já utilizavam essa abordagem de forma estruturada, promovendo a troca de experiências entre profissionais mais experientes e aqueles em início de carreira. Era comum que líderes seniores assumissem o papel de mentores, guiando jovens talentos ao longo de sua jornada profissional, oferecendo conselhos sobre decisões de carreira e compartilhando lições aprendidas ao longo de suas próprias trajetórias.
Além disso, fora do ambiente corporativo, muitos de nós também já vivenciamos a mentoria de maneira mais informal. Havia sempre aquele profissional que admirávamos — alguém que inspirava pela competência técnica, pela sabedoria prática ou pela habilidade de liderar com maestria. Não o chamávamos formalmente de “mentor”, mas essas relações tinham um impacto transformador em nossas escolhas e aprendizados.
O que mudou, então, para que hoje a mentoria esteja sendo tratada como uma “grande novidade” no mundo do desenvolvimento humano? E, mais importante, por que a prática, que sempre foi marcada por confiança e respeito mútuo, está sendo popularizada de forma tão indiscriminada, muitas vezes sem critérios claros ou preparo adequado?
Essa reflexão nos convida a revisitar as origens e o verdadeiro propósito da mentoria, ao mesmo tempo em que nos alerta para os desafios que sua proliferação desordenada pode trazer para o mercado e para as pessoas. Afinal, estamos preservando a essência da mentoria ou diluindo seu valor em meio a modismos e promessas fáceis?
Acompanhando essa tendência, não é incomum encontrar ofertas de “mentorias” que prometem resultados instantâneos, reduzindo a prática a um produto de consumo rápido. Este cenário nos desafia a refletir sobre a essência da mentoria, a responsabilidade de quem a oferece e o cuidado necessário por parte de quem busca por orientação.
Mentoria e Coaching: clareza nas definições
A diferença entre mentoria e coaching precisa ser compreendida para que ambos sejam devidamente valorizados. A International Coaching Federation (ICF) define coaching como uma “parceria com clientes em um processo criativo e instigante que os inspira a maximizar seu potencial pessoal e profissional.” Trata-se de um processo baseado em perguntas poderosas, em que o coach facilita o autoconhecimento e o desenvolvimento de soluções criadas pelo próprio cliente.
Já a mentoria é um processo de compartilhamento de experiências. O mentor oferece orientações baseadas em sua trajetória profissional, ajudando o mentee a navegar em situações específicas, acelerar aprendizado e aumentar o engajamento. Segundo um estudo da Gallup, a mentoria é especialmente eficaz para aumentar o engajamento, pois fortalece o senso de pertencimento e apoio no ambiente de trabalho.
No entanto, é necessário ter cuidado com profissionais que frequentemente mudam de abordagem ao sabor da próxima “solução milagrosa”. Tais profissionais podem comprometer a credibilidade das práticas de desenvolvimento ao tratar métodos sérios, como mentoria e coaching, como modismos passageiros.
Essa superficialidade pode desvalorizar tanto a profissão quanto os resultados que estas práticas são devidamente capazes de oferecer quando realizadas com seriedade e compromisso. Para gerar valor, é importante que profissionais escolham suas áreas de atuação com base em competências reais e experiência comprovada, ao invés de simplesmente seguirem as tendências do momento.
O Impacto da Mentoria no Desenvolvimento de Lideranças e Aceleração de Carreiras e Negócios
A mentoria exerce uma influência poderosa no desenvolvimento de lideranças, transformando não apenas indivíduos, mas também acelerando carreiras e impulsionando negócios. Ao proporcionar um espaço seguro para troca de conhecimentos e experiências, ela ajuda líderes a desenvolverem e aprimorarem habilidades de liderança.
Para as carreiras, a mentoria atua como um catalisador, guiando profissionais em fases críticas de transição e ajudando a navegar desafios complexos. Mentores experientes, por suas jornadas ou áreas de conhecimento, oferecem insights valiosos que podem ser decisivos para o crescimento pessoal e profissional.
No âmbito dos negócios, a mentoria fomenta uma cultura de inovação e aprendizado contínuo, estimulando o desempenho e a competitividade organizacional. Ela encoraja a criação de redes profissionais robustas e promove a troca de melhores práticas, permitindo que as empresas se adaptem rapidamente às mudanças do mercado e capitalizem novas oportunidades.
A proliferação desenfreada: riscos e desafios
Apesar de seu potencial, a popularização indiscriminada da mentoria traz riscos. Estudos da Harvard Business Review apontam que programas de mentoria mal estruturados ou liderados por mentores despreparados podem gerar efeitos negativos, como a perda de confiança e o desengajamento. Além disso:
- Falta de padronização: A ausência de critérios formais e de qualificação, enfraquece a qualidade e a credibilidade do mercado.
- Promessas exageradas: Muitas ofertas apresentam resultados irreais, desviando-se da essência da mentoria.
- Confusão com coaching: A banalização da terminologia dilui a distinção entre essas práticas, prejudicando ambas.
Para onde vamos? O Futuro da mentoria
Estudos da Deloitte sobre tendências de desenvolvimento humano indicam que a próxima fase das práticas de desenvolvimento deve integrar a mentoria a outras abordagens, como coaching, treinamento, facilitação e tecnologias de inteligência artificial. Alguns caminhos apontados incluem:
- Facilitadores de Aprendizado Personalizado: Mentores que atuam como guias em jornadas de aprendizado contínuo, adaptando as orientações às necessidades individuais.
- Comunidades de Mentoria: Plataformas colaborativas onde grupos de pessoas trocam conhecimentos de forma estruturada, promovendo aprendizado coletivo.
- Integração tecnológica: Ferramentas baseadas em inteligência artificial, podem complementar a mentoria, oferecendo análises personalizadas e insights comportamentais.
Escolhendo com consciência
Se você busca um programa de mentoria, é importante ser criterioso. Estudos da Gallup mostram que a qualidade da relação mentor-mentee é o maior indicador de sucesso. Algumas perguntas a serem feitas:
- O mentor tem vivência relevante para os seus desafios?
- Ele adota uma abordagem estruturada e ética?
- Sua experiência, vivência e conhecimento o habilitam a apoiá-lo na busca de seus objetivos?
Por outro lado, para quem deseja atuar como mentor, recomendo uma autorreflexão: “Estou preparado para mentorar com responsabilidade e profundidade?”
A mentoria não é apenas uma transferência de conhecimento; é uma prática que exige escuta ativa, empatia e a capacidade de adaptar-se ao contexto do mentee.
Por fim, a mentoria, quando bem utilizada, é uma ferramenta poderosa para conectar experiências, desenvolver lideranças e acelerar o crescimento de carreiras. No entanto, precisamos resguardar sua essência e evitar que sua banalização comprometa o impacto que pode gerar. O futuro das práticas de desenvolvimento humano requer seriedade, intenção e, acima de tudo, compromisso com a transformação.
Como profissionais, líderes ou mentores, cabe a nós decidir se seremos parte do ruído ou do legado. O que você escolherá?
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Quer saber mais sobre como a mentoria pode manter sua essência e relevância diante de sua proliferação e popularização crescente e dos desafios do mercado atual? Então, entre em contato comigo. Terei o maior prazer em responder.
Salete Deon
Especialista em Gestão de Carreira e Desenvolvimento de Lideranças, Segurança Psicológica de Times pelo IISP, Coach Executiva, Palestrante, Top Voice Linkedin
https://www.linkedin.com/in/salete-deon/
salete@unblur.com.br
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