O Boicote Pessoal e a Cultura do “Sempre Mais”
Vivemos uma era movida pela cultura do “sempre mais”. A busca incessante por resultados, tanto no âmbito pessoal quanto profissional, é celebrada como virtude no ambiente corporativo e bastante associada ao sucesso. Metas audaciosas e produtividade sem limites transformaram-se em símbolos de determinação e ambição, enquanto a pausa e o equilíbrio são, por vezes, vistos como forma de fraqueza ou falta de comprometimento. Esse contexto gera debates sobre benefícios e riscos dessa abordagem, além de levantar a questão: existe meio-termo saudável?
O filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860), em sua profunda análise da natureza humana, oferece explicação contundente para o nosso constante “querer mais”, mesmo diante de conquistas aparentemente satisfatórias. Para ele, a raiz dessa insatisfação reside na própria vontade de viver. Uma força cega e implacável que impulsiona todos os seres para a existência e a perpetuação. Essa vontade, ao se manifestar no ser humano, se torna consciente e gera um desejo insaciável por algo mais, por novas experiências e posses. Assim, por mais que alcancemos nossos objetivos, a vontade sempre nos impulsionará a buscar novos horizontes, perpetuando um ciclo de desejo e frustração que caracteriza a condição humana.
Neste espaço, pretendemos explorar os prós e contras dessa busca constante por crescimento, os paradoxos dessa mentalidade e os possíveis caminhos para um equilíbrio sustentável. A referência ao boicote pessoal decorre do fato de que, quase sempre inconscientemente, a ansiedade de alcançar “sempre mais” tem sido associada ao aumento de distúrbios como depressão e transtornos alimentares. Um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelou que o burnout afeta milhões de pessoas globalmente. E é uma das principais causas de doenças relacionadas ao trabalho.
A ambição é o motor que nos impulsiona a sair da zona de conforto, superar limites e alcançar objetivos que parecem distantes.
Ter metas desafiadoras pode trazer uma série de vantagens, tais como crescimento pessoal e profissional, motivação e sentimento de propósito, e até mesmo, uma incrível capacidade de ser resiliente. Trabalhar em direção a algo maior dá sentido às nossas ações diárias. Saber que cada passo está nos aproximando de um objetivo desejado pode ser extremamente motivador, gerando assim a sensação de realização e propósito.
Apesar desses benefícios, há um lado sombrio na busca incessante pelo “sempre mais”. A metáfora do boicote fica representada pelo esgotamento dos recursos emocionais, físicos e mentais. Quando a busca pelo “sempre mais” se torna um hábito incontrolável, o custo pode ser alto, trazendo ansiedade constante, esgotamento físico e mental, insatisfação e perda de sentido de vida, ou ainda, até mesmo impacto nos relacionamentos. Vale lembrar, longas jornadas de trabalho e foco excessivo em metas profissionais deixam pouco espaço para descanso, lazer e momentos com familiares e amigos.
Embora a sociedade frequentemente glorifique o sucesso associado ao esforço ininterrupto pelo “sempre mais”, os paradoxos dessa mentalidade tornam-se evidentes. Como já afirmava Schopenhauer, uma vez alcançada a meta definida, surge outra imediatamente. Por outro lado, a falta de contentamento duradouro por alcançar a meta, criará uma sensação de vazio, como se o esforço nunca fosse suficiente para trazer felicidade. E muitos esquecem dos estudos mostrando que produtividade e criatividade diminuem quando se trabalha horas excessivas. Em vez de resultados excepcionais, o esforço contínuo pode levar à mediocridade devido à fadiga.
Dado haver essa realidade e o impacto negativo da mentalidade do “sempre mais”, é essencial buscar um equilíbrio saudável entre a ambição e o bem-estar.
Especialistas apontam algumas estratégias para alcançar esse equilíbrio, tais como definir metas realistas e significativas, priorizar metas alinhadas aos seus valores e interesses, estabelecer limites e não abrir mão do autocuidado, celebrar (reconhecer e valorizar) todas as conquistas, concentra-se em um autoconhecimento à medida em que as conquistas aconteçam, bem como reduzindo a sensação de fracasso ao enfrentar contratempos.
A cultura do “sempre mais” é tanto uma fonte de inspiração quanto uma armadilha perigosa.
Embora a ambição tenha seus méritos, a busca incessante pelo crescimento pode levar ao esgotamento e à insatisfação. Encontrar um equilíbrio entre metas desafiadoras e os devidos cuidados com a saúde física e mental é essencial para se manter uma vida sustentável e significativa. Refletir sobre a metáfora de boicote é um convite para reavaliar prioridades e adotar para si próprio uma abordagem mais humana e equilibrada ao sucesso. Afinal, o verdadeiro triunfo não reside em conquistas incessantes, mas na capacidade de aproveitar o caminho enquanto construímos o futuro que desejamos alcançar.
Por fim, e voltando a Schopenhauer, ele construiu uma analogia de a vida é como uma “prisão”, destacando a “vontade” e a “ambição” como forças que nos impulsionam a novas conquistas, gerando constante insatisfação. E ele lembra que a arte, a filosofia e a contemplação estética podem oferecer alívio temporário nesse ciclo de sofrimento. O artigo “A arte é uma redenção” (clique aqui para ler) tem abordagem que facilita ao público em geral entender a complexidade das ideias do filósofo alemão.
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