fbpx

Cirurgia e Poesia: A Conexão Entre Arte e Medicina

A cirurgia é mais do que técnica: é arte, ciência e emoção. Como um maestro conduz uma sinfonia, o cirurgião harmoniza precisão, criatividade e sensibilidade para transformar vidas. Descubra essa conexão entre a arte e a medicina.

Cirurgia e Poesia: A Conexão Entre Arte e Medicina

Cirurgia e Poesia: A Conexão Entre Arte e Medicina

Toda cirurgia requer cuidado, atenção e preparo.

Uma equipe em sintonia, materiais selecionados, paciente previamente orientada sobre o pré e o pós-operatório, além do diagnóstico preciso e do melhor tratamento possível decidido.

Tal qual uma orquestra, notas e pontos, cortes e sons, fios e nuances, instrumentos e mãos, cordas e luzes, vozes e toques, teclas e técnicas, funcionam em harmonia, pessoas em sintonia, música e cura.

A cura através das mãos, da mente e do coração. Sim, todo bom cirurgião opera com o coração. Com a alma, o sentimento, a paz que transcende quando está ali concentrado e focado, entregue, entendendo cada passo da patologia, visualizando cada sinal daquele corpo, percebendo cada dificuldade e vencendo os desafios da anatomia e suas perfeitas imperfeições.

Como uma luz que brilha no fim do túnel, começa suave e vai se intensificando, os desafios são superados, mãos e dedos ágeis e habilidosos, bem treinados, olhares atentos, expressões faciais ora tensas, ora leves, desbravando os mistérios da natureza humana, desafiando a lógica da física, dos vasos sanguíneos desviados, dos nervos não seccionados daqueles que estão às vezes com os “nervos à flor da pele”, mas com o cérebro no comando, astuto, tenaz e calmo.

O controle das emoções é fundamental, a destreza das mãos essencial e o desejo genuíno do bom resultado, o principal.

A história da cirurgia, entretanto não é tão poética assim, ou pode-se ainda atribuir um toque obscuro à lá Poe às poesias, pois eram procedimentos às escuras, em anfiteatros lotados de aprendizes e curiosos, que traziam sujeira e fuligem das ruas além do desconhecimento das técnicas de assepsia e antissepsia, o que levava médicos ao centro das cirurgias com aventais sujos de sangue em mesas de madeira igualmente assustadoras.

Restos mortais e de doenças podiam ser vistos e sentidos pelo odor que exalava. Além dos gritos de dor que se misturavam aos cochichos do público ávido por visões assustadoras e ao mesmo tempo reveladoras.

Quando então houve em 1846 a primeira utilização pública do éter para que o paciente não sentisse dor, o então dentista Willian T. G. Morton) utilizou sua técnica de anestesia e finalmente foi demonstrado ali um resultado promissor. A partir do qual pode-se aumentar o número de cirurgias e curas, pois antes muitos mantinham tratamentos clínicos por receio de infligir mais danos indicando a cirurgia.

Outros tantos na mesma época tratavam de pacientes na Londres Vitoriana por meio de conversas e cartas, talvez ali tenhamos os primórdios da telemedicina. Mas, ainda havia um outro desafio: as mortes por infecção pós-operatória que eram taxas alarmantes nos hospitais da época, muito maiores do que nos tratamentos domésticos.

Pesadelos de médicos e pacientes, as infecções inclusive puerperais, mais tarde com o uso de luvas de borracha e o hábito de lavar as mãos é que se pôde notar a redução das mortes e das infecções.

Em se tratando de humanidade e sofrimento, as cirurgias e experiências promovidas em nome da ciência beiravam a loucura, nos tempos de Napoleão a Hitler.

Aberturas de crânios e corpos. Testes com medicações e toxinas. Equívocos científicos que muitas vezes acabavam acertando e tantas outras prejudicando. Poesias de terror. Cenas macabras. Ideais errôneos em nome da Medicina.

Muitos se esqueciam ou ainda hoje vemos profissionais que negam as célebres frases de Hipócrates, pai da medicina, pois foi o primeiro a estabelecer a medicina como profissão baseada em conhecimentos científicos, muito além de superstições e crenças populares. Viveu entre 460aC e 370aC. “Primum non nocere” – primeiro não prejudicar – faz parte do Juramento de Hipócrates que é dito e repetido pelos estudantes ao pegarem seus diplomas. Ou seja, o princípio da não maleficência, um dos principais preceitos da bioética.

Se pararmos para analisar as frases de Hipócrates e o Juramento em si, verdadeiras poesia e ensinamentos de arte e vida estão ali.

“Há, verdadeiramente, duas coisas diferentes: saber e crer que se sabe. A ciência consiste em saber; em crer que se sabe está a ignorância.”

“A vida é curta, a arte é longa, a oportunidade é fugaz, a experiência enganosa, o julgamento difícil.”

“A cura está ligada ao tempo e, às vezes, também, às circunstâncias.”

Acredito que estudar medicina e o corpo humano, é um aprendizado de arte, vide artistas e anatomistas como Michelangelo e Andreas Versalius que misturam anatomia às obras de arte as tornavam lindamente reais e admiráveis. Livros e esculturas, pinturas e escritas. Saber e entender a anatomia humana requer, sem dúvida, uma visão poética da vida.

Operar esta máquina magica como eu disse em outro texto, requer conhecimento, técnica, treinamento e inspiração.

Antes de cada cirurgia, na noite anterior, me permito me concentrar, reler, estudar, pensar e planejar cada passo da técnica que utilizarei no dia seguinte. Conto com o apoio de um ou dois colegas a depender da cirurgia apara que todo o processo ocorra da melhor forma possível, mesmo em casos de intercorrências.

Traço estratégias para os desafios e busco inspiração para o caminho que irei percorrer até o destino final, a cura, ou a melhora daquela doença.

“Não deixemos passar despercebido o outro grande fato de que a ciência não apenas constitui a base da escultura, da pintura, da música e da poesia, mas de que ela própria é poética(…)
É frequente aqueles que se dedicam a pesquisas científicas nos mostrarem que percebem não menos vividamente, mas de maneira mais vívida que outros, a poesia de seus temas.”
(Hebert Spencer – filósofo, biólogo e antropólogo inglês)

Desde a faculdade a cirurgia me encantou, e durante sua execução, entro em um estado meditativo de paz e amor. Paz espiritual por exercer meu trabalho com amor. Sinto um prazer profundo em operar e mais ainda em poder cuidar de pessoas, seus corpos e suas aflições. Em minha cabeça toca uma música, em minhas mãos toco em fios, tesouras e pinças como em teclas ou cordas, com delicadeza e firmeza, com precisão e cuidado.

Como poderia definir essa sensação, senão como uma poesia?

Viva sob minha pele, intensa em minha alma e doce em meu coração.

Gostou do artigo?

Quer saber mais sobre a conexão entre arte e medicina? Como a cirurgia combina ciência, arte e emoção para transformar vidas? Então, entre em contato comigo. Terei o maior prazer em conversar a respeito.

Prazer, Clarissa!

Clarissa Marini
Ginecologista, Sexóloga & Escritora
CRM 11468-GO
https://www.instagram.com/clamarini/

Confira também: A Relação Entre o Cérebro e a Saúde: Muito Além do Corpo

Palavras-chave: cirurgia e poesia, arte e medicina, relação entre arte e medicina, relação entre medicina e arte, conexão entre arte e medicina, história da cirurgia, juramento de Hipócrates, cirurgia como forma de arte, a poesia na medicina, a relação entre ciência e arte, juramento de Hipócrates na medicina, a evolução da cirurgia moderna
Clarissa Marini é ginecologista, sexóloga e escritora. Especialista em Uroginecologia e Reposição Hormonal. Autora de Poetizando o Sexo e Inenarrável. É mãe, poeta e amante da vida. Formada há 17 anos, escuta e ausculta almas e corações de suas pacientes.
follow me
Neste artigo


Participe da Conversa